quinta-feira, 27 de março de 2008

Bicicleta

Mariinha não era Maria, era Julieta. Bicicleta, o sobrenome não era Bicicleta, mas Maria. Do pouco que se sabia da vida pregressa de Mariinha, essa era, com certeza, a única. O nome Bicicleta, que lhe acompanhava o pré-nome e que fora mantido pela tradição da cidade, era grande mistério sobre o qual muito se discutia. Mariinha era baixinha; loura, conforme relatos mais antigos, que dela guardavam lembrança. Usava cabelo curto, parecia uma atriz desconchavada de cinema e representava um papel crucial em na vida de todos. Era um ícone das noites em que se percorria a cidade em busca do que ela – em época áurea – oferecia.

O nome Bicicleta era um mistério. Várias era as coisas imaginadas – das mais estapafúrdias até as mais concretas e possíveis. Alguém peremptoriamente afirmava – história que todos aceitavam e preferiam – que vinha o bicicleta do nome de uma cena acontecida na cidadezinha onde morava, às margens do Rio das Mortes. Mariinha era moça e teria sido ali que escolhera nome e profissão.

Sucedeu que, pedalando pelas margens do rio, crendo estar só, resolveu, como uma Godiva das Gerais, pedalar nua. Teria sido vista assim em sua bicicleta e fora seduzida por um que passou. Gostou e resolveu começar seu noviciado a partir de então. Depois fora para a zona, de uma cidade próxima – onde exerceu seu magistério, depois seu pontificado.

Nas Gerais, a fama antecede o conhecimento. Mariinha era, mesmo antes de estabelecer-se como a preferida, um fenômeno que todos desejavam, pois correra de boca em boca a frase que teria dito pela ocasião do famoso passeio de bicicleta.

__ Gentes, num é que há coisa mió que zanzá daqui prá li. A temp’ra de uma vara tem mais valia que as bicicreta.
(oswaldo martins)

Um comentário:

  1. Caro mestre blogueiro, estou de volta depois de uma ausência ruim, metido em infâmias burocráticas. E dou com esta crônica bonita, sensível, enfiada nos rumores da cultura interiora mineira. Minas é só interiores, eu acho.
    Voltarei sempre.
    Paz e bom humor. E vida longa à sua boa arte.
    http://walmir.carvalho.zip.net

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