segunda-feira, 30 de maio de 2011

dois poemas do Língua Nua

exilada
de meus desejos

crio em mim
homens calcinados

para lembrá-los
da paixão

que nos invejam
os deuses

*

por isso me arrasto
sobre a terra
ganem vitupérios

para ainda provar
o gozo

da desobediência
foi que clamei

(oswaldo martins)

sábado, 21 de maio de 2011

Apresentado o Língua Nua

Abaixo o texto que o Júlio Diniz escreveu para prefaciar o Língua Nua, livro meu e de Elvira Vigna.


Prefácio
Júlio Diniz
A noção de parceria, em particular no campo das artes, tem sofrido constantes modificações. Realizar um projeto que envolve distintas mãos não se resume a uma soma de esforços e busca de complemento. Mais do que isso, a necessária comunhão entre linguagens e estruturas distintas se afirma na suplementaridade de suas diversidades e objetivos.
Há uma tradição de diálogo já firmada entre o livro e as artes plásticas, em especial o desenho e a pintura. São inúmeros os exemplos de clássicos da literatura ocidental ilustrados por artistas consagrados. Mas poderíamos ainda afirmar que traços, figuras e formas apenas ilustram e adornam a obra, a escritura, o corpo textual?
Se tomarmos como exemplo uma das edições de Les fleurs du mal de Baudelaire, primorosamente rasurado pelo delicado traço de Matisse, veremos que há muito não se aplica a esse constructo de artistas conceitos como ilustração e adorno. Matisse relê Baudelaire e reescreve em níveis distintos e suplementares as suas/dele flores do mal.
A constatação exposta acima aplica-se com propriedade ao livro Língua nua, uma bem urdida trama de conceitos, textualidade e imagens poéticas concebida e construída por dois artistas contemporâneos. A parceria entre o poeta Oswaldo Martins e a desenhista Elvira Vigna reafirma a vocação desta obra para a dialogia, a pluralidade e o apagamento de fronteiras rígidas entre diferentes estéticas.
O livro é dividido em dois grandes movimentos, em duas partes, que são, e podem não ser, independentes do todo. Como numa peça musical, o tema que atravessa a obra é o erotismo, suas variações, improvisos e repetições. Poemas e desenhos estão colocados lado a lado em harmônica dissonância, seja pelo viés do gênero, seja pela distribuição espacial dos versos.
O primeiro movimento do livro centra-se no que poderíamos denominar “série feminina”. São vinte e cinco poemas e desenhos que, sob o signo hegemônico da economia verbal e da potência de uma poética do menos, desnudam o desejo, o corpo e a linguagem do prazer e da dor, sendo a mulher a personagem da cena e da obscena. O erotismo transforma-se num exercício minimalista na afiada linguagem do poeta e da artista plástica.
A “série masculina” constitui a outra metade deste livro. A verticalidade dos poemas da primeira série é praticamente substituída pela horizontalidade quase-prosa dos vinte e cinco textos e desenhos desta parte. Oswaldo imprime aos seus escritos um ritmo acelerado, sem nenhuma pausa prevista nem pontuação indicada, marcando pela respiração acelerada o lugar do gozo da nua língua de sua poética.

O resultado final é produto de uma refinada artesania de palavras e imagens. Os traços dos desenhos de Elvira adentram e se confundem no corpo dos poemas de Oswaldo, provocando distintas leituras sobre o lugar do erotismo no espaço dos afetos. Uma parceria em tom maior, sem dúvida.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Otto Dix Dois poemas para dois quadros no desestudos


otto dix/kafka


numa rua de praga
vendem-se pernas

e

mecânicas abusivas
para um acórdão

onde os homens
ou não têm

ou as têm
em demasia


(oswaldo martins)









otto dix/baudelaire

o marchand d'allumets
sobre a caixa de fósforas
olha
pragueja nas esquinas

uma mulher- majestosa - passa
e o cão mija na ausência
das pernas

(oswaldo martins)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

8

a maçã
que ofertou eva a adão

é o pomo de ouro
que as cuidadosas mamães
ensinam

antes
do delírio indomável

(oswaldo martins)

A Pomba

Vejam, amigos, as edições on-line da revista A Pomba.
Para abrir o link basta clicar sobre o título.

Boa leitura.


quarta-feira, 11 de maio de 2011

Prólogos 1

Viajar, perder países

(Enrique Vila-Matas)

Hace unos años comenzaron a aparecer unos graffiti misteriosos en los muros de la ciudad nueva de Fez, en Marruecos. Se descubrió que los trazaba un vagabundo, un campesino emigrado que no se había integrado en la vida urbana y que para orientarse debía marcar itinerarios de su propio mapa secreto, superponiéndolos a la topografía de la ciudad moderna que le era extraña y hostil.

Mi idea, al iniciar este libro contra la vida extraña y hostil, es obrar de forma parecida a la del vagabundo de Fez, es decir, intentar orientarme en el laberinto del suicidio a base de marcar el itinerario de mi propio mapa secreto y literario y esperar a que éste coincida con el que tanto atrajo a mi personaje favorito, aquel romano de quien Savinio en Melancolía Hermética nos dice que, a grandes rasgos, viajaba en un principio sumido en la nostalgia, más tarde fue invadido por una tristeza muy humorística, buscó después la serenidad helénica y finalmente -«Intenten, si pueden, detener a un hombre que viaja con su suicidio en el ojal», decía Rigaut- se dio digna muerte a sí mismo, y lo hizo de una manera osada, como protesta por tanta estupidez y en la plenitud de una pasión, pues no deseaba diluirse oscuramente con el paso de los años.

«Viajo para conocer mi geografía», escribió un loco, a principios de siglo, en los muros de un manicomio francés. Y eso me lleva a pensar en Pessoa («Viajar, perder países») y a parafrasearlo: Viajar, perder suicidios; perderlos todos. Viajar hasta que se agoten en el libro las nobles opciones de muerte que existen. Y entonces cuando todo haya terminado, dejar que el lector proceda de forma opuesta y simétrica a la del vagabundo de Fez y que, con cierta locura cartográfica, actúe como Opicinus, un sacerdote italiano de comienzos del trescientos, cuya obsesión dominante era interpretar el significado de los mapas geográficos, proyectar su mundo interior sobre ellos -no hacía más que dibujar las formas de las costas del Mediterráneo a lo largo y a lo ancho, superponiéndole a veces el dibujo del mismo mapa orientado de otra manera, y en estos trazados geográficos dibujaba personajes de su vida y escribía sus opiniones acerca de cualquier tema-, es decir, dejar que el lector proyecte su propio mundo interior sobre el mapa secreto y literario de este itinerario moral que aquí mismo ya nace suicidado.

(Prólogo de Suicidios ejemplares)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Do romancero Gitano

Romancede la luna, luna

La luna vino a la fragua
con su polizón de nardos.
El niño la mira, mira.
El niño la está mirando.
En el aire conmovido
mueve la luna sus brazos
y enseña, lúbrica y pura,
sus senos de duro estaño.
—Huye luna, luna, luna.
Si vinieran los gitanos,
harían con tu corazón
collares y anillos blancos.
—Niño, déjame que baile.
Cuando vengan los gitanos,
te encontrarán sobre el yunque
con los ojillos cerrados.
—Huye, luna, luna, luna,
que ya siento los caballos.
—Niño, déjame, no pises
mi blancor almidonado

El jinete se acercaba
tocando el tambor del llano.
Dentro de la fragua el niño
tiene los ojos cerrados.

Por el olivar venían,
bronce y sueño, los gitanos.
Las cabezas levantadas
y los ojos entornados.

¡Cómo canta la zumaya,
ay, cómo canta en el árbol!
Por el cielo va la luna
con un niño de la mano.

Dentro de la fragua lloran,
dando gritos, los gitanos.
El aire la vela, vela.
El aire la está velando.


(Federico García Lorca)

sábado, 7 de maio de 2011

hierática

para o nilson

ouvir guilherme – um sabor a solo
dos sábios videvidentes
dos sábios das calçadas

luz das estrelas em
varal de madrugadas

deambulante da poesia
entre a flor e o espinho

fio ou atavio
da vida

como as pérolas raras
da iluminação

(oswaldo martins)

terça-feira, 3 de maio de 2011

festa 69

enquanto os convidados
ululam pululam

as caravelas
tangem a cruz vermelha
do progresso

sob a bandeira

do eu te daria o céu
em meu mundo meia nove

(oswaldo martins)