sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Silencio

Silencio

Así como del fondo de la música
brota una nota
que mientras vibra crece y se adelgaza
hasta que en otra música enmudece,
brota del fondo del silencio
otro silencio, aguda torre, espada,
y sube y crece y nos suspende
y mientras sube caen
recuerdos, esperanzas,
las pequeñas mentiras y las grandes,
y queremos gritar y en la garganta
se desvanece el grito:
desembocamos al silencio
en donde los silencios enmudecen.

Octavio Paz


Silêncio

Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

Tradução de Luis Pignatelli

moças

1

quando ao vento
sem freios

bicicletas

nos cabelos sopram
flores de dioniso

2

sob a grama
o corpo

pede dança

borboletas
ruivas

vestirem o fim
da tarde

3

brilham pontos
de van gogh

bolhas de água

estrelas
e delírio

(oswaldo martins)


didascálias 11 vol. 2

à maneira de gregório matos guerra poeta barroco libertino e baiano responde o autor a certa dama da corte que enciumada comete um ato falho contra si mesma


diz-me a minha bela doce e graciosa amada
que tal rapariga*
a quem estava atento na contradição
de sua beleza
com os versos canhestros que dizia

ela não é para o teu bico

enciumada, cometeis uma afronta
à vossa beleza e galhardia
se mais bela mais formosa
cabeis-me no bico
que outra não caberia

elesbão ribeiro

22/08/14

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Pilulinha 41

O mestre e a Margarida, romance do escritor russo Mikhail Bulgákov, constitui uma bela alegoria sobre os regimes autoritários e seus incompetentes burocratas, sejam os homens do regime, sejam seus poetas e editores, outros estafetas, sempre alardeadores de verdades intransitivas e inquestionáveis. Servem tanto uns quanto outros como matéria de escárnio; quando atravessados pelo pequeno poder das vantagens administrativas, se contentam em ser arautos dos bons vinhos, das boas companhias e da soberba da verdade duvidosa que defendem.

Transporte-se o leitor deste belo livro para as rússias stalinistas, para as edulcoradas verdades capitalistas das américas macarthistas, ou ainda para os que, à sombra dos partidos, fazem o proselitismo dos grandes líderes. Transpor-se o leitor e encontre um poeta e um editor de propagandas oficiais a discutir a inexistência histórica dos cristos; para melhor servir ao poder do estado, não lhes bastava a negação religiosa, era necessário negar a própria existência dos instrumentos de tortura com que os poderosos de sempre tentam esconder a verdadeira face dos regimes públicos. Transporte-se o leitor para essa conversa surrealista e encontre, meio que sorrateiro aos dois – poeta e editor –, o diabo em pessoa. Transporte-se o leitor e entre na sátira alegórica de O mestre e a Margarida.

Deleite-se com os incêndios, com as mulheres nuas, com os homens ensandecidos, com os que se perdem, com o poder do dinheiro, com as trapalhadas dos burocratas e arautos, com a inoperância da polícia e com esse diabo dos capetas!


(oswaldo martins)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Poesia galega

(sexo)

foi
promesa do leite
mancándose
desde o moi alto
e descer
a borbotóns cada noite

premes o valor instantáneo
dunha hemorragia de violetas
que foi polo que quedaches impreso nunha agonía
de corpo enteiro
                                a reverter azul-vida
polas comisuras
                                como un ínferno fluvial e térmico

sabes a vermello por dentro (aproximadamente)
e máis aló da obsesión
está a boca prematura
desintegrando espacio de líquida espera

unha matanza de armiños vermellos
                                un sangue moi branco
unha caricia violenta

***

(sexo)

fue
promesa de leche
lastimándose
desde lo muy alto
y descender
a borbotones cada noche

pulsas el valor instantáneo
de una hemorragia de violetas
que fue por lo que quedaste impreso en una agonía
de cuerpo entero
                                derramando azul-vida
por las comisuras
                                como un infierno fluvial y térmico

sabes a rojo por dentro (aproximadamente)
y más allá de la obsesión
está la boca prematura
desintegrando espacio de líquida espera

una matanza de armiños rojos
                                una sangre muy blanca

una caricia violenta



Emma Pedreira

Miguel Martí I Pol

L'AMOR

Tot en l'amor s'emplena de sentit.
La força renovada d'aquest cor
tan malmenat per la vida, d'on surt
sinó del seu immens cabal d'amor ?

És, doncs, sols per l'amor que ens creixen
roses als dits i se'ns revelen els misteris;
i en l'amor tot és just i necessari.

Creu en el cos, per tant, i en ell assaja
de perdurar, i fes que tot perduri
dignificant-ho sempre amb amorosa
sollicitud : així donaràs vida.

Miquel Martí I Pol

El amor

Todo en el amor se llena de sentido.
La fuerza renovada de este corazón
tan maltratado por la vida, ¿de dónde sale
sino de su inmenso caudal de amor?

Es, pues, solo por el amor que nos crecen
rosas en los dedos y se nos revelan los misterios;
y es que en el amor todo es justo y necesario.

Cree en el cuerpo, por lo tanto, en él ensaya
el perdurar, y haz que en él todo perdure
dignificándolo siempre con amorosa

solicitud : así darás vida.

sábado, 9 de agosto de 2014

aforismos para encher o saco

1 – um suspiro fundo não é mais que um suspiro fundo.
2 – um amor desfeito não é mais que um amor desfeito.
3 – a lua é um satélite e não mais que isso.
4 – quem morre não está mais vivo.
5 – quem aplaude o sol em ipanema não conhece mecânica.
6 – quem não conhece mecânica aplaude o sol em ipanema ou no cu do mundo.
7 – a literatura não passa de literatura.
8 – botequins servem para jogar conversa fora e para lavar o fígado
9 – o whisky é uma criação metafísica de vinícius de moraes
10 – tom Jobim é uma criação perfeita da mecânica da música

11 – caetano veloso é uma invenção de caetano veloso

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Passolini

LA RECESSIONE


Rivedremo calzoni coi rattoppi
rossi tramonti sui borghi
vuoti di macchine
pieni di povera gente che sarà tornata da Torino o dalla Germania
I vecchi saranno padroni dei loro muretti come poltrone di senatori
e i bambini sapranno che la minestra è poca e che cosa significa un pezzo di pane
E la sera sarà più nera della fine del mondo e di notte sentiremmo i grilli o i tuoni
e forse qualche giovane tra quei pochi tornati al nido tirerà fuori un mandolino
L’aria saprà di stracci bagnati
tutto sarà lontano
treni e corriere passeranno ogni tanto come in un sogno
E città grandi come mondi saranno piene di gente che va a piedi
con i vestiti grigi
e dentro gli occhi una domanda che non è di soldi ma è solo d’amore
soltanto d’amore
Le piccole fabbriche sul più bello di un prato verde
nella curva di un fiume
nel cuore di un vecchio bosco di querce
?crolleranno un poco per sera
muretto per muretto
lamiera per lamiera
E gli antichi palazzi
saranno come montagne di pietra
soli e chiusi com’erano una volta
?E la sera sarà più nera della fine del mondo
e di notte sentiremmo i grilli o i tuoni
L’aria saprà di stracci bagnati
tutto sarà lontano
treni e corriere passeranno
ogni tanto come in un sogno
E i banditi avranno il viso di una volta
con i capelli corti sul collo
e gli occhi di loro madre pieni del nero delle notti di luna
e saranno armati solo di un coltello
Lo zoccolo del cavallo toccherà la terra leggero come una farfalla
e ricorderà ciò che è stato il silenzio il mondo
e ciò che sarà.


Pier Paolo Pasolini.

A RECESSÃO


Reveremos calças com remendos
vermelhos pores do sol sobre as aldeias
vazias de carros
cheias de pobre gente que terá voltado de Turim ou da Alemanha
Os velhos serão donos de suas muretas como poltronas de senadores
e as crianças saberão que a sopa é pouca e o que significa um pedaço de pão
E a noite será mais negra que o fim do mundo e de noite ouviremos os grilos ou os trovões
e talvez algum jovem entre aqueles poucos que voltaram ao ninho tirará pra fora um bandolim
O ar terá o sabor de trapos molhados
tudo estará longe
trens e ônibus passarão de vez em quando como num sonho
E cidades grandes como mundos estarão cheias de gente que vai a pé
com as roupas cinzas
e dentro dos olhos uma pergunta que não é de dinheiro mas é só de amor
somente de amor
As pequenas fábricas no mais belo de um prado verde
na curva de um rio
no coração de um velho bosque de carvalhos
desabarão um pouco por noite
Mureta por mureta
Teto em chapa por teto em chapa
E as antigas construções
serão como montanhas de pedra
sós e fechadas como eram uma vez
E a noite será mais negra que o fim do mundo
e de noite ouviremos os grilos e os trovões
O ar terá o sabor de trapos molhados
tudo estará longe
trens e ônibus passarão
de vez em quando como num sonho
E os bandidos terão a face de uma vez
Com os cabelos curtos no pescoço
e os olhos de suas mães cheios do negro das noites de lua
e estarão armados só de uma faca
O tamanco do cavalo tocará a terra leve como uma borboleta
e lembrará aquilo que foi o silêncio o mundo
e aquilo que será.

PIER PAOLO PASOLINI
Tradução: Mario S. Mieli

Teoría sobre Daniela Rocca

e aquí que daniela un día conversó con los ángeles
ligeramente derrumbados sobre sus senos góticos
fatigados del trance pero lúcidos lúbricos
y daniela advertía sus símiles contrarios
las puertas que se abren para seguir viviendo
las puertas que se cierran para seguir viviendo
en general las puertas sus misiones sus ángulos
ángulos de la fuga las fugas increíbles
los paralelogramos del odio y del amor
rompiéndose en daniela para dar a otra puerta
con la ayuda de drogas diversas y de alcoholes
o de signos que yacen debajo del alcohol
o daniela sacándose los corpiños sacándose
los pechos distanciados debido al ejercicio
del amor en contrarias circunstancias mundiales
daniela rocca loca dicen los magazines
de una pobre mujer italiana por cierto
que practicaba métodos feroces del olvido
y no mató a sus padres y fue caritativa
y un día de setiembre orinó bajo un árbol
y era llena de gracia como santa maría

(juan gelmam)

Ouça o poema.

http://amediavoz.com/Gelman_Teoria_sobre_DR.rm

domingo, 3 de agosto de 2014

Objetos perdidos

Por veredas de sueño y habitaciones sordas
tus rendidos veranos me acechan con sus cantos.
Una cifra vigilante y sigilosa
va por los arrabales llamándome y llamándome,

pero qué falta, dime, en la tarjeta diminuta
donde están tu nombre, tu calle y tu desvelo,
si la cifra se mezcla con las letras del sueño,
si solamente estás donde ya no te busco.


(Julio Cortázar)

poema 15

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía;

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Pablo Neruda