terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Memórias do filho do sorveteiro

Não sei quantas horas depois resolveu parar. Levantou da cama e acendeu a luz. Antes não tivesse acendido.

__ Ai, menino, você me ralou a boceta. Gosta tanto assim?
__ Gosto.

Por fim a vi nua. A barriga flácida, as pernas e as coxas cobertas de varizes, os peitos grandes e caídos, a pele suja e encardida, os dentes amarelos e podres. Olhou para mim com as mãos na cintura e riu:

__ Gosta mesmo de mim? Olhe bem.

E deu um giro, alegre, como uma modelo, como uma ninfa púbere com todas as medidas do cânone grego. Olhei bem para ela e me deu raiva de mim mesmo. Ou asco. Não sei.

(Pedro Juan Gutierrez, 2005 p. 15 -16)
Há no aguarrás um texto que escrevi sobre este livro. Vejam no sites onde escrevo.

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