quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

baudelaireana

A Maria era mulher do Viana e o Viana era o homem da Maria. Um casal. Íamos, aos sábados, na casa deles, ver o Valdemar Sujeira fazer sujeira no ring do Tele-catch - ainda não tínhamos televisão.

A Maria tinha sido cigarreira em Portugal. Cigarreiras eram mulheres que trabalhavam em fábricas de cigarros embrulhando cigarros. Falaram, certa vez, o Viana, que era ourives, a Maria, que agora era só dona de casa, e os meus pais sobre uma greve de cigarreiras em Portugal salazarista.

Vendo-te agora tão feliz a desembrulhar o bombom que te trouxe, e que supões, com razão, ser prova do amor que tenho por ti, lembrei-me da Maria cigarreira. Mastiga com prazer o bombom. Gosto de ser comido assim. Mas não ignores o embrulho, o invólucro.

Se crês que o amor que tenho por ti está no chocolate que mastigas com tanto prazer, lembra-te, também, que para tanto prazer, certamente, foi preciso fazer uma greve.

(Elesbão)

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