quinta-feira, 27 de junho de 2013

antiode para ipanema et caterva

dizem poesia
quando o sol se põe nas areias de ipanema
quando as moças passeiam nas areias das ipanemas leblons copacabanas

dizem poesia
quando as mil e uma invenções dos poetas das ipanemas leblons copacabanas elegem-se ao abrigo das barracas bonitinhas das palavras e as douram ao  sol e o aplaudem atônitos desta beleza fugaz

dizem poesia
quando passeiam e se encantam, coitados, com o espetáculo provinciano de montanha e mar e de uns para outros sorriem e colecionam autógrafos e afagos para a posteridade

dizem poesia
quando se romantizam
quando sucumbem de afasia
quando se vestem senhores poetas
quando sucumbem sob o olhar das bem amadas
quando sucumbem ao ai jesus aos credos variados das musas

dizem poesia
e esquecem de mandela
e como se falassem cowboys dos botecos de esquina
usam no coldre os poemas do sr. erza pound et ali
usam no coldre a cultura do ouvir dizer e as balas e o mastim

dizem poesia
e esquecem das mandelas dos jacarés das vila-cruzeiros
e como se falassem da gruta alheia no máximo se embelezam com as belezas das belezas de elza soares, quando canta, voz de nós, que o haiti é aqui e não nas salas apalacetadas da poesia de classe média e provincial
da poesia pedro bial
da poesia pedro chacal
da poesia pedro cabral
da poesia au au au

dizem poesia
e esquecem as praças impudicas da república esburacada
as praças impudicas da república no mato e só aplaudem a polícia
quando o mastim está adornado do exotismo dona marta do exotismo vidigal  do exotismo salve salve das rocinhas do exotismo da domesticação a ponto de bala e cavalaria a ponto de bala e dança que vê que o filho –  que não foge à luta – anda nos cárceres da república

dizem poesia
e cantam na praça contra o voto popular disfarçados de pequenos rufiões da beleza

dizem poesia
e cantam na praça contra os micro vestidos do funk como cantaram contra as umbigadas de antanho para que a mordida das sublimes cachorras não lhes arranque do lugar sossego em que se encostaram

dizem poesia
e são o encosto do vago sentimento do alto risível da grande poesia

dizem poesia
e são o escombro da cidade

dizem poesia
e beijam o pé da musa citadina de ipanema  et caterva
poetas de si mesmos e de seus asseclas que fazem propaganda competente e vendem a cidade para o uso de ninguém


(oswaldo martins)

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