segunda-feira, 30 de junho de 2014

Vazio nos bolsos

Tempo fiapo,
agarrei-me a elas
como alguém
numa prancha
de surf
sem saber
nadar
agarrei-me
pedindo sobrevida
mas elas já iam
soltas
agarrei-me a elas,
tempo fiapo,
por coisa nenhuma
elas iam soltas
como se subsistissem
só porque a gente
pensa nelas
mas elas não salvam
amontoam névoas
dispersas
na injusta ondulação
mesmo assim
só posso ir
dentro desta nave
confiando sempre
nelas,  as palavras
e apesar da solidão
como um vazio
nos bolsos

Luiz Fernando Medeiros

27/06/2014

quinta-feira, 26 de junho de 2014

rua

pertence à boca miúda
dos prazeres

a mão que afaga
o cão sarnento

(oswaldo martins)

Essa outra

o corpo dela
me deu esta bondade:
meu corpo não se sabia
tão intenso
tão agora
experimentado para outras
contidas nela mesma
quando ela vem
de todos os lados
sorrindo
e falando outra

lingua

(Luiz Fernando de Carvalho)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

a falta que me tenho


          para juan arias*

beija beija
beija todo meu corpo
meu querido
devolve-me ao corpo
minha alma errante
minha alma perdida

(Elesbão Ribeiro)


*pelo texto a carne não é território do pecado

terça-feira, 10 de junho de 2014

a biblioteca-uso

1
a equilibrista dos precatórios
museu de tudo

ferida na perna
em cuja coxa

anda

dependurado
falo antimetafísico

2
acera

língua na greta
da sibila

3
a moça sem roupa
nas escadas do saber

a bailarina troncha
requebra

toda popozuda
no funk

cachorra-cachorra
do ancestral

rito

4
azul de cabarés
proto-sala do saber


(oswaldo martins)

chamado

a minha puta despiu-se
subiu no telhado
pela janela ouvia
ouvia miados

vem cá meu gato
lamber-me os pelos
os pelos molhados

elesbão ribeiro
09/06/14

Antiquíssima

Noite antiquíssima,
venha e apague lembranças
desfaça ilusões
estanque falsas esperanças
desbrave outras sensações
despreze dizeres fortuitos
prazeres irreais
apague com a escuridão
pistas de enganos
armadilhas
e me acalente
no balanço
das suas horas calmas


(Marcia Carneiro )

ENTRE A PEDRA E A BIC

(para Marcia)

entre a pedra e a bic
mais que sereia
e esfinge juntas
ela seca a seca
e olha para muito longe
dentro do futuro
seu olhar atinge
a objetiva
e revela
o já agora
do big bang
dos fotogramas
da vida
Lá na frente
quem a segue
sorri
Lá em cima
da pedra
ela apura
suavemente
a matéria
e alcança
o amor dos elementos


( Luiz Fernando Medeiros)

Volta

dança de pele
costume do corpo
dança densa
que se abre
em riso
suave
sobe
veste
outro corpo
verte
líquidos
oleosos
pétala
muda-se
em verso
volta
em ondas
mais leve


( Luiz Fernando Medeiros)

quinta-feira, 5 de junho de 2014

catequese

se em vinho
água se fez

índias em putas
anchieta traduz

(oswaldo martins)

Encontro NA UFJF


A Faculdade de Letras da UFJF
e o Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários
convidam para o
Encontro com o poeta
Oswaldo Martins
Aula aberta da disciplina
Literatura e Cultura de Massa
(Professores Alexandre Faria e Gilvan Procópio)
Sexta-feira, 6/6/2014
das 14h às 17h
Faculdade de Letras, sala 1402


Sobre o autor:
Nascido em Barcacena, MG (1960), Oswaldo Martins é poeta, professor de literatura e editor. Autor de cinco livros publicados, desestudos (2000); minimalhas do alheio (2002); lucidez do oco (2004); cosmologia do impreciso (2008) e Língua nua (com ilustrações de Elvira Vigna) (2011); e dois inéditos Lapa (escrito originalmente em 2005, com publicação prevista para 2014) e Manto, previsto para 2015.
Em 2008, o poeta apareceu na mídia jornalística, num lamentável caso de perseguição ideológica, que resultou em sua demissão da Escola Parque, no Rio de Janeiro, atribuída ao tema erótico/pornográfico de alguns de seus poemas.

Atualmente envolve-se com projetos da Editora TextoTerritório e com o roteiro a produção de curtas sobre escritores brasileiros contemporâneos.