sábado, 30 de outubro de 2010

Didascália 10

sentindo-se indignado pela intromissão do Papa nestas eleições, à maneira de Gregório Matos Guerra, poeta barroco, libertino e baiano, o autor retruca
ó Papa
por que te metes
onde não papas?

elesbão ribeiro
30/10/10

Urania no Curta Cinema 2010

Urania no Curta Cinema 2010

http://www.curtacinema.com.br/festival/filmes-selecionados/filme.asp?id=134

URÂNIA PANORAMA CARIOCA > PANORAMA CARIOCA 3


Odeon Petrobras > 1/11/2010 - 15h30

Caixa Cultural 2 > 6/11/2010 - 19h

Ponto Cine > 4/11/2010 - 16h Ano do festival: 2010

Programa: PANORAMA CARIOCA 3

Diretor: Felipe Rodrigues

Gênero: EXP

Duração: 5min

Cromia: cor/ p&b

Pais: Brasil Brazil

UF: RJ

Ano: 2009

Sinopse: Da janela de sua casa, um homem observa os astros.

Produção: Felipe Rodrigues

Cia Produtora: Maria Gorda Filmes

Fotografia: Felipe Rpdrigues

Direção de Arte: Clarice Pamplona

Edição: Felipe Rodrigues

Som: Felipe Rodrigues

Elenco: Julia Grillo, Tiago Martins

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Cristo de Eugênio

Fui outro dia a Barbacena visitar meu pai e não sei por que razão lembrei-me de Eugênio Hirsch. Talvez por ele me fazer vestir um casaco contra o frio. Sempre que Eugênio aparecia lá em casa – fizesse frio ou sol – pedia que eu vestisse um casaco contra uma possível gripe, com seu sotaque austro-portenho.

Talvez porque me pegaram as lembranças da viagem que fizemos a casa de meus pais, quando Eugênio levou de presente para meu pai o único Cristo realmente verdadeiro que conheci em minha vida. Um Cristo no madeiro, itifálico preso a sua cruz. Esse Cristo pânico olhava Madalena?

(oswaldo martins)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Foi-se o que era doce

Foi-se o que era doce
(João Bosco/ Aldir Blanc)

Me descaderei de tanto xaxá
No bobó de noivado da fia do Ribamar
Vi quando cheguei as moça de lá
Cuzinhando uns inhame com os óio de arrevirá
Buzanfã de flor, chulapa de mel
E a covanca soprando um sussurro descido do céu
Tinha gago, anão, gente de azar
Com a espinhela caída
Pedindo pro inhame estalá

Jabaculê, virge, espetacular
Assunto assim às veis é mió calar
Mas des´que eu provei do bobó
Eu to roxo pra comentar
Sanfona, guitarra, batuque, berreiro e veja você
O vira-desvira o caminho da roça e o balance
Inhame e bobó, frango asado, cus-cus e maracujá
Puçanga, cobreiro, retreta, jarguete e tamanduá
Foguete beijando as estrela e as moça lá

Zé pinguilim, Chico do pincel!
Paqueraro Lazinha que era muié de Xexéu
Serafim três perna resolveu chiá
Pois muié não é farinha que vai pra onde venta
Deu-se um sururú de saculejá
Tudo dando e levando
Enquanto sem se mancar
Pedro gargarejo com a mão no manjar
Preparava um caldinho pra noiva gargareja

Jabaculê, virge, espetacular
Assunto assim às veis é mió calar
Mas des´que eu provei do bobó
Eu to roxo pra comentar
Sanfona, guitarra, batuque, berreiro e veja você
O vira-desvira o caminho da roça e o balance
Inhame e bobó, frango asado, cus-cus e maracujá
Puçanga, cobreiro, retreta, jarguete e tamanduá
Foguete beijando as estrela e as moça lá

Fui acudi um que tava no chão
Tomei uma no ouvido de adevorvê o pirão
Foi um cimitério, foi um carnaval
De paixões confundidas quem é que tira a moral
Pra ser sem-vergonha, basta ser decente
E quem vende saúde, possivelmente é doente
Foi-se o que era doce, ninguém quer contar
Quanto macho afinou-se na festa do Ribamar.

domingo, 24 de outubro de 2010

Bolinha de papel

Bolinha de Papel

Só tenho medo da falseta
Mas adoro a Julieta, como adoro
a Papai do Céu
Quero seu amor minha santinha
Mas só não quero que faças de bolinha de papel
Tiro você do emprego
Dou-lhe amor e sossego
Vou ao banco e tiro tudo pra você gastar
Posso oh Julieta lhe mostrar a caderneta
Se você duvidar.

(Geraldo Pereira)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Fragmentos para poesia

para o andré capilé

1

o riso é leve
tanto [ ] tocassem as mãos
o dorso de uma gazela

2

coroada de gramilvos
alice
a doce puta

3

cloe comigo vem
[ ]
o rio passa

4

tu[ ] flor[ ]
paixão
apagada

lampari[ ]
[ ] noite

5

os esponsais de lídia, a dórica
cantou o [ ] o risco
do bordado
com mel e ambros[ ]
sobre a cama

6

com tirso dio[ ]
segura a cabeça de penteu

ai de mim h[ ]mem
como os outros

7

[ ]
grinalda sob o colo
da moça
[ ] dança
sem vergonha

8

iracema
num leito de fo[ ] verdes
es[ ]ra os beiços
amadeirados [ ] já[ ]
o célebre mulato

9

pernas [ ] bonde
das meninas que dançam
[ ]as maravilhas

10
manhãs destroçam ramos
com os raios do sol


(oswaldo martins)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Colóquio Fiama Hasse Pais Brandão

Programa
Colóquio – Fiama Hasse Pais Brandão


Casa Fernando Pessoa - 29 e 30 de Outubro de 2010

29 de Outubro
1ª Sessão - Manhã

10.30 – Recepção aos Conferencistas
11.00 – Intervenção Inaugural da Senhora Vereadora da Cultura,
Dra Catarina Vaz Pinto
11.15 - Fernando J. B. Martinho «Fiama: um canto de epifania»
Joana Matos Frias «Às vezes as coisas dentro de nós: figuras inconsúteis no
teatro da memória»
Manuel Gusmão «A nomeação lírica e o Amor pelos Livros»
Moderação de Inês Pedrosa
12.15 - Debate
12.30 – Intervalo para almoço

2ª Sessão – Tarde
14.30 - Conferência por Jorge Fernandes da Silveira «grafia, epigrafia,
Grafiamas»
Apresentação de Inês Pedrosa
15.15 – Mesa: Testemunhos
Nuno Júdice
Fernando Pinto do Amaral
Luís Quintais
Moderação de Filipa Leal
16.15 – Debate
16.45 – Pausa para café
17.00
Maria de Lourdes Ferraz «Uma proposta imodesta: a Poética de Fiama.
Breves apontamentos»
Pedro Eiras «Fiama: a escolha da terra»
2
Rosa Martelo «Ideações da imagem na poesia de Fiama»
Moderação de Filipa Leal
18.00 - Debate
18.30 – Lançamento da antologia «Âmago», coordenada e apresentada por
Gastão Cruz, com a participação dos colaboradores na organização da obra
(edição Assírio & Alvim)

30 de Outubro
1ª Sessão – Tarde
14.30 – Mesa: Testemunhos
Gastão Cruz
Maria Teresa Horta
Armando Silva Carvalho
Moderação de Filipa Leal
15.30 – Debate
16.00
Maria do Céu Fialho «Fiama e a Grécia: percurso em torno da vida»
Nuno Júdice «O contar em Fiama»
António Carlos Cortez «Novas visões de Fiama»
Moderação de Filipa Leal
17.00 – Debate
17.30 – Pausa para café
17.45 – Exibição de um DVD com leitura de poemas por Fiama
18.15 – Conferência final, por Eduardo Lourenço
Apresentação de Inês Pedrosa
19.00 – Encerramento: leitura de poemas por Luísa Cruz e Luis Miguel
Cintra

Menos que haikais

1

curta decifração
afazer do quase
ou nada

2

lenta prosa
bordado de sangue
unha do pé

3

ponteio de agulha
sobre a pele
violar da tarde

4

um mar e o solstício
palavra que se diz
solar do não

5

paloma:
roxa unha sobre
lilases havaianas


6

o ar a tarde voam
ventos nos cabelos
loa da mulher

ao mar

7

leve lutas
levedura de cerveja
a pele nua da moça

a recompor ostras
de azuis-violeta

8

o biquíni levemente
como um manto
abaixo do perolado

umbigo

9

a praia sagra
a carne dura no sal
das ruas

10

de esteiras e arandelas
nuas as velas no sem cais

navegam


(oswaldo martins)

sábado, 16 de outubro de 2010

Livrarias

Em Barbacena, procurei um livro, na única livraria da cidade - que nem é bem uma livraria, mas uma papelaria. Não havia. Busquei uma estante de poesia - dois livros. Como pude tornar-me escritor com esta penúria? Nenhum dos poetas conhecidos do século XIX e XX. A aridez de livros é um retrato deste país iletrado e de doutores que buscam a todo custo manter o status quo de sua ignorância e da alheia?

(oswaldo martins)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

VOTO EM DILMA

Amigos,

o voto em Dilma é necessário. Depois de ter passado por diversos governos, incluindo os dos militares e os da coorte de salteadores, que tomou de assalto os anseios populares mais legítimos, deparei-me com um governo que, quer queiram ou não, abriu uma porta para a esperança. Se o governo do Presidente Lula não foi a festa que desejávamos, ao menos serviu para acender algumas centelhas contra o conservadorismo. A festa ainda há de vir.

A sociedade contemporânea delineia-se por um mergulho neste conservadorismo. Causa-me tristeza que temas tão delicados e importantes como o do aborto, o das células tronco, tenham caído em mãos religiosas e, mais que religiosas, fanáticas, travestidas de modernidade, como no ambíguo discurso do Partido Verde. Ser moderno, ironicamente, é defender as teses das vastas religiões que levam parte do eleitorado – formado por jovens, meu deus! – a assumir, com soberba e arrogância, uma política calcada no atraso religioso, que os verdes vendem como moderna.

Qual a diferença entre o discurso arrogante de um monsenhor, de um bispo, de um pastor e o discurso de Marina? A fala da candidata derrotada no primeiro turno trazia qualquer coisa de deletério, seja pelo falso ar de vitória – a que a sempre atenta mídia ampliou, seja pela ausência falta de modéstia da candidata que saiu das urnas como se ungida por um deus qualquer. Um deus tão cruento quanto o que castigou Caim, um deus tão cruento quanto o que sustentou uma mentira terrível – talvez a mais terrível de todas as nossas civilizações – que foi fazer padecer Abraão como assassino de seu próprio filho.

Assim como este deus – ocidental, cristão – neoliberal? – A candidata Marina quer fazer-se valer de seus seguidores, ou diria torquemadas verdes, para impingir, junto aos discursos a que se aliou – ou não foi aliança o que fez? – com os partidários do candidato Serra.

Da experiência do PSDB na presidência, que se viveu durante um longo período, guardo a lembrança infausta da criação dos professores-pedintes do magistério público federal enquanto as burras das universidades particulares se enchiam com o dinheiro dos incautos, que ali preferiam estudar a ter de participar de uma universidade livre e autônoma. Outro ponto do conservadorismo que atinge nossos jovens, adeptos do currículo mínimo, como se está a ver.

Por essas razões, o voto em Dilma é uma necessidade. A necessidade da festa democrática que representa os anseios populares mais vigorosos de que se tem notícia, desde o período em que a festa democrática, com suas reivindicações, foram interrompidas pelos golpes que sucessivamente, militares e setores da sociedade civil e conservadora impôs aos que desejam ver uma nação mais integrada e insubmissa frente todo desejo que não seja o seu.

(oswaldo martins)

Declaração de voto do Aldir Blanc


Da Natureza - Parmênides

B 18
Quando o macho e a fêmea juntos misturam a semente de Vênus
nas veias, a potência formadora, a partir dos sangues diversos,
cuidando a medida, forja um corpo bem constituído.
Pois, se as potências lutam na mistura seminal,
então não fazem uma unidadeno corpo misturado e, furiosas,
atormentam pela dupla seara o sexo nascente.

(Parmênides - Tradução - Fernando Santoro)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

antiodepara as burguesinhas fúteis

antiode para as burguesinhas fúteis

as burguesinhas fúteis pensam que descobrem a américa
quando descobrem a disney

quando descobrem o sexo
pensam no pato donald ou ainda – o que é pior – pensam e repensam no príncipe encantado da bela adormecida – não se lembram dos irmãos metralha posto que os irmãos não possuem o fascínio de que tais burguesinhas necessitam e ademais sempre levam a pior

quando descobrem – se é que um dia de fato descobrem – a ação demolidora de um rimbaud ou as putas de baudelaire – já é tarde demais; adotam, pois, o discurso e se transvestem de pequenas moças úteis – mas denotam no corpo na atitude com que pegam o garfo não a fome dos miseráveis não a voracidade dos insaciados que sabem da vida o que a vida é, pegam o garfo a faca com o denodo das madames que são.

protegidas pela família as moças burguesas agem e pensam que agem como as desvalidadas quando de sobreguarda há carteira do pai e o deus me acuda das mães que rezam e imprimem sua marca cristã nas cabecinhas ocas como indeléveis marcas d’água que nos fazem descobri-las falsificadas e quando buscamos cobri-las como éguas no pasto da luxúria oferecem-nos os altares os compromissos e filhos em penca para o calvário triste do mercado

não trepam tais moçoilas como se trepassem
não trepam imbuídas do prazer
fazem cálculos
e pensam que fazem sexo
quando imploram amor
e dieta

para melhor enganarem a carne
para melhor iludirem os incautos soltos
também burguesinhos fúteis
nos mercados da paixão

vestem-se como as meninas da praça tiradentes
mas delas não têm o glamour e a técnica da trepada repassada noites a fio
no que as aguarda do acaso
no que as aguarda do que lhes cabe naquela noite de míngua e saliva retida em que é proibido o beijo – como deve ser – e o corpo que se abre para a invasão da porra alheia e desconhecida

são psicanalisadas tais burguesinhas e se freud libertou-lhes a consciência da libido não lhes libertou a consciência de classe – antimarxistas por excelência as moças burguesas reservam para si lugares na boates e barcos onde simulam a sexualidade livre e sonham com o paraíso perdido de eva como se o sonho em si não fosse ocontrassenso da perdição que os homens buscam quando inventam os paraísos artificiais que vêm do ópio, da cabaça em que bebem o bagaço da cana fermentada e se transforma no ouro negro dos destruídos escolhos sociais

bebem cachaça como se bebericassem o vinho da moda e se acham tão novas tão moderninhas tais burguesas que se permitem o palavrório das ruas nos botequins e cafés da cidade que ainda acham maravilhosa

aplaudem o pôr do sol nas praias de ipanema e se fingem nudez indígena aquiescendo à propaganda que nos vendem o paraíso da diversão como nos parques em que se imaginam princesas em coma para a boca aclimatada com que beijam os burguesinhos dos principados brasileiros

esquecem-se por fim do frio movimento dos astros – newtonianos – que agem por atração e repulsão sem se darem conta disto

(oswaldo martins)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Língua nua

No final do ano passado, terminamos nosso livro, Elvira Vigna e eu. O resultado é o LÍNGUA NUA, que será editado pela 7 letras, em 2011. São 25 nus femininos feitos por Elvira a bico de pena e 25 poemas que fiz para esses nus magistrais e 25 poemas sobre nus masculinos, que Elvira desenhou, não menos magistralmente. O trabalho em comum, com uma amiga querida, traz enlevo à alma, corporidade à vida e alegria desmesurada. Estou feliz.