Eguchi acendeu um cigarro, ainda com a chave na mão. Deu uma ou duas tragadas e logo apagou a ponta mal consumida no cinzeiro. Porém, fumou lentamente o outro, que acendeu em seguida. Em vez de zombar de si mesmo por sentir ligeira inquietação, intensificava-se nele um sentimento de desgosto e vazio. Costumava tomar um pouco de uísque para adormecer, mas o sono era leve e muitas vezes tinha pesadelos. Havia um poema, escrito por um jovem poeta que morreu de câncer, que falava a respeito das noites de insônia: “o que a noite me reserva são os sapos, os cães negros e os corpos afogados.” Desde que o conheceu, Eguchi não foi mais capaz de esquecê-lo.
(Yasunari Kawabata – A Casa das Belas Adormecidas)
Existem autores que nunca mais nos abandonam. A força de suas obras parece pontuar nossas vidas, contornar nossos atos, nossos pensamentos.
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