segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O caga-teses

O Caga-teses pontifica como um papa. Desde a existência de Deus até as novíssimas invenções humanas, o Caga-teses tem sempre uma opinião balizada pela fina observação do mundo ou pelos anos de estudos . Não tem idade definida, pode tanto ser um caga velho quanto um caga novo, dizem mesmo que seu rosto é desconhecido, nunca podendo ser reconhecido pelas feições, posto que muda sempre de característica, ficando como única possibilidade de reconhecê-lo a certeza com que diz suas verdades. Encontra-se com ele nas redes televisivas, nas rádios, nos jornais, em qualquer meio de divulgação midiática; também nas universidades e nas conversas informais ou mesmo nos tribunais da justiça e nas igrejas de qualquer religião e nas academias de letras brasileira, estadual ou municipal.

Embora muito ocupado, o Caga- teses sempre tem um tempinho que utiliza para fazer com que seu interlocutor fique a par das últimas novidades da ciência, da literatura, do modo de plantar tomate ou de colher frutas, das verdades, escondidas da patuleia, que desvenda com amplo e rigoroso raciocínio sobre, por exemplo, a forma que tomam as nuvens quando sobre elas intervém a aragem que sopra a partir do Polo Norte ou dos Andes ou da Patagônia.

Sua mais intensa arma é a retórica. E que retórica, meus queridos! Cícero e Barbozinha são nada frente à capacidade de convencimento do Caga-teses, que usa uma linguagem tão perfeita que parece mesmo que está usando outro idioma. Melódica e transparente parece-se à música que toca nas rádios, mas dela difere pelo alto grau de informação sobre os fenômenos naturais, humanos e sobre-humanos que acometem o nosso sistema solar.

O quadro político se delineia com tal precisão que não temos mais que prestar atenção a ele, já que o Caga tem na ponta da língua – da sua língua, divina e maravilhosa – todas as soluções, todas as variações possíveis para explicar, por exemplo, a razão pela qual Jânio Quadros renunciou ou qual velocidade atingiu a carreta que matou o JK no momento da colisão. O Caga-teses é intimo de todos os que vivem ou já viveram um dia. Andou de Romiseta, varreu a corrupção com a vassourinha e ultimamente vocifera naquele seu estilo tonitruante contra as conquistas populares.


(oswaldo martins)

nelson cavaquinho

para oswaldo martins
  
de nariz envernizado
não sou cartola
de sapato novo
não toco viola
de terno branco
não sou ismael
sem camisa com violão no peito
à mesa de um botequim
sou eu sim

elesbão  ribeiro

28/12/14

domingo, 28 de dezembro de 2014

Os melhores livros lidos em 2014

1 – O Mestre e a Margarida – Mikhail Bulgakov – Alfagara
2 – Por escrito – Elvira Vigna – Cia das Letras
3 – 1Q84 – Murakami –  Alfaguara
4 – Mil rosas roubadas – Silviano Santiago – Cia das Letras
5 – Como se – Cláudia Chigres – TextoTerrotório
6 – O bebedor noturno – Herberto Helder – Assírio e Alvim
7 – Adonis (poemas) – Adonis – Cia das letras
8 – Páginas sem gloria – Sergio Santana – Cia das Letras
9 – Sukiyaky de Domingo – Bae Su-há – Estação Liberdade
10 – Livro das Mil e Uma Noites – tradução Mamede Mustafá Jarouche – Editora Globo


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

vênus

o mar revolto diria da beleza clássica
enquanto poseidon naufraga a moça
olha a displicente cena segura de si a
ressaltar curvas do corpo nos círculos

da água em que se abandona surgida
das arestas que se faz água em torno
do corpo que ressalta a imagem água
do corpo que distinto flutua como se

dela o corpo fosse a parte mais aguda
da beleza que as deusas anadiômenas
constroem cientes do rito instantâneo
do presente cujo tempo é movimento


(oswaldo martins)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

os desenganos da poesia metaforicamente

cabeleira extensa possuem os heróis perdidos
o amor livre de bocas de fogo tresandam nulas
que se haviam aos mares às montanhas na rua
deixavam nos deslugares as sementes e o gozo

poetas cujos umbigos – os maiores do mundo –
pendem da mesada do estado cachos de uvas
verdes dicionários tranquilos de mesmada voz
do contra pelo ao pelo dos ai jesus da piada de

50 anos idolatram os gurus indianos os lamas
tibetanos e os franciscos vaticanos e os ramos
adjetivos à pequena voz dos profissionais dos
mercados paranasianos das livrarias travessas

inventores de jargões bra brô brum das areias
e dos advérbios tão sublimes do cá e lá de 150
aninhos como se fossem penha nau tarde rosa
ferro planta os desenganos metaforicamente


(oswaldo martins)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

era poeta

para álvares de azevedo

era poeta
poeta e professor
ganhava pouco
ainda assim escrevia seus versos
à luz de velas em sua mansarda
numa noite percebeu que o olhava
com aptidão a diarista
que passava roupas na casa em frente à mansarda
em que morava
cerrou as cortinas da janela

de tísico me basto

elesbão ribeiro

12/12/14

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

soneto imperfeito a gentil descortesia

com seu vestido grená a vizinha
passava ao largo da praça castro
alves sem ligar pra ninguém e como
o céu era do condor a terra do avião

o vento com gentil descortesia bulia
pelas entre-coxas da quase-cachorra
que bamboleando o balaio mole se ia
lépida a dançar o samba o rap e o funk

os olhos de nós outros seguiam com ela
mas caluda toda aproximação daria em
cadeia surra ou quiçá enfezado vizinho

a brandir ao léu as modas da moda
que não e não e com as mãos em chifre
ecoava o tal politicamente correto


(oswaldo martins)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

off lapa






Murilo Mendes

Juan Miró

Soltas a sigla, o pássaro e o losango.
Também sabes deixar em liberdade
O roxo, qualquer azul e o vermelho.
Todas as cores podem aproximar-se
Quando um menino as conduz no sol
E cria a fosforescência:
A ordem que se desintegra
Forma outra ordem ajuntada
Ao real – este obscuro mito.


(Murilo Mendes – Antologia poética – Cosac&Naif)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Sarau de Manguinhos



TODOS LÁ!!!

TextoTerritório

Prezados amigos,

está no ar o novo site TextoTerritório - Lugar para criação de textos. Textos para criação de lugares.

Dividido em 3 setores, Textos, Oficinas, e Loja, vejam as novidades:

Em Textos, aceitaremos sugestões e colaborações de textos poéticos, ficcionais e críticos - da literatura e da contemporaneidade. Confira nossa seleção de abertura:

- Taoísmo Aplicado, poema de Daniel Mansur Valentim
(http://www.textoterritorio.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=950%3Ataoísmo-aplicado&catid=137%3Averso);

- Receita, poema de Laura Assis;
(http://www.textoterritorio.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=951%3Areceita&catid=137%3Averso)

- A poesia pode (ou não pode) ser uma ação entre amigos?, por Alexandre Faria
(http://www.textoterritorio.pro.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=952%3Aa-poesia-não-pode-ser-uma-ação-entre-amigos&catid=12%3Aopiniao&Itemid=4);

- A poesia contra a motosserra, por Eduardo Tollendal
(http://www.textoterritorio.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=949%3Aa-poesia-contra-a-motoserra2&catid=33%3Aapontamento&Itemid=217).

Em Oficina, lançamos a Oficina CorpoTerritório. Convidamos poetas a escolherem partes do corpo sobre as quais escrevam poemas. Será publicado apenas um poema por autor inscrito. Escolha a sua o quanto antes! Envie seu seu poema para contato@textoterritorio.pro.br

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Equipe TextoTerritório