terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cabide de Molambo

Meu Deus, eu ando
Com o sapato furado,
Tenho a mania
De andar engravatado,
A minha cama
É um pedaço de esteira
E é uma lata velha
Que me serve de cadeira.

Minha camisa
Foi encontrada na praia,
A gravata foi achada
Na Ilha da Sapucaia,
Meu terno branco
Parece casca de alho,
Foi a deixa de um cadáver
Do acidente no trabalho.

O meu chapéu
Foi de um pobre surdo e mudo,
A botina foi de um velho
Da revolta de Canudos.
Quando eu saio a passeio,
As damas ficam falando:
“Trabalhei tanto na vida
Pro malandro estar gozando”.

A refeição
É que é interessante
Na tendinha do Tinoco
No pedir eu sou constante
E o português,
Meu amigo, sem orgulho,
Me sacode um caldo grosso,
Carregado no entulho.

(João da Baiana)

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