Pilulinha 33
O fundamentalista relutante, de Mohsin Hamid, editado
pela Alfaguara, em 2007, é um livro de combate. A partir de uma conversa entre
dois personagens, descortina-se um cenário em que as vivências e motivações são
confrontadas. A experiência de um paquistanês, que se defronta com o modelo de
vida americano e dele quer fazer parte, é contraditada pela experiência real
despertada pelo 11 de setembro.
Formado por Princeton
e selecionado com louvor por uma firma americana de investigação econômica, o
narrador busca confrontar o que seria uma vida de sucesso com suas raízes e com
a atitude americana frente os conflitos que se avizinhavam no mundo, urdidos a partir
do ataque árabe às torres gêmeas.
A decisão de
abandonar o emprego e voltar para o Paquistão, abrindo mão das pretensas
vantagens que o mundo do consumo americano traria, passa pela reflexão sobre as
raízes a que pertence e descoloca o dilema sobre o sucesso em outro lugar. É
este o lugar de onde se narra a experiência.
Como estratégia
narrativa o fato de não permitir voz à voz com que dialoga desloca o sentido
das verdades buscadas pelos dois interlocutores. Ao negar a voz do agente
americano a quem explica suas decisões e sua postura política como professor de
uma universidade no Paquistão, nega a possibilidade de se conheçam as
designações com que os Estados Unidos demandam como ideário para um mundo
pretensamente democrático. Ao silenciar a América do Norte, na voz de seu
interlocutor, dá a ver de forma clara e contundente a impossibilidade de se ter
no mundo árabe quaisquer formulações que os inculpem da percepção do que veio a
ser classificado como terrorismo.
A única
aceitação de terrorismo possível, para esta narrativa de combate, é que o lado
oposto da trincheira se assuma como fomentador do assassínio. Na voz do narrador
escuta-se “... o senhor não deve imaginar que todos nós, paquistaneses, somos
terroristas em potencial, assim como não devemos imaginar que todos vocês,
norte-americanos, são assassinos disfarçados”.
A cena que se
segue e finaliza o romance apenas confirma a assertiva.
(oswaldo
martins)
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