quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Diário de Manuel

VIII

Tendo saído a promoção de Misael, ele trouxe vinho. Bebemos em silêncio – a vida no Estácio era boa – corria sem sustos, sem deslizes. Eu remoçava, bem tratada. Bebemos o vinho, ele puxou-me pela mão – frouxamente – até o quarto, retirou sua roupa, colocou o pijama. Deu-me um longo beijo na testa, virou-se para o lado e dormiu. Passei a noite olhando o Misael dormir.

Quando acordou pela manhã, avisei que ia demorar a voltar, chegaria tarde, talvez dormisse fora. Foi a primeira vez. Inventei uma irmã, lá pelos lados da Constituição. Esperei que saísse, tomei um bom banho, passei perfume – Misael me dera um perfume caro, cheiroso. Esmalte vermelho – as unhas estavam bem cuidadas, limpas. E pela tarde escapuli.

Aprendera que Misael era metódico. Passava sempre pelas mesmas ruas. Da Avenida Presidente Antônio Carlos onde trabalhava, caminhava até a Rio Branco, onde pegava um bonde para casa. Espreitei distante, para confirmar. Pegou o bonde por volta das seis horas da tarde; tinha um buquê de flores na mão. Quando o ônibus se foi, suspirei e me dirigi à Cinelândia, onde havia diversos bares e muitos homens esperando por um fim de noite mais digno do que o dia de trabalho.

(oswaldo martins)

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