terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mínima para Tarde

Os seis poemas que fecham o livro Tarde, de Paulo Henriques Britto, denominam-se Crepuscular. Apresentam, como núcleo reflexivo a inoperância da palavra por inventar, a inoperância da palavra poética. Tudo já tendo sido dito, o que resta ao poeta é senão tergiversar sobre o que dizer. Na lição de Luiz Costa Lima, em análise de outra grande poeta contemporânea, Dora Ribeiro, a poesia deve afastar de si tanto o clichê quanto o conceito. Este é o risco que corre o poeta de Tarde e do qual se livra.

No poema 5, à afirmação de que “toda palavra já foi dita”, segue-se a indefinição paradoxal da própria poesia que se pode fazer hoje – as “palavras tardias” valem quando criam a vertiginosa lucidez. A idéia do tardio nos afastaria de toda expressão da leveza e da alucinação. Tanto o absinto quanto o ópio – em que nossa alma se cura, na formulação pessoana – estão vedados, posto que o permitido por eles é já agora parte do senso comum.

Afastam-se assim do espectro do poema não só as delicadezas românticas, mas o próprio cerne da modernidade, no que ele tem de mais caro – a impossibilidade de dizer. O que não se disse e o que já foi dito tornam-se o dizer de Paulo Henriques Britto.

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