dizem poesia
quando o sol se põe nas areias de ipanema
quando as moças passeiam nas areias
das ipanemas leblons copacabanas
dizem poesia
quando as mil e
uma invenções dos poetas das ipanemas leblons copacabanas elegem-se ao abrigo
das barracas bonitinhas das palavras e as douram ao sol e o aplaudem atônitos desta beleza fugaz
dizem poesia
quando passeiam
e se encantam, coitados, com o espetáculo provinciano de montanha e mar e de
uns para outros sorriem e colecionam autógrafos e afagos para a posteridade
dizem poesia
quando se
romantizam
quando sucumbem
de afasia
quando se vestem
senhores poetas
quando sucumbem
sob o olhar das bem amadas
quando sucumbem
ao ai jesus aos credos variados das musas
dizem poesia
e esquecem de
mandela
e como se
falassem cowboys dos botecos de
esquina
usam no coldre os poemas do sr.
erza pound et ali
usam no coldre a
cultura do ouvir dizer e as balas e o mastim
dizem poesia
e esquecem das
mandelas dos jacarés das vila-cruzeiros
e como se
falassem da gruta alheia no máximo se embelezam com as belezas das belezas de
elza soares, quando canta, voz de nós, que o haiti é aqui e não nas salas
apalacetadas da poesia de classe média e provincial
da poesia pedro
bial
da poesia pedro
chacal
da poesia pedro
cabral
da poesia au au
au
dizem poesia
e esquecem as
praças impudicas da república esburacada
as praças
impudicas da república no mato e só aplaudem a polícia
quando o mastim
está adornado do exotismo dona marta do exotismo vidigal do exotismo salve salve das rocinhas do exotismo
da domesticação a ponto de bala e cavalaria a ponto de bala e dança que vê que
o filho – que não foge à luta – anda nos
cárceres da república
dizem poesia
e cantam na
praça contra o voto popular disfarçados de pequenos rufiões da beleza
dizem poesia
e cantam na
praça contra os micro vestidos do funk como cantaram contra as umbigadas de
antanho para que a mordida das sublimes cachorras não lhes arranque do lugar
sossego em que se encostaram
dizem poesia
e são o encosto
do vago sentimento do alto risível da grande poesia
dizem poesia
e são o escombro
da cidade
dizem poesia
e beijam o pé da
musa citadina de ipanema et caterva
poetas de si
mesmos e de seus asseclas que fazem propaganda competente e vendem a cidade
para o uso de ninguém
(oswaldo
martins)
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