domingo, 31 de maio de 2015

A la desierta plaza

A la desierta plaza
conduce un laberinto de callejas.
A un lado, el viejo paredón sombrío
de una ruinosa iglesia;
a otro lado, la tapia blanquecina
de un huerto de cipreses y palmeras,
y, frente a mí, la casa,
y en la casa la reja
ante el cristal que levemente empaña
su figurilla plácida y risueña.
Me apartaré. No quiero
llamar a tu ventana... Primavera
viene ?su veste blanca
flota en el aire de la plaza muerta?;
viene a encender las rosas
rojas de tus rosales... Quiero verla...

 (Antonio Machado)

quarta-feira, 27 de maio de 2015

poesia catalã

passar de tot
Eduard Escoffet

l’amor
ho fa malbé tot;
fa malbé el sexe,
destrossa l’enteniment
i esblaima el color de la pell.
fa dels ulls un moble
i del llit un altre moble
–ara una vegada rere una altra–.
l’amor mata el flirteig,
mata el xarampió
i mata la mirada distreta
i redreça la moral
cap a inclinacions desconegudes.

l’amor
ho fa malbé tot:
enrogalla la veu,
desfà els plans i les vistes panoràmiques
i omple el cafè de grumolls
i de nervis desbocats les venes.
l’amor encalma la mar i els paisatges més dòcils,
deixa plans els peus plans
i plana la verga més fera.

l’amor
ho fa malbé tot:
et cobreix els ulls
i entre cortines i persianes
m’oblido de mi mateix,
els rius continuen sent els rius
i jo ja no sé què fer.


deixa passar

o amor
causa só estragos;
estraga o sexo,
destroça o juízo
e empalidece a pele.
faz dos olhos um móvel
e da cama outro móvel
– a cada vez seguida –.
o amor mata o romance,
mata o sarampo
e mata o olhar distraído
e redireciona a moral
para tendências desconhecidas.

o amor
causa só estragos:
enrouquece a voz,
desfaz os planos e as vistas panorâmicas
e enche o café de caroços
e de nervos desbocados as veias.
o amor acalma o mar e as paisagens mais dóceis,
deixa chatos os pés chatos
e achata a mais feroz das toras.

o amor
causa só estragos:
ele cobre seus olhos
e entre cortinas e persianas
me esqueço de mim mesmo,
os rios seguem sendo os rios
e eu já não sei o que fazer.


(tradução de Ricardo Domeneck)


segunda-feira, 25 de maio de 2015

o que da rua (não é de bilac alves de abreu)

hora de dizer que ora direis não ouvir estrelas
nem a rua do ouvidor geral 

nem na porta da colombo sassaricará
a melindrosa de tamancas

nunca a mariquinhas-casimira o abre-alas
das juras minhas

quero é fogo no rabo conhaque dubar
e a sirigaita de proa 

mas ora ora direis cheguei chegaste
em má em péssima hora

onde a caluda celuta escuta dos ais
o enleio dos seios

nada disso, cantarina, os peitos
mete despudorada e nua 

(oswaldo martins)

O objecto

Há que dizer-se das coisas
o somenos que elas são.
Se for um copo é um copo
se for um cão é um cão.
Mas quando o copo se parte
e quando o cão faz ão ão?
Então o copo é um caco
e um cão não passa dum cão.

Quatro cacos são um copo
quatro latidos um cão.
Mas se forem de vidraça
e logo foram janela?
Mas se forem de pirraça
e logo forem cadela?
E se o copo for rachado?
E se o cão não tiver dono?
Não é um copo é um gato
não é um cão é um chato
que nos interrompe o sono.

E se o chato não for chato
e apenas cão sem coleira?
E se o copo for de sopa?
Não é um copo é um prato
não é um cão é literato
que anda sem eira nem beira
e não ganha para a roupa.

E se o prato for de merda
e o literato de esquerda?
Parte-se o prato que é caco
mata-se o vate que é cão
e escreveremos então
parte prato sape gato
vai-te vate foge cão

Assim se chamam as coisas
pelos nomes que elas são.


Ary dos Santos

sexta-feira, 22 de maio de 2015

o que de lampião (não é de maria bonita)

1

olha-me o pé
sirvo taças de alabastrino ar

a rua bela como a rua bela
das sapatarias

meu bom jesus
proteja as mulheres da quinta

quando for sexta-feira da lua
em ponta d’unha

de haver no céu
o brilho seco dos gargantuas

2

as mocinhas a se despirem
no banho de rua

defendam, mocinhas, o seu
que é boa a rua como a rua

bela é a chita sobre o asfalto
o dorso arisco

das cidades rio das navalhas
de pouca barba

o meio macio dos rostos duros
olha o doce, iaiá

3

mariolas são obras de circo
a cidade em outono

como uma jangada cearense
vive o ai jesus das putas

cantam ipanemas as dupras
agras o cão passa

no colo da madama
em antitético dilema as mercedes

param nas casas velhas
e amam o pindório daquelas moças


(oswaldo martins)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

blow up

depois daquele beijo
nunca mais se viram

(elesbão ribeiro)

11/05/15

velasquez

esvaziar-se o limite da lata d’água
o que segue até a ignição do seco
num solavanco de marchas a ré

aquecer-se o resto do tronco teso
o que grita da forja a faca frágua
e silencia em roda do rodapé

criar-se o resto o lodo do contrapé
o que ecoa até o nada do burlesco
e estanca defronte ao rio e se esboroa.


(oswaldo martins) 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

coisas de aroma

de bobeira dentro de casa
rabisco trecos como este
começo uma aquarela frouxa

de noite revejo um filme besta
não pus os pés fora de casa
mas há um cheiro adocicado

perfume vindo vez por outra
me reanima aqui fechado
pois o que resta é abominável

(Ricardo Tollendal)