terça-feira, 30 de setembro de 2014

O GÊNIO DA RAÇA

Eu vi o gênio da raça!
(Aposto como vocês estão pensando que eu vou falar de Rui Barbosa).
Qual!
O gênio da raça que eu vi
Foi aquela mulatinha chocolate
Fazendo o passo do siricongado
Na terça feira de carnaval!


(Ascenso Ferreira)

OS EPIGRAMAS ERÓTICOS DE MARCIAL (40 a.C – 104 d.c)

A CLOÉ

Eu bem que podia passar sem o teu rosto,
Sem teu pescoço, tuas pernas, tuas mãos,
Sem tuas nádegas, teus seios, tuas ancas,
E, para não me fatigar enumerando,
Bem podia passar sem ti, Cloé, inteira.

A FAIXA PEITORAL

Comprime, de minha amante, os dois seios em botão
Para que caibam sempre no oco de minha mão.

Corre o rumor, Quione: nunca foste fodida,
e nada mais puro existe que tua cona.
Nessa parte (por vestes velada) nem te lavas.
Se é pudor, desnuda a cona e vela a face.

Safo Fr. 31

φαίνεταί μοι κῆνος ἴσος θέοισιν
ἔμμεν’ ὤνηρ, ὄττις ἐνάντιός τοι
ἰσδάνει καὶ πλάσιον ἆδυ φονεί-
σας ὐπακούει

καὶ γελαίσας ἰμέροεν, τό μ’ ἦ μὰν
καρδίαν ἐν στήθεσιν ἐπτόαισεν•
ὠς γὰρ ἔς σ’ ἴδω βρόχε’, ὤς με φώναί-
σ’ οὐδ’ ἒν ἔτ’ εἴκει,

ἀλλά κὰμ μὲν γλῶσσα μ’ἔαγε, λέπτον
δ’ αὔτικα χρῷ πῦρ ὐπαδεδρόμηκεν,
ὀππάτεσσι δ’ οὐδ’ ἒν ὄρημμ’, ἐπιρρόμ-
βεισι δ’ ἄκουαι,

κὰδ’ δέ μ’ ἴδρως κακχέεται, τρόμος δὲ
παῖσαν ἄγρει, χλωροτέρα δὲ ποίας
ἔμμι, τεθνάκην δ’ ὀλίγω ‘πιδεύης
φαίνομ’ ἔμ’ αὔτᾳ.

Ele me parece ser par dos deuses,
O homem que se senta perante ti
E se inclina perto pra ouvir tua doce
Voz e teu riso

Pleno de desejo. Ah, isso, sim,
Faz meu coração ‘stremecer no peito.
Pois tão logo vejo teu rosto, a voz eu
Perco de todo.

Parte-se-me a língua. Um fogo leve
Me percorre inteira por sob a pele.
Com os olhos nada mais vejo. Zumbem
Alto os ouvidos.

Verto-me em suor. Um tremor me toma
Por completo. Mais do que a relva estou
Verde e para a morte não falta muito –
É o que parece.


Tradução: Leonardo Antunes

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Voto em Dilma

O voto em Dilma é um dever da consciência.

As questões colocadas durante seu primeiro mandato estão longe de estarem todas resolvidas; muito há que se fazer ainda, para que a autonomia dos cidadãos se torne plena, para que as cidades cingidas possam ser compartilhadas de igual maneira por todos os seus habitantes, para que o acesso aos bens de consumo, para que o acesso às ruas, para que o acesso aos bens culturais, educacionais e de saúde se tonem eles também plenos.

Os avanços sociais que os últimos governos alcançaram devem ser mantidos e não podemos esperar mais quinhentos anos para que a revolução silenciosa – mas não muito – se cumpra e para que todos possamos, de chinelos e bermudas, tomarmos nossos lugares nos aviões.  Não podemos esperar mais quinhentos anos para que o nariz levantado de nossas elites desapareça e passe a cheirar como todo nariz cheira. As oportunidades históricas passam por nossas portas e não devemos recusá-las, sob pena de retrocessos desastrosos par auto estima das pessoas que compõem a nação.

Vivemos nestes doze anos de governo petista uma série de transformações culturais que, na verdade, só serão percebidas pelas próximas gerações. A transformação econômica retira dos bolsões miseráveis um enorme contingente da população que vai se educando para cobrar seus direitos, para participar das decisões nacionais, sem que se perca nas maquinações midiáticas que a todo tempo dizem “não, não avance”.

Avançar hoje no Brasil é necessariamente manter as conquistas adquiridas – e não doadas. A chegada de um operário à presidência do país, de uma ex-guerrilheira à presidência do país cobra séculos de esquecimento a que foram relegados os que como eles participaram da subsistência em tempos áridos como o sertão, áridos como a espoliação mediada pelo capital estrangeiro que nos escravizou, com dívidas quase eternas na cultura, na saúde e na educação.

Haveria, de fato, outra opção? Votar contra o aborto, votar contra a eutanásia, votar contra as  pesquisas de ponta que tratam da vida enquanto ciência,  votar contra os homossexuais, votar contra as cotas, para quem acredita no estado laico e independente, não é uma opção válida.

Avançar hoje significa votar na Presidenta. Votar na consciência que tenho do que é política.


(oswaldo martins)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Edu Lobo - Camaleão (1978) - Completo/Full Album

Cabriola

1

educadas
na palma da mão
- dedurando celulares -

nas praças

vrianças veem
mas não sacam

(André Capilé -  Rapace - TextoTerritório)

Poemas eslavos

2

Amo os grandes vagabundos

os maravilhosos vagabundos

os vagabundos que planam pelas ruas das periferias

com asas sumptuosas

com pombas na cabeça

com o próprio coração,

como uma pedra, atado entre as mãos

amo os grandes vagabundos

os maravilhosos vagabundos

que , como martelos delirantes,

quebram a astúcia dos espelhos

e dizem

naquela sua gíria dura e estranha,

mas bela,

que deus também se revela

entre as pernas das prostitutas.


(Luís Costa)

domingo, 21 de setembro de 2014

fome

1 os ingredientes

cozinhou  batatas
cozinhou ovos
cozinhou couves
cozinhou bacalhau

2 o molho

cozinhou em azeite rodas de cebola
com azeitonas pretas
e um esguicho de vinagre

3 o vinho

abriu uma garrafa de maduro
verteu-o com cuidado na taça

4 o almoço

levantou-se da mesa
deixando prato e taça intactos
era outra a fome que tinha


elesbão ribeiro

21/09/14

Mímesis: desafio ao pensamento


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

duas do memorabilia

1

nas estradas batiam as mãos: um assalto,
um lugar chamado kindberg  e um carro
que se sacudia como uma locomotiva.

depois é que inventaram
a aids
e o politicamente correto.


4

era preciso ler cortázar
era preciso ler drummond

era preciso solfejar na física
era preciso calejar na língua

quando vinícius
deixou crescer o cabelo
e passou a usar suas guias

para mandar tudo e todos
a puta que o pariu

e foder à noite
as meninas do lugar.

(oswaldo martins)

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

falo

de priapo o deus potente
o falo
uma flor desusada
no quintal rubro das virgens
do ainda não

(oswaldo martins)

terça-feira, 9 de setembro de 2014

The Anna Akhmatova File (1989)- English Subtitles

MASAOKA SHIKI

Um cão morto
É arrastado
Pela corrente gelada


Meia-noite –
A Via Láctea
Inclina-se sobre um bambu


Debaixo do mosquiteiro
Ela dorme

No meio da luz dos pirilampos

Estatua de mármol.../

Estatua de mármol
De piedra o de esmeraldas,
De gente que no conoce sentidos,
Estatua de ángeles que no vuelan
Por que se les acabó la gasolina,
De magia congelada por patadas grises,
Estatua de música muda, ciega y sorda,
Estatua de seres que olvidaron vivir.


(Lina Peralta)

LOT

Ya lo veo salir triunfante,
entre la muchedumbre, en el puerto
con el ademán desmañado y silencioso de aquel que se despide
para volver en la tarde o en la noche,
con la misma mujer
al mismo bar
o al mismo muelle.

Anudo fuerte el alma al cuerpo,
y con el soplo gélido
-dibujando estelas en la madrugada-
empujo su barca,
que se abra la vela, y no le devuelva el tiempo.
Partieron las gaviotas en silencio.

Que vuele al fin, cimarrón,
sin volver atrás la vista:
Yo le salvo.

Plantaré para otros días
rosas de rizos blancos en mi tumba.


Para Samuel (1982- 2003)

(Laura Luna)

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

País

Tus ojos son de donde
la nieve no ha manchado
la luz, y entre las palmas
el aire
invisible es de claro.

Tu deseo es de donde
a los cuerpos se alía
lo animal con la gracia
secreta
de mirada y sonrisa.

Tu existir es de donde
percibe el pensamiento,
por la arena de mares
amigos,
la eternidad en tiempo.


(luis cernuda)

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Mariinha das bacias

Vivia-se sob o império das bacias. A água corria abundante sobre o corpo. Espremia-se a glande para saber das gonorreias. Mariinha, a grande mestra, pontificava sobre suas pupilas. Im antes de, água e sabão. Sobre filho, recomendava água fervente. Fio de puta é fio do mundo e minha casa não é paróquia de enjeitados. Dizia, pensando no futuro dela e de suas protegidas. Imaginava qual delas assumiria a casa, quando fosse se entregar aos turíbulos e às hóstias de todo dia.  Faltava pouco. Possuía já duas casas de bom tamanho que o arquiteto comprara no nome dela. Pensava em mais uma, mas o que tinha guardado não daria para tanto, pensava medindo a distância entre o desejo e a precisão.

O doutor aconselhava, o mercado ficava cada vez mais difícil; outras casas se abriam na cidade. Diziam de uma injeção milagrosa para os males do corpo. Será? Estaria passando seu tempo? Deolinda cuidava de sua paróquia com cuidado. Talvez, talvez. Quem sabe? Puta nova, mesmo castelã, ainda tinha algumas ilusões. Iria fazer negócio? Quando se encontravam eram tímidas e precavidas. Mariinha pensava. O que tinha? As melhores meninas da cidade, seu harém era escolhido a dedo, podia vendê-las? Calculava. A ordem de Maria, para seu caso, custava muito. O que apuraria na venda daria para uma vida de méritos? Duvidava.

Sentava na ampla sala, vazia e enorme àquela hora. As meninas preparavam as águas para a noite. Cantarolavam baixinho as músicas de suspiro, tristes sambas-canção. Mariinha matutava. Deolinda?


(oswaldo martins)

beleza

1
coubert

as de chupeta
as do prazer
e do humor

2

a tontura esplêndida
e polida que os ossos
adquirem

3
vasko popa

uma caveira ri
de outros ossos

4
carpe diem

o esqueleto quando em pó
antes da sombra do nada
a cocaína do universo

5
aretino

estranha metafísica
foder adão
foder eva

(oswaldo martins)