sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

MIGRAÇÃO

Quando tive um velocípede e rodava pela Rua da Praia e os bondes de Niterói eram vistos da areia ou da baía sobre a murada e os ônibus de fumaça preta ainda não faziam tanto mal e os trens ficavam cada vez mais escassos e sem trilhos e as barcas apitavam pungentes perdidas na neblina dos dias de inverno, eu nada sabia de Babel e Sião nem de Camões, mas encontrava expressão de beleza e refinamento na saudade cotidiana arrastando-se lenta pela casa e no tom clássico repetido de trechos de desterro do Antigo Testamento relidos em voz solene, em falas de exílio e de sua dor.
(Cláudio Correia Leitão)

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