sexta-feira, 28 de junho de 2019

poema do amor possível


esqueci-me do que disseram
sempre nos esquecemos
em alguma plazoleta

na cidade de antúrias
não sei se malmequer
ou flor da noite

esquecemos quando na pele
as marcas do passado
são destas outras

forjadas na contramão
das histórias e fungam
entrincheiradas no peito

um dizer sutil
que se entrega rude
no desarranjo

dos sentidos

(oswaldo martins)

quinta-feira, 27 de junho de 2019

luz negra


para nei lopes

luzes na ribalta
tangem destinos cruéis
as mãos sem frenesi

nô violão e voz
e o fundo do bar
cozem a fosca lâmina

a bala de um tempo
e o prodígio socavado
suspendem o que prima

constrói a irrealidade
esta junção de paletas
do silêncio a preencher

(oswaldo martins)

terça-feira, 18 de junho de 2019

Ingeborg Bachmann, Áustria

Nueva
Sale del atrio celestial templado de cadáveres el sol.
No están allí los inmortales,
sino los caídos en batalla, oímos.
Y el esplendor no repara en la putrefacción. Nuestra deidad,
la Historia, nos ha dispuesto una sepultura
de la que no hay resurrección.
Traducción de Arturo Parada

domingo, 16 de junho de 2019

Exercício

O homem tímido facilita
a dança, um guia subterrâneo
me orienta, se dá
conta de mim, me decora, 
vem.

O homem tímido não
rebate a nudez com um vocábulo
qualquer, e na estrada consta
a lua meio inteira e se acariciam –

palavra opaca, homem e eu,
sem
revisar nada.

(Lúcia Leão)

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Leituras de romances


O objetivo dos encontros está em colocar em circulação ideias e discussões sobre romances seminais da Literatura Universal. Serão quatro encontros mensais. Com duas aulas dedicadas ao estudo do autor, da época, da série literária em que se inserem os dois romances escolhidos

Programação.

Nestes quatro encontros será discutido o conceito de modernidade e tradição, ligado às narrativas escolhidas.

Dias

Dia 17/06 Eça de Queirós – A cidade e as serras
Dia 24/06 Eça de Queirós – A cidade e as serras
Dia 02/07 Gisele Mirabai – Machamba
Dia 09/07 Gisele Mirabai – Machamba

O Romance de Eça de Queirós, ao responder à ânsia civilizatória, ligada ao desenvolvimento europeu do século XIX, trama uma deliciosa volta ao mundo português, com suas quintas e seus avoengos, para recuperar a débil vida que Jacinto, o personagem principal do romance, perdeu no processo filosófico ao abarcar a civilização como propósito e diretriz de vida.
O Romance delicioso de Gisele Mirabai parte da perspectiva de um sertão perdido e leva a personagem a percorrer os desvãos do mundo, para, então se perder. Ao contrário do lusitano,  a brasileira compõe diferente trajetória, sem, no entanto, deixar de refletir sobre os significados que aqui se expressam.
Dados sobre as leituras

Local: Rua Pires de Almeida 76/201- Laranjeiras
Duração dos encontros 1:30 h.
Horário: das 20:00 às 21:30 h.
Custo: 400,00 reais os quatro encontros
Mediador de leitura: Oswaldo Martins

Inscrições pelo tel 981438622

Oswaldo Martins, nascido em Barbacena – MG, em 1960, reside no Rio de Janeiro desde 1979. Fez graduação em Letras (Português-Literatura), pela PUC-RJ o mestrado (Literatura Brasileira), pela UERJ. Autor dos livros desestudos (2000 -  7 Letras / 2015 TextoTerritório); minimalhas do alheio (2002 – 7 Letras / 2015 – TextoTerritório);  lucidez do oco (2004 – 7 Letras / 2015 – TextoTerritório) cosmologia do impreciso (2008 – 7 Letras); língua nua (com ilustrações de Elvira Vigna 2011 – 7 Letras); lapa (2014 – TextoTerritório); manto (2015 – TextoTerritório). Tem no prelo o livro paixão (sobre imagens de Roberto Vieira da Cruz), a sair no ano de 2018.

Fez os roteiros dos filmes Urânia, poema de Alexandre Faria (com Felipe David Rodigues – 2009); Venta-não, (com Felipe David Rodrigues e Alexandre Faria – 2013). É editor da TextoTerritório.

terça-feira, 11 de junho de 2019

desimitação de gregório de matos


o juiz de igaraçu revisitado

entre trampos e maranhas
há de pôr-se sob o pespego
a curitibana maritaca
ao julgar com perfídia
alhos por bugalhos

que entre conjes se formou
e contra o juiz de igaraçu
chamou a nós por vós
e a si por tu

(oswaldo martins)

domingo, 9 de junho de 2019

Salve, César Cardoso


TODOS AO LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO DO CÉSAR CARDOSO

Poesia iraniana



7
Alcorão, o livro supremo, pode ser lido às vezes,
mas ninguém se deleita sempre em suas páginas.
No copo de vinho está gravado um texto de adorável
sabedoria que a boca lê, a cada vez com mais delícia.

8
 Há muito tempo, esta ânfora foi um amante,
como eu: sofria com a indiferença de uma mulher;
a asa curva no gargalo é o braço que enlaçava
os ombros lisos da bem amada.

(Omar Khayan – trad. Alfredo Braga)

quarta-feira, 5 de junho de 2019

desimitação de bernardo guimarães


os cavaleiros de alencar e gonçalves
comiam algumas mocinhas
para fundar a reaça brasileira

com o elixir de bernardo
comemos além das mocinhas
os cavaleiros

na taba brasilis fundiu-se
ou fodeu-se, como se queira,
o santo hilário

do augusto brasileiro

(oswaldo martins)

terça-feira, 4 de junho de 2019

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade