sábado, 25 de agosto de 2012

desimitação de drummond



era uma vez um padre que comia frutos novinhos,
ao lhe dizerem que se comem os maduros

ficou espantado e disse que no seminário
só os verdinhos

(oswaldo martins)

Eu sou eu Nicuri é o diabo 1













Eu Sou Eu, Nicuri É O Diabo
Raul Seixas

Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo


Eu sei quem sou
E por onde vou
Eu sei quem sou
E por onde estou
Eu agüento a barra
Limpa ou da Tijuca
Se vou lá no fundo
Fundo a minha cuca
Cucaracha cha-cha-cha-cha
Mas...
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicucu é o didi
Eu sou eu, nicuri é o diabo


E que diabo!
Kid-abo
Kid-Colt
Kid-Ringo
Kid-Jingo
Kid-Jango
E por falar nisso
Kid-Jango
E por falar nisso
Kid-Jango
E quem souber disso
Que me cante um tango:
Que el mundo fué y será una porquería
ya lo se, en el 510
y en el 2000 tambiém...
Mas...
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo

Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o diabo
Eu sou eu, nicuri é o didi
Eu sou eu, nicuri é o diabo

terça-feira, 21 de agosto de 2012

marinhagem


quem encanta a sereia a ventania
o alvoroço dos outros são vozenvio
do que ainda perdido de mim erra

esse mosquito adrede na cabeça
que vem e vem a som e tarantina
o corpo a água o pus que abcessa

quando rirem as caveiras de sal
a imagem do pavor as ocas séries
vestirem zumbido no objeto serial

a manitô cama ao subir dos céus
ordenará mar e a boca acera
cuspirá chamas


(oswaldo martins)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Trechos da entrevista do Prof. Antonio Cândido



                 
Tribuna da Imprensa - Para colocar ainda mais lenha no aceso debate político-ideológico que se trava no Blog da Tribuna, vamos publicar os principais trechos de uma instigante entrevista concedida à jornalista Joana Tavares, do Brasil de Fato, pelo crítico literário, professor, sociólogo, militante Antonio Candido. Com extraordinária lucidez e precisão, ele explica a sua concepção de socialismo, que diz ser uma doutrina triunfante, partindo para uma tese surpreendente e inovadora. A entrevista nos foi enviada por Sergio Caldieri, diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro.

Brasil de Fato – O que o senhor lê hoje em dia?
Antonio Candido – Eu releio. História, um pouco de política… mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno.

Brasil de Fato – O senhor é socialista?
Antonio Candido – Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “O senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Brasil de Fato – Por quê?
Antonio Candido – Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.

Brasil de Fato – O socialismo, como luta dos trabalhadores?
Antonio Candido – O socialismo como caminho para a igualdade. Não é a luta, é por causa da luta. O grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo. Portanto, ele é uma doutrina triunfante. Os países que passaram pela etapa das revoluções burguesas têm o nível de vida do trabalhador que o socialismo lutou para ter, o que quer. Não vou dizer que países como França e Alemanha são socialistas, mas têm um nível de vida melhor para o trabalhador.

Brasil de Fato –Para o senhor é possível o socialismo existir triunfando sobre o capitalismo?
Antonio Candido – Estou pensando mais na técnica de esponja. Se daqui a 50 anos no Brasil não houver diferença maior que dez do maior ao menor salário, se todos tiverem escola… não importa que seja com a monarquia, pode ser o regime com o nome que for, não precisa ser o socialismo! Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas. Não tenho cabeça teórica, não sei como resolver essa questão: o socialismo foi extraordinário para pensar a distribuição econômica, mas não foi tão eficiente para efetivamente fazer a produção. O capitalismo foi mais eficiente, porque tem o lucro. Quando se suprime o lucro, a coisa fica mais complicada. É preciso conciliar a ambição econômica – que o homem civilizado tem, assim como tem ambição de sexo, de alimentação, tem ambição de possuir bens materiais – com a igualdade. Quem pode resolver melhor essa equação é o socialismo, disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser… o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.

Brasil de Fato – O que o socialismo conseguiu no mundo de avanços?
Antonio Candido – O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. E não há verdade final fora da moderação, isso Aristóteles já dizia, a verdade está no meio. Quando eu era militante do PT – deixei de ser militante em 2002, quando o Lula foi eleito – era da ala do Lula, da Articulação, mas só votava nos candidatos da extrema esquerda, para cutucar o centro. É preciso ter esquerda e direita para formar a média. Estou convencido disso: o socialismo é a grande visão do homem, que não foi ainda superada, de tratar o homem realmente como ser humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso para os que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

desimitações de marília de dirceu


marília, que fosses puta
em negócios de negócios
mais esperta

marília, se passarem os anos
a fortuna que passa, minha bela,
mais corrompe

marília, que é do arvoredo
onde o nome gravei
como se gravasse um selo

marília, se não te basta a cama
que gados posso dar-te
eu

*

marília, se fosses puta,
ah minha bela, puto, seria
mais esperto

marília, com o passar
dos anos, os anos passam
e nada fica

marília, dos ademanes colhi
do preciso os gados
sem  selo

marília, já teus seios suspirosos
deixei aos bens da terra
às palavras etéreas

*

pudesse, marília, recompor
o poema que quis
de amor

marília, ao compor poria
o engenho de bocage
os modos

com que, marília, convencesse
a ti, e algures, despir-te
os peitos

e lambê-los, marília, como não soube
lamber as crias que na honradez
me coube.

(oswaldo martins)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Bashô por Haroldo de Campos



Haroldo de Campos traduziu um poema de Bashô do seguinte modo


o velho tanque

    rã salt’

      tomba

           rumor de água

(furu ike ya/ kawazu tobikomu/ mizu no oto)

Cesar Cardoso na Bienal


Cesar Cardoso na Bienal o livro em São Paulo


maquilagem



para Leonardo Marques
 
1

no cabaré das varejeiras

mariposa
não bole


saia não leva
o sol do poste

se

mariposa
quica no salto

a caralha
ganha na grita

2

no cabaré das varejeiras

o gravata
comparece

        e

mia ao pedir
         :
upa neguinho
 
3

nenhuma napoleão
no mundo varão de verônica
 
4

minha pica

flor
no truque

pia

emplasto
sabiá
 
5

tá com nojo, moço?

fica tranquilo
sagrado o sossego da chuca

segura a pemba
agora vai

me chupa
 
6

pagão fui eu
que paguei

o que deus me deu

a bunda e os peitos
que chamo de meus

7

mulher

eu
sou

como os demais

(André Capilé)

domingo, 12 de agosto de 2012

Jean-Louis Barrault récite "Liberté" de Paul Eluard

Liberdade


Liberdade

Nos meus cadernos de estudante
Na escrivaninha e nas árvores
Na areia nevada
Escrevo o teu nome

Nas páginas lidas
Em todas as páginas brancas
Pedra sangue papel ou cinza
Escrevo o teu nome

Nas imagens douradas
Nas armas dos guerreiros
Na coroa dos reis
Escrevo o teu nome

Na selva e no deserto
Nos ninhos entre as giestas
No eco da minha infância
Escrevo o teu nome

Nos meus trapos de caloiro
No açude de sol bafiento
No lago de lua esperta
Escrevo o teu nome

Nos campos no horizonte
Nas asas dos passarinhos
No moinho tenebroso
Escrevo o teu nome

Em cada sopro da manhã
No mar e nos navios
Na insensata montanha
Escrevo o teu nome

Na espuma das nuvens
E nos suores da borrasca
Na chuva densa e insípida
Escrevo o teu nome

Nas formas cintilantes
Nas cores dos sinos
Na verdade física
Escrevo o teu nome

Nos caminhos conscientes
Nas estradas estendidas
Nas praças que trasbordam
Escrevo o teu nome

Na lâmpada que se acende
E naquela que se apaga
Nas minhas razões reunidas
Escrevo o teu nome

No fruto cortado em dois
Do espelho e do meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo o teu nome

No meu cão glutão e terno
De orelhas levantadas
Na sua pata desastrada
Escrevo o teu nome

No limiar da minha porta
Nos objetos familiares
No rolo de fogo sagrado
Escrevo o teu nome

Em toda carne acordada
Na testa dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome

Na janela de surpresas
E nos lábios comoventes
Mais longe que o silêncio
Escrevo o teu nome

Nos refúgios destruídos
Nos meus faróis extintos
Nos muros do meu tédio
Escrevo o teu nome

Na vacuidade sem desejo
Na desnuda solidão
Nas escadas da morte
Escrevo o teu nome

Na saúde reencontrada
No risco extraviado
Na fé sem recordação
Escrevo o teu nome

E pelo poder duma palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Para te nomear.

Paul Eluard
in Poésies et vérités, 1942

Paul Eluard -- Libertà

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

falência múltipla dos órgãos


primeiro foi-me o cabelo
foi-me a vista
foram-me os dentes

depois foram-me os dedos
por tantos cigarros que fumei

depois foram-me os pés e as pernas
num tombo que quedei

depois foi-me o coração
e as veias do corpo

depois foram-me os joelhos
e a coluna

andam o fígado e os pulmões a dar sinais

mas quando te vejo assim deitada
quando sinto na palma da mão a maciez
de tuas nádegas

o meu corpo se ergue.


elesbão

sábado, 4 de agosto de 2012

Sarau de Manguinhos













“o poeta contemporâneo tem de ser perigoso como dante foi perigoso; uma força respeitável frente às demais forças sociais”. (mario faustino)


travesti 1

entre os navios e a cidade
as moças passam

se são anjos
se nas anquinhas carregam

bundas falsas
salvam-lhe o colo

a curva expressiva do olhar


travesti 2

pela mauá
ou na praça paris

lá elas, as mocinhas,
compõem o fado ultramarino

dos viajantes de pacotilha


travesti 3

as torneadas pernas
como a poesia

medem os espaços
da ficção


travesti 4

a mímesis
a semelhança
a difrérance

saboreiam a desnaturalização
dos sentidos


travesti 5

a bicicleta-touro
de picasso


a selva selvaggia
de dante

a poesia
e a provocação

da arte

(oswaldo martins)

Ungaretti

Ricordo d'Affrica

Il sole rapisce la città

Non si vede più

Neanche le tombe resistono moltro



Recordação Africana

O sol rapta a cidade

Nada mais se vê

Nem mesmo os túmulos resistem muito

(trad. Haroldo de Campos)




sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Lezama Lima leyendo "Una oscura pradera me convida"

Julio Cortázar: Textos en su voz - Los Amantes

POESIA "ITACA" de CAVAFIS. RECITA AMELIA DIEZ. NOCHEVIEJA. MENASSA

1-Κ. Π. Καβάφης "Όσο μπορείς" Απαγγελία Αντέλα Μέρμηγκα

DON QUIJOTE DE LA MANCHA AUDIOLIBRO.wmv

Chico Buarque lê João Cabral de Melo Neto

O Cão sem plumas - João Cabral.wmv

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Eventos na UFRRJ

http://r1.ufrrj.br/wp/eventos/2012/06/12/programacao-8/


Programação
Apresentamos abaixo uma programação prévia do seminário, com títulos provisórios das conferências.

03/09/12: SEGUNDA-FEIRA

TARDE
13h30:
CREDENCIAMENTO
14h30:
Sessão de abertura (autoridades convidadas)
15h
Conferências de Abertura:
“Os obstáculos de um nome: literatura”- Prof.Dr. Luiz Costa Lima (PUC-RJ/UERJ)
"Consequências da modernidade e seus desdobramentos"
- Pr
of. Dr. Hans Ulrich Gumbrecht (Stanford University, CA-EUA)
17h: Intervalo
NOITE
18h: Conferências:
“Modernismo, qual revisão”?
-
 Profª Dra. Eneida Maria de Souza (UFMG)

“Considerações sobre o contemporâneo na literatura”
Prof. Dr. Karl Erik Schollhammer (PUC-RJ)

04/09/12 – TERÇA-FEIRA

TARDE
13h30:
Sessões de Comunicação Coordenadas
15h30: Intervalo
16h: Literatura e outras artes.
“Literatura Brasileira: um nome provisório?” - Profª Dra. Ana Cristina Chiara (UERJ)
“Música, Nacionalismos, Vanguardas Musicais e Indústria Cultural: isso ainda tem sentido?
-  Luiz Otavio Rendeiro Correa Braga (UNIRIO)
17h30: Intervalo
NOITE
18h30: Literatura e outras artes.
- Profª Dra. Ângela Maria Dias (UFF)
"Arte contemporânea: saturação semântica e loucura"
- Prof.Phd.Valentin Ferdinand (Universidad de La Republica, Montevideo, Uruguai)

05/09/12 – QUARTA-FEIRA

TARDE
13h30:
Sessões de Comunicação Coordenadas
15h30: Intervalo
16h
Poesia e editoração
"A construção da poesia e do sistema literário no Brasil no século XXI”
- Oswaldo Martins (Editor e Poeta)

"A matéria da poesia: o livro, a tipografia e a literatura de vanguarda no Modernismo brasileiro"
- Prof.Dr. Ricardo Pinto de Souza (UFRJ)
17h30: Intervalo
NOITE
18h30
Mesa-redonda: Poesia.
- Prof. Dr. Italo Moriconi (UERJ)
- Antonio Cícero (Poeta)

06/09/2012 – QUINTA-FEIRA

TARDE
13h30
Sessões de Comunicação Coordenadas
15h30
A Formação das Estrelas: Observações em torno do Sistema Poético Brasil-Portugal?- Prof.Dr. Jorge Fernandes da Silveira
16h: Mesa-redonda: Outras vanguardas
- Profª Dra. Munira Hamud Mutran (USP)
17h30 Intervalo
NOITE
18h30
Modernismo e Estudos Linguísticos.
- Prof. Dr. Marcelo Módolo (USP)
"O índio que não é Peri: a pesquisa em línguas indígenas de 1890 a 1929"
-  Profª Dra. Beatriz Protti (UFRJ)
20h30
ENCERRAMENTO