Em quatorze de julho faz 55 anos que estou no Brasil. Desta vez, comemoro os meus anos brasileiros em Portugal, para onde embarco no dia 11/07/ 07.
Já está agendado um passeio pelo rio da minha aldeia. Não sei o quanto ele dista do Tejo, se comparado com o Tejo, mas há de ser tão mentiroso quanto o Tejo, se comparado com o rio da aldeia do Caeiro.
Tenho-me posto a desenhar o mapa da minha aldeia. Sento-me no chão, no largo das Camboas, encostado à parede, onde me sentava para aquecer-me com o Sol. Se subir esta rua à esquerda, hei de encontrar a venda do tio Luiz Bailio e, em frente à venda, um campo de couves, onde apanhávamos cabos das couves e lutávamos espada. Ao chegar lá em cima, se dobrar à direita passo pelas escolas em que meus irmãos eram desasnados. Uma escola de um lado e a outra doutro. Suponho que seguindo por essa rua se chegue à igreja e ao cemitério.
Se, ao contrário, dobrarmos para a esquerda, encontramos os Bombeiros e a Escola Dramática. Na Escola Dramática fazia-se teatro e passava-se cinema. Foi lá qu’eu vi Joana D'arc (Ingrid Bergman?) a arder em chamas e Ofélia a boiar na água; foi lá qu’eu vi Sir Lawrence Olivier por-se a falar.
Um pouco mais abaixo está a venda do meu tio Manuel, irmão de minha mãe. Sobre o balcão um pipo de vinho; atrás, meio pipo, donde podíamos tirar-lhe algumas azeitonas. Se completarmos a curva pra esquerda, vamos pro cento da cidade. Ocorre-me agora que a igreja e o cemitério estejam aqui à direita.
Volto ao largo das Camboas, onde me aqueço com o Sol. Sobre o meu ombro esquerdo está a rua em que morei e nela a casa em que nasci. Seguindo-se por ela, vai-se chegar àquela estrada que nos leva ao centro do Porto. Foi por ela que vi meu pai ir/ vir para o Brasil.
Um pouco mais adiante, mas à direita, há um beco que se tiver saída, vai dar na estrada por onde se chega ao Porto.
Em frente a mim, há uma rua em curva qu’eu não sei em que lugar vai dar. Havia lá uma casa com uma pereira, mas nunca fui além das peras que comia.
Ainda para a direita, há uma ladeira que desce, que é continuação da primeira rua, aquela que sobe. Por esta ladeira, hei de encontrar a casa dos meus padrinhos. Por ela, hei de chegar à casa da minha tia Alice, irmã da minha mãe, e à casa das irmãs do meu pai.
Pois bem, desço a ladeira, mas não sei se sigo em frente ou se dobro à esquerda: por que caminho chego ao Douro? - o rio deu menino.
Ps- A UNESCO designou em 14 de Dezembro de 2001 a região vinhateira do Alto Douro (45°68' N, 5°93' W) na lista dos locais que são Património da Humanidade, na categoria de paisagem cultural.
Elesbão
Já está agendado um passeio pelo rio da minha aldeia. Não sei o quanto ele dista do Tejo, se comparado com o Tejo, mas há de ser tão mentiroso quanto o Tejo, se comparado com o rio da aldeia do Caeiro.
Tenho-me posto a desenhar o mapa da minha aldeia. Sento-me no chão, no largo das Camboas, encostado à parede, onde me sentava para aquecer-me com o Sol. Se subir esta rua à esquerda, hei de encontrar a venda do tio Luiz Bailio e, em frente à venda, um campo de couves, onde apanhávamos cabos das couves e lutávamos espada. Ao chegar lá em cima, se dobrar à direita passo pelas escolas em que meus irmãos eram desasnados. Uma escola de um lado e a outra doutro. Suponho que seguindo por essa rua se chegue à igreja e ao cemitério.
Se, ao contrário, dobrarmos para a esquerda, encontramos os Bombeiros e a Escola Dramática. Na Escola Dramática fazia-se teatro e passava-se cinema. Foi lá qu’eu vi Joana D'arc (Ingrid Bergman?) a arder em chamas e Ofélia a boiar na água; foi lá qu’eu vi Sir Lawrence Olivier por-se a falar.
Um pouco mais abaixo está a venda do meu tio Manuel, irmão de minha mãe. Sobre o balcão um pipo de vinho; atrás, meio pipo, donde podíamos tirar-lhe algumas azeitonas. Se completarmos a curva pra esquerda, vamos pro cento da cidade. Ocorre-me agora que a igreja e o cemitério estejam aqui à direita.
Volto ao largo das Camboas, onde me aqueço com o Sol. Sobre o meu ombro esquerdo está a rua em que morei e nela a casa em que nasci. Seguindo-se por ela, vai-se chegar àquela estrada que nos leva ao centro do Porto. Foi por ela que vi meu pai ir/ vir para o Brasil.
Um pouco mais adiante, mas à direita, há um beco que se tiver saída, vai dar na estrada por onde se chega ao Porto.
Em frente a mim, há uma rua em curva qu’eu não sei em que lugar vai dar. Havia lá uma casa com uma pereira, mas nunca fui além das peras que comia.
Ainda para a direita, há uma ladeira que desce, que é continuação da primeira rua, aquela que sobe. Por esta ladeira, hei de encontrar a casa dos meus padrinhos. Por ela, hei de chegar à casa da minha tia Alice, irmã da minha mãe, e à casa das irmãs do meu pai.
Pois bem, desço a ladeira, mas não sei se sigo em frente ou se dobro à esquerda: por que caminho chego ao Douro? - o rio deu menino.
Ps- A UNESCO designou em 14 de Dezembro de 2001 a região vinhateira do Alto Douro (45°68' N, 5°93' W) na lista dos locais que são Património da Humanidade, na categoria de paisagem cultural.
Elesbão
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