terça-feira, 29 de janeiro de 2008

CRAVO E FERRADURA

Primeiro foi um som leve
de peneira peneirando
o mar de idéias de um louco,
a água dentro do coco.

Foi crescendo entre palmeiras
e tambores batucando
um balbucio, um rugido
um som de tragédia e circo,
som de linha de pesca,
som de torno e maçarico.

Veio um som de escavadeira,
bate-estaca, britadeira,
um som/ que machuca e lanha,
som de caco, som de tralha,
era um som de mutilados
quebrando gesso e muleta,
um som de festa e batalha.

Ah, era um som que me orgulhava,
som de ralé e gentalha,
era o som dos prisioneiros,
som dos exus catimbeiros,
ai, era o som da canalha:
trovão, forja, baticum,
som de cravo e ferradura
Dez mil cavalos de Ogum!

Esse é o som da minha terra:
som de andaime despencando,
de encosta desmoronando,
de rios violentando
as margens do meu limite.
Samba, samba, samba,
pulsas em tudo que existe,
vazas se meu sangue escorre,
nasces de tudo o que morre.

(Cristóvão Bastos - Aldir Blanc)

A música de Cristóvão Bastos e a letra de Aldir Blanc são como uma arqueologia do samba. Uma maravilha.

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