terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Travessuras da menina má

Mas o fato mais notável daquele verão foi a chegada a Miraflores, diretamente do Chile, seu distante país, de duas irmãs cuja presença marcante e inconfundível jeito de falar, rapidinho, esquecendo as últimas sílabas das palavras e arrematando as frases com uma exclamação aspirada que soava como um "pueh", deixa­ram abobalhados todos os miraflorenses que acabavam de trocar as calças curtas pelas compridas. E eu, mais do que qualquer outro.

A mais alta parecia ser mais nova e vice-versa. A mais velha chamava-se Lily e era um pouco mais baixinha que Lucy, que tinha um ano menos. Lily devia estar com 14 ou 15 anos, no máximo, e Lucy, com 13 ou 14. O adjetivo marcante parecia ter sido inventado para elas; mas, sem deixar de sê-lo, Lucy era menos marcante que a irmã, não só porque seu cabelo era menos louro e mais curto e se vestia com menos atrevimento que Lily, mas também porque era mais calada e, na hora de dançar, apesar de também fazer firulas e requebrar a cintura com uma audácia que nenhuma miraflorense se atreveria a assumir, parecia uma garota recatada, inibida e quase insípida em comparação com aquele pião, aquela labareda ao vento, aquele fogo-fátuo que era Lily quando, colocados os discos na vitrola, o mambo explodia e começávamos todos a dançar.

(Llosa, Mário Vargas. In Travessuras da menina má. 2006. Objetiva)

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