terça-feira, 4 de junho de 2013

Vadinho Velhinho

E SÓ NESSE DIA OUTRO BORGES NÃO SERÁS

Nos teus deslumbrados olhos um tigre inteiramente doirado
E um outro inteiramente preto disputam os anjos

De Blake. Frios, esperam os espelhos que acordes
Para que te nomeiem. Já não sabe o labirinto

Nem o sul e as pampas ou o degolado templo
De Dagon o sabem — do antigo e secreto caminho

Que a teus olhos de volta conduz. A mão dita-te
O epitáfio e lê-te a rosa o esquecimento qu’inda luz.

O caixão, que por Genebra ninguém viu passar, cru
Levam-no Muraña e, reconciliados, os irmãos Iberra.

Um dia, quando do teu sono acordares, Georgie,
Banhada em êxtase e tango, terás defronte a ti, sob a Lua,

Um infame, um vil, a limpar-te na glande o resto do sêmen
Com uma navalha que a mais nenhuma mão obedecerá.

Vadinho Velhinho

Calheta de São Miguel, interior de Santiago Nascido (Cabo Verde), em 29 de maio de 1961.

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