quinta-feira, 20 de abril de 2017

a arte em movimento

para ronald iskin

calder

os móbiles
colhem exercícios leves
desde o teto

decaem sobre nós
jacentes buganvilas
a não explicarem

para onde vai o grito
a secura na garganta
e essa dor de espasmos

que vivenciam o peito
dos amigos jogados
ao golpe do destino


miró

a curva solta no espaço
retesa o arco e se move
intacta no desmovimento

as palavras-trava ganem
arcabouços bem estudados
ali uma ave (que não é)

alhures o bico a pata
todos os retalhos
colhidos de nosso desastre


palatnik

se antes as caldeiras
a mirada mímesis

tudo explode cinética
e pur si muove

mesmo que exijam
a lenta barbárie

o artista age
nesta arte

(oswaldo martins)

sábado, 15 de abril de 2017

poema didático em dois movimentos

1

em anticanto
e proibido aos ouvidos
da dileta freguesia

todo poema teria voz
e resistência aos salões

como o samba
de nélson cavaquinho

2

porque balança o rabo
a maviosa freguesia

tem o poema
que decepar a cabeça

chupar o sangue
e nunca deixar

o mínimo traço
para a recitação
do distinto público


(oswaldo martins)

quarta-feira, 12 de abril de 2017

emblema de nós

para o roberto bozzetti

quando os sambistas
desfilavam elegância e meneio
de corpo

uma rosa carpe diem
tocava alaúdes
de horácio

e o velho pixinga
saído das madrugadas
levava seus assaltantes

para uma dose de pinga

(oswaldo martins)


sábado, 8 de abril de 2017

cenário

ladeiras vestiam túnicas a revelarem
as refregas subiam ao inesperado
das casinhas brancas da poeira lá
no alto os santos desciam desciam

até o pontal dos homens adstritos
aos mares do sertão os apartados
nas sandálias pescadoras de gado
e água ressequida dos lagos secos

em círculos mais concêntricos da ara
em que o sebastião esbatia cantos
na terra dos homens como se deles
o santo propusesse corte à luta


(oswaldo martins)