sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

campo dos lírios

  ao poeta mario faustino

o menino jesus
ao ver jesus pregado na cruz
ordenou aos soldados que descessem
o corpo daquele homem

atônitos ficaram os romanos
ao verem o menino

a carregar nos braços
o corpo de um deus
que há pouco haviam crucificado

elesbão ribeiro

09/08/13

poema salsicha ou receita para assar no fogo do diabão

a prolegômenos daqui a pregação dos rastafári
se mistura à dos pastores

chiquinho canta as artes da igreja engrossada
pelo canto do urubu rei

tudo no deus nos salva nos salvam o riso a corda
a chacota de todas as horas

no absenteísmo dos trouxas se resumem os concílios
das neo-virgens facebookianas

e eu rio rio rio rio – rio ao ver assarem-se as salsichas
do agora


(oswaldo martins)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

12 dos melhores livros lidos e relidos em 2013

1 – Composições de Juan Gelman – poesia
2 – Beleza e tristeza de Yasunari Kawabata – romance
3 – O fundamentalista relutante de Hoshin Hamid – romance
4 – Histórias de Paris de Mario Benedetti – contos
5 – Venta não de Alexandre Faria – poesia
6 – Estive lá fora de Ronaldo Correia de Brito – romance
7 – Corpo Estranho de Plínio Junqueira Smith - poesia
8 – Uma história de família de Silviano Santiago – romance
9 – Frestas de Luiz Costa Lima – Teoria da literatura
10 – Tempos de reflexão de Nadime Gordimer – ensaios
11 – Como fazer amor com um negro sem cansar de Dany Laferrièrre – romance
12 – Mudanças de Mo Yan – romance




sábado, 21 de dezembro de 2013

Pilulinha 36

Amor que serena, termina? e Com/posições são dois livros de poesia do poeta argentino Juan Gelman, traduzidos para o português por Eric Nepomuceno e Andityas Soares de Moura. Gelman nos dois pungentes livros trabalha até a exaustão essa mescla curiosa de expressão pessoal, ligada aos sentimentos da hora ou da vida inteira por que todos nós somos tocados, mesmo sem a necessidade de expressá-los e de regrá-los, expandindo-os até o limite do dizer mais além do que a língua permite, e a expressão do próprio poema como expressão antiga e constante da cultura humana.

Em Com/posições a presença constante do outro é a medida da própria expressão que os subverte, os torna seus; em Amor que serena, termina as experiências vivenciais do exílio, da morte e do desaparecimento são construídas sem a elas fazer referências diretas – perpassam mesmo todo o sentido do livro, mas deslocam-se as vivências para a reflexão mordida e reativa.

O poema de Judá Halevi, nascida em 1075 e morta em 1141, tendo vivido entre Tudela, Granada, Toledo, Córdoba e Alexandria, e a com/posição feita por Gelman revelam o processo do poeta. A morte do filho e da nora nas prisões argentinas, o sequestro da neta nascida na cadeia da ditatura portenha determinam certa contenção de sentidos que se revelam mais amplos quando o poema desloca os sentidos e explodem como uma granada na voz da própria poesia.

Judá Halevi

Ofra lava sus vestidos em el agua de mis lagrimas
Y los pone a secar al sol de su hermosura.
No necessita el agua de las fuentes, pues tiene la de mis ojos
Ni outro sol que el de su beleza.

Lavar

em minhas lágrimas lavo as roupas do amor/
estendo-as ao sol de tua beleza/
não necessitam de fonte: estão meus olhos/
nem de manhã: só de teu resplendor/

Anoto apenas: este verso “não necessitam de fonte” cria uma perspectiva nova para o belo poema de Halevi. Aqui, tocado pela ausência da manhã, pela impossibilidade de que surjam manhãs, a poesia fala de uma ausência entranhada neste eu que lava as roupas do amor. Vê de dentro. A primeira pessoa neste poema é tudo e o diferencia do de Halevi. Há um movimento muito bonito de distensão e contenção dos símbolos demarcados pelo poema primeiro.

PRESENCIA DEL OTOÑO

Debí decir te amo.
Pero estaba el otoño haciendo señas,
clavándome sus puertas en el alma.

Amada, tú, recíbelo.
Vete por él, transporta tu dulzura
por su dulzura madre.
Vete por él, por él, otoño duro,
otoño suave en quien reclino mi aire.

Vete por él, amada.
No soy yo él que te ama este minuto.
Es él en mí, su invento.
Un lento asesinato de ternura.

A última estrofe do poema reconstrói o significado do poema, a partir do vazio que se revela nestes belos versos finais, que retiram do amor sua mesquinhez burguesa e o ampliam para  a precisão da linguagem que Juan Gelman faz percorrer em toda sua obra.


(oswaldo martins)

el extranjero

con el cigarro encendido mi padre se paseaba horas y horas
por la oscuridad del comedor entre las plantas del patio
su mujer le decía "dejate de dar vueltas josé"
pero él no quería comer ni dormir ni deternerse
se le gastaron los pies una tarde
se dio vuelta y cerró los ojos como un pajarito

(juan Gelman)

Juan Gelman

Com/posiciones

EL JAZMÍN

Mirá el jazmín/
sus hojas verdes/
sus tallos verdes como el crisólito/
sus flores blancas como pechos/
rojo el zarcillo/
como mujer lunar
que derramó la sangre de un hombre/
inocente

samuel hanagid






sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

fragmentos de Safo

Fragmento 71

E a cobriu com um lençol de linho delicado

Fragmento 74

Não sei como escolher:
Em mim, há dois intentos

Fragmento 81

é bom ter cuidado com a língua
quando a paixão domina


(safo) 

buquê de flores

cacto

nua flor
do meu deserto

nele há pedras
do dizer

em poesia


orquídea

a flor
pendida na casca

anuncia a solidão
da árvore


lótus

no encantado
silencio

ali a pedra-flor
é o rosto

o ermo
do oco


rosa

no seco
a rosa

alteia
sem sombras

em linha reta
o frescor

que a si se nega


(oswaldo martins)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

originais do lapa

 
 
 
 
 

A ingaia ciência

A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,

a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência

e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência


(Carlos Drummond de Andrade – Claro enigma)

4 poemas sobre cores

1

afeitas a nuvens
e belas palavras

nas surdinas onde se tecem
vestidos leves de ar

as cores
dispõem feixes elétricos

e mistérios


2

tocam palavras com o ar
as moças voam

os altos edifícios
personagens de chagall

inventam cores
de passear sobre as casas

da cidade


3

as mãos como retinas cegas
de artes perdidas

nos bolsos da calça
desenham volutas de vento

sobre os muros anunciam
perguntas como um desejo


4

um violoncelista toca
as nuvens

azuis como os balaústres
as arcadas

em ruínas


(oswaldo martins)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Promoção de Natal


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

fotografia

para cristina terror

no sertão
o retrato em sépia
o estar estampado nas calças
simples como o amor dos homens

no sertão de cristina
um gato para passar a mão
alpendre de ficar no para sempre
a nonada o tempo refaz em fotografia


(oswaldo martins)

Silêncio e caos

VILMA COSTA


Venta não, de Alexandre Faria, reúne noventa poemas subdivididos em dois grupos. O primeiro, “tudo muito sempre”, possui oitenta e um poemas. O segundo, “o pai era um”, agrupa os nove restantes, cada qual formado por nove versos. Há uma estrutura diferenciada entre os dois blocos, tanto do ponto de vista formal quanto de conteúdo semântico. A numeração desses textos, e não as páginas do livro, chama a atenção pelo rigor linear e crescente do primeiro bloco (1 a 81), enquanto os nove últimos se apresentam em ordem inversa (de 90 a 82). Podemos considerar que a ordem numérica quebrada com a segunda parte do livro, além de estabelecer um corte entre as duas, põe em questão a equação matemática. Sugere que o livro é para ser lido não apenas do início ao fim, mas do meio ao fim, do fim ao início, do fim ao meio — como deve ser lida qualquer intrigante coletânea de poesia.
Uma breve consulta virtual aponta a ligação com o livro chinês Tao te ching (O livro do caminho e da virtude), atribuído a Lao Tzi, uma das mais conhecidas e importantes obras da literatura da China, supostamente escrita entre 350 e 250 a.C. do calendário ocidental, dividida também em oitenta e um fragmentos e ensinamento filosóficos. Alguns destes elementos são re-semantizados, outros confrontados com questões contemporâneas e mesclados com novos conteúdos, ou reafirmados através do tempo, nesse aqui e agora. Homenagem, reiteração, paródia, pastiche? Talvez um pouco de tudo, ou nada disso. Sobrevivem nos poemas de Faria, além do número de capítulos da primeira parte, algumas questões sobre o tempo, a busca inútil de origem, a simplicidade, a contenção de paixões intempestivas, a crítica à pretensão de controlar o inexorável da vida. São também fragmentos sem títulos, sem letras maiúsculas (como no alfabeto chinês), econômicos de pontuação e conectivos.
Os poemas de “tudo muito sempre” carregam entre si uma estreita relação, mas se distanciam dos de “o pai era um”, como se o mesmo livro contivesse dois. Contudo, no seu conjunto a obra busca uma unidade. Do ponto de vista temático, há uma multiplicidade de questões que abordam conteúdos filosóficos, sociais, existenciais e estéticos — fundamentalmente humanos, demasiado humanos.
Sabedoria e silêncio
A leitura da primeira parte começa pela busca de um sujeito lírico que parece se esconder de sua individualidade através de uma voz coletiva. Esta, dirigindo-se a um interlocutor, paira, contém-se concisa, quebra a sintaxe e, conseqüentemente, priva-se por vezes da própria comunicação do que pretende dizer. Trata-se de uma dicção fragmentada pelos silêncios, não meras pausas, mas que funcionam como elementos estruturais dos textos. O primeiro desafio para ser encarado é a página em branco e, sobre ela, dar nome ao que vem desse vazio existencial ou natural que, filosoficamente, manifesta-se nessa voz, como que ausente de identidade pessoal. No poema 15: “como se tocasse/ o silêncio// a sintonia dos olhos/ não cabe na boca”; ou no 12: “(…) será também no vazio/ o gozo/ das coisas”.
É no vazio das páginas que o gozo da poesia se realiza. As palavras brincam, buscam-se e perdem-se na apologia do aquiagora, reincidente em muitos momentos, por um sujeito que se ausenta, exime-se, “e silencia/ dentadura na pele/ do infinito”. Afinal, “o mapa do tesouso/ silencia”. O que podemos cogitar é que esse sujeito lírico que tece sabedorias a um interlocutor desdobra-se nesse outro a quem se dirige. Antes do sábio que recomenda, é o humano que precisa do outro para se conter e seguir o caminho incerto desse aqui e agora do nosso tempo, consciente de sua condição.
que nada
!
sabe
Esta consciência, apesar de remeter à falsa modéstia colocada na boca de Sócrates — “Só sei que nada sei” —, representa uma convicção quanto ao tema: “sabedoria/ a avó analfabeta// o resto/ erudição e velhice”.
No único texto de “tudo muito sempre” em que o sujeito expressa-se em primeira pessoa, a questão também é colocada: “não sei/ não quero saber/ e vou aprendendo/ a não ter raiva/ de quem pensa / que sabe”.
Rede textual
Alexandre Faria não é estreante na produção poética, pelo contrário, atua regularmente em sites, saraus, oficinas de poesia, ensaios literários e magistério. O poema a seguir reporta-se a um outro livro do autor, Lágrima palhaça, que versa sobre o circo da vida, suas quedas e glórias: “palhaço chora// equilibrista/ trapezista/ malabares/ caem// leão devora/ domador// nesse circo// há glória/ também”.
Enquanto a primeira parte de Venta não prima pela concisão, a segunda é menos econômica, dando voz à fluência narrativa de um sujeito presente que se manifesta em primeira pessoa e ensaia até uma referência autobiográfica: “1970 (quando nasci) me implantaram o programa/ desde então frutifica cultivar a fé nos dados/ (…)/ mas defeito de fábrica humana falha/ durou menos que minha vida aquele chip”.
O tempo parece restringir-se ao agora, o que significa que o passado ficou para trás, são poucas reminiscências. O espaço é aqui, folha branca tentando dizer o indizível. Um agora contemporâneo imediato que se contrapõe ao tempo mítico e transcendental preservado e reincidente no tempo presente: o eterno retorno do mesmo, privilegiado no subtítulo dessa primeira parte: “tudo muito sempre”.
se eterno
nunca
se eterno
onde?
só o que é com
aqui
agora
Alguns poemas, se lidos separadamente, parecem herméticos demais, a começar pelo primeiro: “o que é com/ só/ aqui e agora// goza um enquanto// se insondável// nem sonhes”.
Mas se compreendidos como fios de uma mesma rede textual, incorporados aos outros, passam a somar a multiplicidade de sentidos que se entrecruzam neste tecido-texto em permanente tensão. Esta se estabelece em vários níveis, a começar pelo confronto filosófico ou cultural de pontos de vista orientais e ocidentais. “pois no princípio/ o silêncio/ demiurgo.” Mas no princípio não seria o verbo divino? Não necessariamente: “o verbo/ comprava barulho// silêncio a barganha/ da criação”.
Conflitam aí a precariedade do verbo e a teimosia poética compulsiva que atravessa o Lutador, lembrando Drummond: “lutar com palavras/ é a luta mais vã./ Entanto lutamos…”. A luta acontece também entre o erotismo e a necessidade de contensão dos impulsos, entre Dionísio e um Apolo predominante.
paixões
são para errar a mão
salgardem sempre
(…)
Apesar de sugerir “(…) rasga a receita/ da paixão medida/ não há quem avise”, Apolo predomina com a recomendação de cautela: “limites: avança/ até serem teus/ então recolhe”.
Enquanto no taoísmo chinês tudo vem do vazio e o recolhimento é tranqüilo e natural, para o Apolo pagão e Ocidental a origem era o Caos e “a vida é luta renhida/ viver é lutar”. Segundo Nietzsche, o apolinismo grego teve de brotar de um fundo dionisíaco: “O grego dionisíaco tinha necessidade de se tornar apolíneo: isso significa quebrar sua vontade de descomunal, múltiplo, incerto, assustador, em sua vontade de medida, de simplicidade, de ordenação à regra e ao conceito”.
mas venta não ê meu povo guenta aí —
(…)
inventa não meu que o povo inda há de ver
veredas no garimpo da poesia nas favelas
(…)
É só desse fundo dionísiaco que pode brotar a poesia, mesmo que a racionalidade filosófica o tente conter. Na vida e na arte, neste aqui e agora, uma lágrima palhaça cai no picadeiro do poeta, homem múltiplo e incerto que, apesar do “trágico desconcerto” de um “chip que deu pau”, ainda ama, ainda sonha.


(Vilma Costa - Jornal Rascunho)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

MULHER VISTA DO ALTO DE UMA PIRÂMIDE

Eu vejo em ti as épocas que já viveste
E as épocas que ainda tens para viver.
Minha ternura é feita de todas as ternuras
Que descem sobre nós desde o começo de Adão.
Estás encarcerada nas formas
Que se engrenam em outras na corrente dos séculos.
E outras formas estão ansiosas por despontarem em ti.
Quando eu te contemplo
Vejo tatuada no teu corpo
A história de todas as gerações.
Encerras tua filha, tua neta e a neta de tua neta.
Ó mulher, tu és a convergência de dois mundos.
Quando te olho a extensão do tempo se desdobra ante mim.


(Murilo Mendes – As Metamorfoses)

domingo, 8 de dezembro de 2013

lapa

          mangue minhas rugas onde dejetos fedem
          ardor e sementes trouxeram no meio-fio
          amalgamadas colombinas tb caco como ta
          tear cancro cumular sevícias e baratas

Flébil

Fino, não é pezinho
para sandália delicada
solado tiras desenho

Cor leve de tom pra pé
depois da noite,
a brisa flébil nos fios da pele.


(Cláudio Correia Leitão)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

pilulinha 35

A poesia de Elesbão Ribeiro, cujo primeiro livro, Estação piedade, traz o frescor de um olhar não viciado sobre a cidade, possui uma deriva especial. Os versos bem medidos, sem excessos, enxutos, criam uma expectativa no leitor que resulta do caldo cultural que perpassa a cidade nestes últimos quarenta anos.

Desde os cinemas dos bairros que se transformaram em templos religiosos às festas populares como a celebração de Cosme e Damião, a poesia de Elesbão Ribeiro associa uma nova perspectiva, um olhar inusitado, apaixonado, mas crítico, do espaço urbano, que ultrapassa os limites dos bem falantes e repetitivos poetas cariocas, com as suas figuras de sempre, os cristos, os corcovados, as praias. Recolhe em si o melhor Bandeira e o distende até uma dicção que lhe é própria.  

O sotaque de piscar o olho para a herança portuguesa convive com maestria com a boa malandragem, em seus recantos mais sutis, da linguagem da cidade. Assim, as percepções da alma e do corpo, sobretudo o feminino, se entregam a uma aguda sondagem da presença, em linguagem, de uma especificidade tanto corrente quanto inusitada. O triângulo isósceles da mulher de Tales de Mileto se transforma numa bem sabida, esperta, – anoto que o adjetivo aqui melhor descreve a poesia do autor – teoria geométrica que ao mesmo tempo se descreve no seu reverso.

O bom negro, o bom branco e o bom sotaque d’além-mar, em Estação piedade, gingam no corpo das belas mulheres, no olhar deste poeta surpreendente em que se constitui Elesbão Ribeiro.


(oswaldo martins)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

os nus

3

escrevo
palavras de fogo

quando nua
desata

os nós
de minha conduta


(oswaldo martins os nus lucidez do oco)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Coleção de Poesia da Editora TextoTerritório



rabeca

1
dois rostos roídos
cantam dísticos

o toque o chiado as rugas a vida

o cabelo ao vento
dela e dele

2

há um choro
no canto da sala

outros na mão no bojo no arco

o tempo vicioso
sem triunfo

3

o estojo verde
quem de fechar

há em seu tampo em seu lenho sua nau

a música toca
o avejão escuso


(oswaldo martins)