Dos estádios e do futebol
Para Roberto Bozzetti
O futebol, no
Brasil, foi trazido por uma elite preconceituosa e reacionária. É lugar comum
até dizer os negros e mulatos tinham de usar o pó-de-arroz para atuar nas
equipes que se formavam. Quando O Vasco da Gama e, se não me engano, o Bangu expuseram
a cor de seus maravilhosos jogadores, foram retirados da Liga do estado. Após a
vitória da revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas, o esporte cada vez
mais se popularizou, virando mania nacional. Nos anos cinquenta construiu-se o
Maracanã, com suas arquibancadas e gerais. O Brasil tornou-se, a partir de
então, o país em que o futebol conquistou os atletas mais intensos e uma
torcida apaixonada.
As diversas
mudanças sociais que movimentaram o país neste período – que vai de 30 a 50 – representaram
algumas mudanças importantes na identidade do país. As vaias, assistidas pelo
Maracanã, levaram o maior cronista brasileiro a afirmar, em seu estilo
provocador e consistente, que no velho estádio vaiava-se até o minuto de
silêncio. Após a glória do povo que o frequentou o Maraca era a pátria de todos
– a frase de que o Maraca é nosso retumba ainda no ouvido de alguns
desavisados. O Maraca não é mais nosso. Pertence aos órgãos que querem ver
novamente os estádios elitizados. Por isso o privatizam, por isso permitem que
a Fifa – essa excrecência do esporte mundial – interfira no modo como se
comporta a população que frequentaria o estádio – os arquibaldos e geraldinos –
pedindo que os cadeirantes sociais da elite contenham-se nos protestos e nos
sonoros palavrões com que as pessoas do povo ou não desopilavam o fígado ao
xingar quantos se interpusessem entre a bola e a fome e a fome de bola.
Não só os
estádios branquearam, mas a selecinha, como diz o Bozzetti, também assume cada
vez mais o pobre embranquecimento de seus atletas, que deixaram de ser
intensos, que deixaram de ser sublimes, mesmo que ainda em lampejo do que foram
os europeus Neymares Juniores da Silva consigam mostrarem-se como o que não mais
são. Como a torcida vê minguarem seus
direitos a uma aposentadoria digna, como vê suas indústrias serem sucateadas
para que as mãos dos Blateres do sempre espírito europeu – um espírito de saque
e vandalismo, de usurpação e extermínio – se apropriem de nossa dignidade, que
é expressa pelo sonoro puta que o pariu que é para onde os mando agora.
(oswaldo
martins)
Bravo, bravo Oswaldo! Muito grato e comovido!
ResponderExcluirgrande abraço