sexta-feira, 2 de maio de 2008

ONDJAKI

O mundo tinha aquele cheiro de terra depois de chover e também o terrível cheiro das despedidas. Não gosto de despedidas porque elas têm esse cheiro de amizades que se transformam em recordações molhadas com bué de lágrimas. Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem mujimbeiros que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança.
Desci. Sentei-me perto, muito perto da avó Agnette.
Ficámos a olhar o verde do jardim, as gotas a evaporarem, as lesmas a prepararem os corpos para novas caminhadas. O recomeçar das coisas.
__Não sei onde é que as lesmas sempre vão, avó.
__Vão pra casa, filho.
__Tantas vezes de um lado para o outro?
__ Uma casa está em muitos lugares - ela respirou devagar, me abraçou. __ É uma coisa que se encontra.

(ondjaki - palavras para o velho abacateiro in os da minha rua - Língua Geral Editora)


Um comentário:

  1. Lindo o conto... O imaginar da terra molhada... o cheiro que não sai, inesquecível cheiro da memória... Lembrou-me assim como ele, aquela infância que nos sopra segredos... Como fiquei a olhar caramujos no jardim... Acreditava-os meus. Mal sabia que eles já tinham casa.

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