domingo, 6 de janeiro de 2008

Onde acharei lugar tão apartado

Onde acharei lugar tão apartado
E tão isento em tudo da ventura,
Que, não digo eu de humana criatura,
Mas nem de feras seja frequentado?

Algum bosque medonho e carregado,
Ou selva solitária, triste e escura,
Sem fonte clara ou plácida verdura,
Enfim, lugar conforme a meu cuidado?

Porque ali, nas entranhas dos penedos,
Em vida morto, sepultado em vida,
Me queixe copiosa e livremente;

Que, pois a minha pena é sem medida,
Ali triste serei em dias ledos
E dias tristes me farão contente.

Luís de Camões

3 comentários:

  1. Dora,
    beleza de poema do Camões. Recebi, para resenhar, um livro editado pela 7 letras. Chamdo Camões entre seus contemporâneos. Uma beleza. Dá, como nesse - Selva solitária - êmulo da selva slvagem? para perceber o processo de composição da imitatio. Ler Camões e Wallace Stevens é, então uma maravilha! Bem vinda às postagens

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  2. querido amigo, acho que vou gostar disto. neste poema, confesso, o que me seduziu foram as belas imagens de uma desejada solidâo. nem de feras frequentada...

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  3. Dora querida, quem enviou e-mail dizendo ter gostado dos poemas foi o Luiz. Essa coisa parece que funciona, né?

    Beijo

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