quarta-feira, 26 de março de 2008

Eugênio Hirsch

Eugênio Hirsch

Abro ao acaso a edição em que li pela primeira vez o Henry Miller. Sexus. Sobre um fundo branco, o retrato do autor cercado por mulheres de seios, pernas e bundas de fora. As letras que escrevem o nome de Miller, o título e subtítulos, dispersos, como se construíssem sobre o caos. Com prazer e saudade, releio o nome do autor da capa. Eugênio.

Eugênio Hirsch.

Tenho o prazer de ter na capa de um de meus livros – o minimalhas do alheio (por favor, revisor, com minúsculas) – o desenho de uma mulata, que me presenteou. No alto, à esquerda, as palavras que o descrevem e o nomeiam “Aurora de zapato alto e xibiu de fora”. Tão Eugênio, o desenho me permite diariamente o deleite de sua lembrança, de sua amizade e carinho.

Eugênio, nascido na Áustria, emigrado para a Argentina, veio um dia para o Brasil e daqui não mais saiu; fascinado, sobretudo pelas nossas belas mulatas. Dizia ele que as mulatas eram sua fascinação mais antiga, desde que, criança, em seu país natal, e pela primeira vez, viu seu corpo nu, cheio de encantos e magia. Ao desembarcar na Praça Mauá, dirigiu-se para um dos cabarés que ali davam acolhida aos estrangeiros. Casou-se com primeira que viu.

Quando o conheci, morava no mesmo prédio em que eu moro. Posso precisar a data, pois sua vinda para a Pires de Almeida 76 se deu quando meu segundo filho nasceu, em 1988. Convivi com Eugênio de 89 até sua morte em 2001. Foram 12 anos.

Eugênio andou pelo mundo. Fez trabalhos na Espanha, Inglaterra, EUA e alhures. No Brasil foi diretor de arte da Civilização Brasileira e da José Olympio, inovando a concepção da capa dos livros. Muitas são as histórias que contava, muitos os trabalhos que fazia. Lembro-me de dois especialmente interessantes feitos para a revista Playboy americana, que me mostrou. O das Bundas famosas e o do Jardim zoológico, que consistiam em transformar o corpo feminino em imagens reconhecidas da política internacional e em animais. Algo como se a bunda nomeasse o bunda retratado. Assim, o bunda Hitler, o bunda Stalin, o bunda Roosevelt, o bunda Churchil. Hilário.

Eugênio tinha o dom de um anarquismo profícuo e destruidor. Como quem brinca, teceu comportamentos, tomou decisões inusitadas. Dele, além da falta e do anarquismo comportamental, que admiro em qualquer pessoa, ficaram alguns desenhos e colagens. Dentre os trabalhos com que me presenteou está o projeto feito para o Pif-paf, intitulado Doze maneiras de entrar e sair da chavasca da dona. Uma festa para o espírito.

7 comentários:

  1. Fantástico esse título, Oswaldo!
    "Doze maneiras de entrar e sair da chavasca da dona." Nem Sade conseguiria imaginar um título tão feliz, tão sugestivo. Fiquei curiosa com relação a esse autor.
    Parabéns pelo blog! Estou aqui me deleitando com as postagens...
    Forte amplexo,
    Bianca Souza.

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  2. Bianca tudo bom?

    Beleza que vc esteja gostando.

    Beijo,
    Oswaldo

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  3. Oi, Oswaldo, beleza de post, sensíve e justo. E essas imagnes, será que não temos como divulgá-las. Há alguma página do Eugênio na internet. podíamos fazer uma pequena exposição no TextoTerritório, o que você acha?

    Um abraço,

    Alexandre

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  4. Saudade de Eugenio Hirsch que também conheci na Rua Pires de Almeida. Seus desenhos, seu anarquismo. Belo texto, Oswaldo.

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  5. Caro Oswaldo:

    Estou escrevendo uma biografia de Eugenio Hirsch e gostaria de falar contigo. Pode me passar seu e-mail? Peço também o contato de Cláudio Correia Leitão. Meu e-mail é goncalo.junior@gmail.com.
    Valeu.

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  6. Belo post, Oswaldo.
    Para quem se interessar, algumas capas de Hirsch para a Civilização podem ser vistas no flickr de meu projeto design_ref:
    http://flickr.com/photos/design_ref/page2/

    abs.

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  7. Gostaria de ter outras informações sobre E. Hirsch. Pode ser por email?

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