quarta-feira, 26 de junho de 2013

Os quatro grandes do samba e a poesia

Lembro-me de quando comecei a me deslumbrar com o samba, perto dos meus quatorze anos. Acho que o primeiro samba que ouvi foi um do João Nogueira, de cujo nome não me lembro. Depois vieram o Paulinho da Viola, Elton Medeiros. Mas acabei me deslumbrando mesmo foi com um disco que reunia quatro compositores da pesada. Candeia, Elton Medeiros, o inacreditável Nelson Cavaquinho e o deslumbrante Guilherme de Brito e Dona Yvonne Lara, cuja voz me espanta até hoje Chamava-se Os Quatro Grande do Samba. Arrepiava-me e me arrepio até hoje com Notícia.

Iniciava-me nos aprendizados da vida e das paixões adolescentes e aquela voz roufenha, os conselhos dos cabelos brancos me tocaram de uma maneira tão intensa que até hoje, quando os cabelos brancos são os meus também, não consigo ouvir o clássico de Nelson, sem deixar de me emocionar e muito. Os versos pungentes que revelam as derrotas e lidar com elas demonstram-se numa magia poética que todo poeta deveria observar. O deslocamento do drama para o cigarro é como entendo a poesia, ou seja, a poesia nunca fala de seu assunto, mas o desloca, cria outro polo que na verdade ilumina todo o aspecto semântico do que se quer escrever. São magistrais os versos abaixo para ilustrar o que venho observando neste pequeno comentário.

Guardei
até onde eu pude guardar
o cigarro deixado em meu quarto
é a marca que fumas
confessa a verdade

Já nessa época havia me concebido como poeta e buscava na leitura das coisas simples e nos poemas de minha predileção aprender as possibilidades do ofício. Contei também com o olhar arguto de meu pai, quando me indicava a necessidade de paciência para me formar e assim pude não me iludir com a síndrome de Rimbaud, que ataca de forma quase absoluta todo jovem autor.


(oswaldo martins)

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