quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Leituras

Os dez melhores livros que li em 2009:


1 – Teoria do jardim – Dora Ribeiro

2 – A um passo – Elvira Vigna

3 – Sobre a morte – Elias Canetti

4 – Com o Diabo no corpo – Radiguet

5 – A pista de gelo – Roberto Bolaño

6 – Reflexões sobre ética e poesia – Kavafis

7 – O controle do imaginário e a afirmação do romance – Luiz Costa Lima

8 – Eu, um outro – Inre Kertész

9 – Os da minha rua – Ondjaki

10 – Obra completa – Oliverio Girondo



Os cinco (melhores) que reli:


1 – São Bernardo – Graciliano Ramos

2 – Dispersa, demanda – Luiz Costa Lima

3 – O elixir do Pajé – Bernardo Guimarães

4– As metamorfoses – Murilo Mendes

5 – Era Medieval Portuguesa – Segismundo Spina

Canetti

Sobre a morte

1
Um dia ficará mais claro que os seres humanos tornam-se piores a cada morte. (19843)

2

A mais descabidas das frases: alguém morreu "na hora certa". (1943)

3

Escrever cartas para a época que sucede a morte, por anos, para todos a quem a gente amou ou odiou.

Ou: organizar uma espécie de confissão em etepas graduais, durante anos, para o período que se segue à morte.

4

Apenas um tipo de sabedoria é tolerável: a daqueles que não prestam honrarias à morte;

(Elias Canetti)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Viola enluarada

o caralho e a boceta que mijam
também fodem
o cu e a cua que cagam
também fodem
a boca que come
e bebe e cospe
também fala com o falo

assim como o pé
que dança o samba
e se preciso vai
à luta

elesbão ribeiro

30/12/09

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Olav H Hauge

No se cuelga el sombrero en un rayo de sol

Tienes que tener siempre
suelo firme
bajo los pies, algo

a que aferrarte,l
a idea
no se atreve

a soltarse,
es como un niño
no tiene confianza, pero

siempre anda
buscando apoyo.
No se cuelga

El sombrero en un
rayo de sol,
tarde aprendiste

a nadar, desconfías
del avión,
no te sientes seguro

más que a pie.

Leminski por Leminski

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

branco

o amor
quando veste branco

faz brilharem estrelas
o corpo

desdobra-se no sorriso
mais clraro

que o branco veste
com a sutileza

da água sobre
a tez morena

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A indesejada

Visita

No estoy.
No la conozco.
No quiero conocerla.
Me repugna lo hueco,
laafición al misterio,
el culto a la ceniza,
a cuato se disgrega.
Jamás he mantenido contacto con lo inerte.
Si de algo é renegado es de la indiferencia.
No aspiro a transmutarme,
ni me tienta el reposo.
Todavía me intrigan el absurdo, la gracia.
No estoy para lo inmóvil,
para li inhabitado.

Cuando venga a buscarme,
dínganle:
"Se ha mudado".

(Oliverio Girondo)



Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
__ Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta, cada coisa em seu lugar.

(Manuel Bandeira)

Reflexões sobre poesia e ética

7

Não sei se a perversão dá força. Às vezes acho que sim. Mas não há dúvida de que é fonte de grandeza.

13/12/1902

Konstantinos Kaváfis

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Escritoras Suicidas e Dedo de Moça


Olhem só o timaço das garotas:
Adelaide do Julinho, Alice Barreira, Assionara Souza, Cida Pedrosa, Dominique Lotte, Dona Cecy, Eugênia Fernandes, Florbela de Itamambuca, Jane Sprenger Bodnar, Julya Vasconcelos, Jussara Salazar, Lia Beltrão, Líria Porto, Lucélia Majistral, Márcia Maia, Mariza Lourenço, Nina Rizzi, Patty Flag, Roberta Silva, Ro Druhens, Romina Conti, Santa Maria, Silvana Guimarães, Simone Santana, Suzana Bandeira, Tatiana Alves, Tati Skor, Valéria Tarelho, Verônica Couto e Virna Teixeira.
O livro – que teve organização de Silvana Guimarães e Florbela de Itamambuca – vai ser lançado no sábado, dia 19 de dezembro, na livraria Martins Fontes da avenida Paulista 509 (em Sampa, é claro!). Ah, vai das 15:30 às 18:30. Happy hour, moçada! Vamos lá! Vejam aí o que diz sobre o livro e o blogue Silvana Guimarães, uma das organizadoras da antologia:
Dedo de Moça comemora um projeto que dura (e nos diverte!) há 4 anos. Em outubro de 2005, quando o site Escritoras Suicidas foi lançado na internet, não sabiamos no que ia dar. Hoje o que se sabe é que brincar com estereótipos — ainda que a intenção não seja necessariamente essa — é um jeito gostoso de se quebrar paradigmas.O livro, com apresentação do músico, compositor e escritor Guttemberg Guarabyra, texto de orelhas do escritor Nelson de Oliveira, e ilustrações de Eliége Jachini, reúne contos e poemas de 30 autoras brasileiras. Bem, nem todas são mulheres. Mas com exceção de Dominique Lotte e Romina Conti, pseudônimos, respectivamente, dos escritores Iosif Landau e Rodrigo de Souza Leão, falecidos em 2009, nenhum outro autor nessa antologia revela sua identidade masculina ou o que existe sob as suas vestes femininas. Vale tentar adivinhar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

tempestade de verão

medo dá azar

medo

enquanto ela chora
num canto
eu fecho as janelas
no outro

de relance vejo os trovões
as facas
descobertas
na gaveta e o raio vindo de fora

não dá tempo
e ela corre
de mim
pra mim
foi medo

caiu fulminada
em cima do sinteco
ainda seco.


(Lúcia Leão)

sábado, 12 de dezembro de 2009

José Juan Tablada

La perla de la luna
la luna es araña
de plata
que tiende su telaraña
en el río que la retrata
I Li-Po
el divino
que se
bebió
a la
luna
una
noche en su copa
de vino
Siente el maleficio
enigmático
y se aduerme en el vicio
del vino lunático
(Li-Po y otros poemas)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Diário de Manuel VIII

houve o casario da lapa – os arcos enfeixavam
sentimentos de água e suicídio

funâmbulos sobre o mais alto vão
disputavam com o bonde a paisagem
e as etéres namoradas

esmeralda ancava pelos dancings
peloas bares ao ritmo do jazz-band

o português vendia cachaça
e sotaque de bagaceira

a vida era improdutiva e brutal
como o amor dessa puta

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Convite


EUGENIO MONTALE

Portami il girasole ch'io lo trapianti
nel mio terreno bruciato dal salino,
e mostri tutto il giorno agli azzurri specchianti
del cielo l'ansietà del suo volto giallino.

Tendonoalla chiarità le cose oscure,
si esauriscono i corpi in un fluire
di tinte: queste in musiche. Svanire
è duque la ventura delle venture.

Portami tu la pianta che conduce
dove sorgono bionde traparenze
e vapora la vita quale essenza;
portami il girasole impazzitodi luce.

Tradução: Renato Xavier

traz-me o girassol que eu o transplante
no meu terreno queimado de maresia,
e a ansiedade de sua face amarela mostre
aos azuis brilhantes do céu todo dia.

Também à claridade as coisas obscuras,
exaurem-se os corpos num decorrer
de tintas: esses em música. Esvaecer
é portanto a ventura das venturas.

Traz-me tu a planta que conduz
aonde surgem louras transparências
e evapora-se a vida como essência;
traz-me o girassol enlouquecido de luz.

OLIVERIO GIRONDO

DESERCIÓN

se fue el pasto,
el arroyo.
Se fuerom los caballos.

Los árboles,
la casa,
los caminos se fueron.

La costa ya no estaba,
ni la mar,
ni la arena.

Me quedaban las nubes,
pero tabién partieron.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Grande Otelo - Mostra de cinema


08 dez 2009 - 03 jan 2010
CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL – BRASÍLIA
SCES, Trecho 2, Conjunto 22 - Brasília, DF
Informações: (61) 3310-7087 (61) 3310-7087 bb.com.br/cultura

PROGRAMAÇÃO DA PRIMEIRA SEMANA

terça · 08 dez
16h30 Um candango na Belacap (Roberto Farias, 1961)
18h30 Natal da Portela (Paulo Cesar Saraceni, 1988)
20h30 Rio, Zona Norte (Nelson Pereira dos Santos, 1957)

quarta · 09 dez
16h30 O barão Otelo no barato dos bilhões (Miguel Borges, 1971)
18h30 Os cosmonautas (Victor Lima, 1962)
20h30 Garota enxuta (J. B. Tanko, 1959)

quinta · 10 dez

16h Jubiabá (Nelson Pereira dos Santos, 1987)
18h Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969)
20h30 DEBATE 1 - Grande Otelo: Reserva artística, moral e ética da cultura nacional

sexta · 11 dez
16h30 Se meu dólar falasse (Carlos Coimbra, 1970
18h30 É de chuá (Victor Lima, 1958)
20h30 O flagrante (Reginaldo Faria, 1975)

sábado · 12 dez14h30 Pistoleiro bossa nova (Victor Lima, 1959)
16h30 O flagrante (Reginaldo Faria, 1975)
18h30 De janela pro cinema (Quiá Rodrigues, 1999)
A baronesa transviada (Watson Macedo, 1957)
20h30 Os três cangaceiros (Victor Lima, 1959)

domingo · 13 dez
16h30 Um candango na Belacap (Roberto Farias, 1961)
18h30 Nem tudo é verdade (Rogério Sganzerla, 1986)
20h30 O assalto ao trem pagador (Roberto Farias, 1962)

RABO DE SAIA E LERO-LERO


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Brevíssima

Haja duplo sentido e perfeição para tamanho talento!

SIRI RECHEADO E O CACETE

Sai com a patroa pra pescar
No canal da Barra uns siris pra rechear
Siri como ela encheu de me avisar
Era o prato predileto do meu compadre Anescar
Levei arrastão e três puçás
Um de cabo outros dois de jogar
De isca um sebo da véspera, e pra completar cachaça iemanjá
Birita que dá garantia de ter maré cheia
Choveu siri do patola, manteiga, azulão, um camaleão,
No tapa a minha patroa espantou três sereias.

Na volta ônibus cheio o balde derramou
Em pleno coletivo um gato se encrespou
O velho trocador até gritou: - não bebo mais!
Siri passando em roleta, mesmo pra mim é demais!
De medo o motorista perdeu a direção
Fez um golpe de vista, raspou num caminhão
Pegou um pipoqueiro, um padre, entrou num butiquim
O português da gerência, quase voltou pra Almerim...

Quiseram autuar nossos sirisMas minha patroa subornou a guarnição
Então uns cana-dura mais gentis
Levaram a gente e os siris pra casa na abolição
Depois do "até logo", "um abração"
Fui botar os siris pra ferver
Dentro da lata de banha
Era um tal de chiar, pagava pra ver

Tranqüilo o compadre Anescar colocando o azeite
Foi um trabalho de cão, mas valeu o suor
Croquete, bobó, panqueca, siri recheado, fritada e o cacete.
O Anescar chegou com uma de alambique
Me perguntou se eu era Mendonça ou Dinamite
Abriu uma lourinha, trouxe um prato de croquete
O Anescar mordeu um, feito que come gilete
Baixou minha patroa: Anesca, que qui há?
O anescar gemeu:- dieta de lascar
O médico mandou que eu coma tudo que pintar
Até cerveja e cachaçaMenos os frutos do mar.

(João Bosco – Aldir Blanc)

Boca de sapo

Costurou na boca do sapo
um resto de angu
- a sobra do prato que o pato deixou.

Depois deu de rir feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira.

E amarrou as pernas do sapo
com a guia de vidro
que ele pensava que tinha perdido.

Depois deu de rir feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira.

Tu tá branco, Honorato, que nem cal,
murcho feito o sapo, Honorato,
no quintal.

Do teu riso, Honorato, nem sinal.
Se o sapo dança, Honorato,
tu, babau.

Definhou e acordou com um sonho
contando a mandinga,
e falou pra doida: meu santo me vinga.

Mas ela se riu feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira.

E implorou: "Patroa, perdoa,
Eu quero viver.
Afasta meus olhos de Obaluaiê",

Mas ela se riu feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira.

Tás virando, Honorato, varapau,
seco feito o sapo, Honorato,
no quintal.

Figa, reza, Honorato, o escambau,
nada salva o sapo, Honorato,
deste mal.

(João Bosco / Aldir Blanc)