Lembro-me de
quando comecei a me deslumbrar com o samba, perto dos meus quatorze anos. Acho
que o primeiro samba que ouvi foi um do João Nogueira, de cujo nome não me
lembro. Depois vieram o Paulinho da Viola, Elton Medeiros. Mas acabei me
deslumbrando mesmo foi com um disco que reunia quatro compositores da pesada. Candeia,
Elton Medeiros, o inacreditável Nelson Cavaquinho e o deslumbrante Guilherme de
Brito e Dona Yvonne Lara, cuja voz me espanta até hoje Chamava-se Os Quatro Grande do Samba. Arrepiava-me e me arrepio
até hoje com Notícia.
Iniciava-me nos
aprendizados da vida e das paixões adolescentes e aquela voz roufenha, os
conselhos dos cabelos brancos me tocaram de uma maneira tão intensa que até
hoje, quando os cabelos brancos são os meus também, não consigo ouvir o clássico
de Nelson, sem deixar de me emocionar e muito. Os versos pungentes que revelam
as derrotas e lidar com elas demonstram-se numa magia poética que todo poeta
deveria observar. O deslocamento do drama para o cigarro é como entendo a
poesia, ou seja, a poesia nunca fala de seu assunto, mas o desloca, cria outro
polo que na verdade ilumina todo o aspecto semântico do que se quer escrever.
São magistrais os versos abaixo para ilustrar o que venho observando neste
pequeno comentário.
Guardei
até onde eu pude
guardar
o cigarro
deixado em meu quarto
é a marca que
fumas
confessa a
verdade
Já nessa época
havia me concebido como poeta e buscava na leitura das coisas simples e nos
poemas de minha predileção aprender as possibilidades do ofício. Contei também
com o olhar arguto de meu pai, quando me indicava a necessidade de paciência
para me formar e assim pude não me iludir com a síndrome de Rimbaud, que ataca
de forma quase absoluta todo jovem autor.
(oswaldo martins)
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