sexta-feira, 28 de agosto de 2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Poema do dia

F A R E W E L L
1
Desde el fondo de ti, y arrodillado,
Un niño triste, como yo, nos mira.

Por esa vida que arderá en sus venas
Tendrian que amarrarse nuestras vidas.

Por esas manos, hijas de tus manos,
Tendrian que matar las manos mias.

Por sus ojos abiertos en la tierra
Veré en les tuyos lágrimas un dia.

2

Yo no lo quiero, Amada
Para que nada nos amarre
Que no nos una nada.

Ni la palabra que asomó tu boca,
Ni lo que no dijeron las palabras.

Ni la fiesta de amor que no tuvimos,
Ni tus sollozos junto a la ventana.

3

Amo el amor de los marineros
Que besan y se van.

Dejan una promesa.
No vuelven nuaca más.

En cada puerto una mujer espera:
Los marineros besan y se van.

Una noche se acuestan con la muerte
En le lecho del mar.

4

Amo el amor que se reparte
en besos, lecho y pan.

Amor que puede ser eterno
Y puede ser fugaz.

Amor que quiere libertarse
Para volver a amar.

Amor divinizado que se acerca.
Amor divinizado que se va.

5

Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
Ya no se endulzará junto a ti mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
Y hacia donde camines llevarás mi dolor
.
Fui tuyo, fuiste mia. Qué más? Juntos hicimos
Un recodo en la ruta donde el amor pasó.

Fui tuyo, fuiste mia. Tu serás del que te ame,
Del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.

Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.

... Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.

(Pablo Neruda)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sobre poesia 2

A ocorrência da poesia e da literatura em minha vida foi quase concomitante com o aparecimento da leitura. A primeira vez que li um poema percebi que não poderia mais fugir de seu circulo lógico, do que descobrira através desta linguagem específica. De imediato, pensei que meu destino estava traçado. Não escrevi de imediato, demorei mais ou menos uns seis meses para escrever algumas palavras. O choque havia sido tremendo e necessitava me acostumar a ele, em outras palavras, necessitava ler. Li Drummond, Bandeira, Cabral, Vinícius, Murilo Mendes, Neruda. Foram meus primeiros poetas e os iniciadores de minha perspicácia quanto a linguagem. À prosa estava já meio que acostumado, pois era leitura mais corrente lá em casa. Havia diversos livros que meu pai lia e que eu pegava para ler. A poesia para mim, embora já houvesse tido notícias dela, era outra coisa. A prosa lia por gosto, a poesia por urgência vital. Creio ter sido esta a diferença inicial.

A percepção de uma lógica poética demarcou desde este início a necessidade de aprendizagem. Ao contrário do que se supõe a todo iniciante do ato poético, que se aproxima da linguagem como um inspirado, para mim escrever versos demandava outro viés. O do trabalho e do estudo. Intuía que para poder chegar a fazer alguma coisa que prestasse deveria ler e aprender. Educar a sensibilidade. Assim venho fazendo com meus versos durante toda a vida.

Não é fácil tornar-se poeta. A poesia deve fugir de toda sombra dos lugares comuns, deve se dar como ficção e desconstruir nosso eu que teima em penetrar por suas brechas. Condensar o máximo de significados e um mínimo de símbolos – mesmo os poemas longos, como as epopéias, são criados a partir desta contenção intencionada e vão muito além do que a letra mostra. Aprender a dizer sem dizer, a significar sem fazer significar, a incomodar o leitor e a seduzi-lo, num só impulso.

Não nasci poeta, criei-me poeta porque necessitava da poesia para fazer-me sobreviver ante o assombro de sua leitura. Hoje não vivo sem ela. De tal modo é inconsequente essa aliança que me fundi, amalgamei-me ao seu império. Gosto de dizer as coisas com claridade. Se hoje sou professor e figura física, apenas o sou porque me toca a capacidade de ler e fazer ler esse universo que é um mundo em sim mesmo – como uma cosmologia imprecisa, a poesia me toma e matiza todas as coisas que existem fora dela. O mundo se torna o próximo poema possível.

(oswaldo martins)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

delimitação

como os cães
as mulheres mijam

(elesbão ribeiro)

partida

pela saia que não uso
escorre o suor
que não transpira
o dito
e o não dito

a tontura de uma dança
que nunca começa
o enjôo da gravidez
que nunca revela

pergunto se ele quer
um drinque
e ele diz
- não bebo

ah, então era isso
o tempo todo
o vento
a lucidez
que ele me empresta.

(Lúcia Leão)

Sobre o caminhar


do livro das desimitações

8
desimitação de jorge de lima


disparei com as faces
rubras e febris
(edu lobo – chico buarque)


a moça vestia uma túnica sem fissuras
requebrava os quadris no picadeiro
as manchas roxas das olheiras
disfarçavam-se exagerada
maquilagem

circundava-a um anão corcunda
desses anões que os circos
contratam para secundarem
os anjos azuis

para vigiarem suas virgindades
suas santidades

ou as escapulidas em que os anjos
disfarçados
visitam os bordéis das cidades
por que passavam

o anjo azul necessitava
olheiras e o misticismo
do sexo

de um cuidavam os homens
de outras o anão

que no palco
fingia desde o palhaço
ao dramático senão

dos desprezados

(oswaldo martins)

domingo, 16 de agosto de 2009

Dez novas do ourives do palavreado

1

Cinqüenta anos são bodas de sangue
casei com a inconstância e o prazer

2

Acendo um cigarro
molhado de chuvaaté os ossos

3

O amor é um falso brilhante
nos dedos da debutante
macacos tocam tambor

4

Voltei pra casa e em plena dor de corno
quebrei o vídeo da televisão

5

Aos cinqüenta anos insisto na juventude

6

Esse é o som da minha terra:
som de andaime despencando,
de encosta desmoronando,
de rios violentando
as margens do meu limite.

7

Se o amor anda ausente
o armário só guarda
uma escova de dente

8

E subi São Conrado até o Redentor
Lá no morro Encantado eu pedi Piedade
Plantei Ramos de Laranjeiras foi meu juramento
No Flamengo, Catete, na Lapa e no Centro

9

Tu te esfunarás...
me neblinarei
sobre os telhados, galáxias azuis.
Sonambularás,
te voltarei
gatos lambendo as estrelas...
Wendy e Peter Pan
sem o amanhã,
nunca para nós dois, é sempre cedo.
Marietarás e eu Buarquirei em dois cavalos com asas de luz.
Tu te nublarás, me eclipsarei...
nuvens em nossa cabeça.
Toma, Peter Pan, só um Lexotan
pra que tanto amor não te enlouqueça.
Vagalumarás por você sobre campo o campo,
eu virei do mar, teu pirilampo...
Como um circo aceso,
o céu da manhã saudará o amor que não dormir.
Tu desabará...
eu despencarei...
e o amor azul vai nos cobrir

1 0

Sou bem mulher de pegar macho pelo pé
Reencarnação da Princesa do Daomé
Eu sou marfim, lá das Minas do Salomão
Me esparramo em mim, lua cheia sobre o carvão
Um mulherão, balangandãs, cerâmica e cisal
Língua assim, a conta certa entre a baunilha e o sal

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

do livro das desimitações

7
desimitação de safo
a educação perdida


as moças que acorriam aos jardins de safo
eram novas

sacerdotisas votivas do amor
asseguravam-se dos movimentos graciosos
dos passos leves
da vinha

nas academias de lesbos aprendiam eros
a ardentia de suas rosas loucas
na academias de lesbos essas moças
cultuavam - além do néctar e da ambrosia –
as artes da delicadeza e do desejo

em seus peitinhos safo arranjava
flores de mirto e o sabor do hortelã
em seus peitinhos eros dispunha
águas frias para temperá-los

com as flores da gesta misturadas ao mirtilo
compunham eros e safo nos pentelhos recém-nascidos
quadros bucólicos e túnicas transparentes

as moças observavam a lua as constelações
quase nuas e deitadas sobre a terra
indagavam aos deuses
estendendo as mãos para tocá-los
em sua construção de espantos

a gramática de seus corpos e naturalidades
eram o grego esquecido que os poetas
ensinavam

cedo abandonavam seus pais por eros
por safo por lesbos – ilha de amores –
cidade inexpugnável

com seus corpos teciam almofadas
paras os membros

que depois as defloravam

(oswaldo martins)

sábado, 8 de agosto de 2009

Os Desmandamentos, por Geraldo Carneiro e Salgado Maranhão

(Este manifesto se rebela contra a banalização indiscriminada da poesia e a palavra aviltada pelos demagogos, e é dedicado aos que julgam que ela não é passatempo de diletantes, mas artigo de primeira necessidade.)

1- Mais uma vez virou moda dizer que a poesia agoniza, ou que a poesia morreu. E de fato ela sempre esteve morta para os não-poetas. E morreu também com Homero, com Dante, com Camões, com Baudelaire, com Drummond e com tantos outros, porque cada poeta é uma via, um beco sem saída. E a poesia é sempre plural: é o lugar dos paradoxos (viva Shakespeare!), do não-senso (viva Lewis Carroll!), mas também é o lugar da verdade. Quanto mais verdadeiro, mais poético, como dizia Novalis. Mesmo quando um poeta faz as suas conficções, acaba em verdades metafóricas. E, nestes desmandamentos, afirmamos que a poesia, quanto mais remorre, mais renasce.
2- É a linguagem que produz a realidade e a poesia. A poesia não tem camisa-de-força conceitual. Aos funcionários públicos da vanguarda, que se acham herdeiros do legado, ela finge que se dá, mas é só o discurso vazio do chefe da repartição.
3- A poesia é um problema sem solução. Felizmente. Ninguém tem a fórmula mágica, ninguém tem respostas para todos. Cada leitor que invente o seu mundo, e o desinvente a seu bel-prazer. Semelhante à culinária, cada qual que ache o seu tempero. Se for significativo, o erro vira estilo. Ou vice-versa.
4- A poesia pode tudo, só não pode ficar prosa ou senhora da razão. O novo não é reserva de mercado, nem nasce a priori. Há que se romper limites, correr riscos, ter lucidez na loucura. Mesmo que seja pelo avesso. (E, cá entre nós, não adianta ficar o tempo todo buscando o absoluto, porque isso já ficou obsoleto. Ao fim de tantos levantes, sejamos, também, irrelevantes.)
5- A poesia não é para quem a escolhe, mas para quem recebe o choque elétrico da linguagem. Não é poder ou privilégio, é um defeito que ilumina. Não vale transporte, não vale refeição, não vale copiar truques ou seguir tutores. Nem apelar, como os demagogos, para o amanhã. Mesmo porque já não há mais Canaã no Deserto dos Sinais.
6- Poema não é cadáver. É um artefato musical que sempre canta, mesmo quando tem horror à música. Quem busca entender o poema apenas cientificamente, dissecando sua morfologia como quem faz uma autópsia, perde a viagem. Conhecê-lo é entrar em seus labirintos, sem separar o corpo de sua subjetividade.
7- Não queremos a poesia prisioneira de uma única arte poética. Seremos clássicos e barrocos; pós-modernos e experimentais. Qualquer tema é e não é poético. Desde os pit-boys de Homero até a aspirina de João Cabral. Com talento, mesmo as formas antigas podem ser recicladas. Sem talento, nem com despacho na encruzilhada.
8- As influências, em geral, são bem-vindas, a não ser quando alijam a voz própria. Há poemas com tantas citações que, se extrairmos o que é dos outros, não sobra bulhufas.
9- Os conchavos e panelinhas fazem parte da natureza humana. Cada grupo tem o direito de inventar os seus heróis, para admirar a própria imagem no seu espelho narcísico. Mas o vôo do poeta é só dele e, sobretudo, da linguagem. A linguagem é o orixá, o poeta é o cavalo do santo. Ninguém é mais do que o que pode ser.
10- O problema da poesia não é só fazer bem feito, mas fazer distinto (no duplo sentido, que implica tanto em diferença, como em elegância). Ela é um exercício vital para manter o vigor da palavra. A poesia não é só questão de verdade, mas de vertigem. Por essas e por outras, é que somos poetas da vertigem: vertigem-linguagem, vertigem-vida.

Último desmandamento:
Pode jogar no lixo todos os desmandamentos anteriores, a não ser que haja sinceridade na poesia. Quem quiser adorar bezerro de ouro, que adore; quem quiser viver de pose, que mantenha sua prose. Mas que haja espaço e fé na poesia. E que ela continue a fabricar futuros, e, como fênix, se destrua e se reconstrua por toda a eternidade e mais um dia.

Geraldo Carneiro e Salgado Maranhão

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Dez trechos do ourives do palavreado

Foi Dorival Caymmi quem, na fala de abertura do disco que comemora os cinqüenta anos de Aldir Blanc, assim o nomeou.


1 –

Dirá um dodói
que Tolstoi
era chuva demais
para tão pouca planta
ô trouxa heroínas sem par
podem nascer na Rússia
ou lá em Água Santa.

(lupicínia)

2

Quando eu ficar assim
morrendo após o porre
Maracanã, meu Rio
ai corre e se socorre

Injeta em minha veias
teu soro puluído
de pilha e folha morta
de aborto criminoso
de caco de garrafa
de prego enferrujado
dos versos de um poeta
pneu de bicicleta

ai rio do meu Rio
ai lixo da cidade

(Valsa do Maracanã)


3

No carnaval que passou
voltando de Juiz de Fora
Itamar sassaricou
do general ao mexerico
da Candinha
o assunto era
o topete e a raspadinha

(O topete e a raspadinha)

4

Encerram fim de ano
Misturam na boca o pernil e a dor
o vinho e o horror

(Falha Humana)

5

Acreditar na existência dourada do sol
mesmo que em plena boca nos bata
o açoite contínuo da noite

(O cavaleiro e os moinhos)

6

Perder um amigo
é a última gota
se o cara duvida
que a vida é marota

(Perder um amigo)

7

Eu gosto quando alvorece
porque parece que está anoitecendo
e gosto quando anoitece que só vendo
porque penso que alvorece

(Me dá a penúltima)

8

Uma coroa entre o camburão e o tanque
um defeito no motor de arranque
e vindo na contramão
uma fachada pior
do que obra na Rocinha
uma droga mais barata
do que metanol com caninha

essa sogra é a minha

(Dona invocada)

9

fazer um spa
no centro do pinel

(Dona invocada)


10

gosto de maçã
flor da nova Eva

(por favor)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

morena triste dos olhos verdes

morena triste dos olhos verdes

por que estás triste morena de olhos lindos
triste sina
meu pai
não me querem a mim
só me querem os olhos

por que estás triste morena de olhos lindos

maldita herança
minha mãe
não me querem a mim
só me querem os olhos


elesbão ribeiro

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Dois poemas do A Teoria do Jardim

*

o traçado do teu jardim
ignora parágrafos
para avançar nas
delicadezas do imprevisto
e da inexatidão

à procura do engenho do desejo
invoco a ingenuidade do belo:

deslizante caça dialética


*

Não falta nada para o
caos
nunca faltou
apenas nos divertimos
com os ensaios da razão
procurando transformar
água em gelo

o árduo raciocínio
a tabela periódica
são belos sistemas de
organização
elegantes testemunhas
do nosso desejo de alquimia

(Dora Ribeiro - A teoria do Jardim)

sábado, 1 de agosto de 2009

Casimiro de Abreu e sua desimitação

Casimiro de Abreu

Juramento

Tu dizes oh Mariquinhas
Que não crês nas juras minhas,
Que nunca cumpridas são!
Mas se eu não te jurei nada,
Como hás de tu, estouvada,
Saber se eu as cumpro ou não?!

Tu dizes que eu sempre minto,
Que protesto o que não sinto,
Que todo o poeta é vário,
Que é borboleta inconstante;
Mas agora, neste instante,
Eu vou provar-te o contrário.

Vem cá, sentada a meu lado
Com esse rosto adorado
Brilhante de sentimento,
Ao colo o braço cingido,
Olhar no meu embebido,
Escuta o meu juramento.

Espera: - inclina essa fronte...Assim!...
- Pareces no monte
Alvo lírio debruçado!
- Agora, se em mim te fias,
Fica séria, não te rias,
O juramento é sagrado.

"- Eu juro sobre estas tranças,
"E pelas chamas que lanças
"Desses teus olhos divinos;
"Eu juro, minha inocente,
"Embalar-te docemente"
Ao som dos mais ternos hinos!

"Pelas ondas, pelas flores,
"Que se estremecem de amores
"Da brisa ao sopro lascivo;
"Eu juro, por minha vida,
"Deitar-me a teus pés, querida,
"Humilde como um cativo!

"Pelos lírios, pelas rosas,
"Pelas estrelas formosas,
"Pelo sol que brilha agora,
"- Eu juro dar-te, Maria,
"Quarenta beijos por dia
"E dez abraços por hora!"

O juramento está feito,
Foi dito co'a mão no peito
Apontando ao coração;
E agora - por vida minha,
Tu verás oh! moreninha,
Tu verás se o cumpro ou não!...

Rio - 1857.

6
desimitação de casimiro de abreu


tu dizes, ó putainha,
estouvada,
que não podes já

que não, que não

o que mais queres
é deitar-se ao meu lado

inclina essa fronte
vê intumescido o membro

sentes?

assim, assim

espera antes
de seres o lírio debruçado

que te aperte o colo
que te afague o monte

e o sublime rego
da bunda

(oswaldo martins)