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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Os Bundas de Eugênio Hirsch e soneto


medidas servem para tanger cintas
ligas meias e pedaços de perna
e o solfejo das musas as anquinhas
que se lhes empinam a bunda externa

que o de dentro bunda tábuas lisas
só as mostram para os bundas sujas
de eugênio hirsch feitas nas bundas
como os que foram feitos nas coxas

mal dada foda, mal fodida à noite
entre os cristais partidos os cepillos
restaram-nos os bundas os bundinhas

e bundões a tanger velhos açoites
os drones e também computadores
que os fatos falsos fingem rica a bunda

(oswaldo martins)





quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Baralho cigano

Certa vez fui com Eugênio à editora Pallas. Os tempos estavam bicudos, era o governo do confisco, e consegui, com uma amiga, um trabalho pra ele. Claro, fui intermediário, pois quando falei com esta minha amiga, as portas se abriram, pois Eugênio era o Eugênio, o maior capista do Brasil.

Pois bem, quando chegamos à editora, a mesa de todos os membros responsáveis pela casa estavam a postos, esperando por Eugênio. Ao entrarmos e sentarmos à mesa de reunião, não me lembro quem afirmou que conhecia Eugênio desde outras gerações. No ato, como costumava ser meu querido amigo, veio um “é verdade, lutamos juntos na Batalha de Aljubarrota, e eu era o judeu negro!”.  Cumprimentaram-se como dois irmãos de luta, e a conversa começou.

Eugênio deveria fazer o projeto gráfico de um tarô cigano e desenhar as cartas cujo texto seria escrito por Naldo, pai de santo que tinha seu abaçá lá pelos lados da Ilha do Governador. De posse das informações, Eugênio começou a criar. O resultado é o mais belo baralho cigano jamais visto, com suas mulatas de tirar o fôlego.


(oswaldo martins)

quarta-feira, 27 de março de 2013

Eugênio Hirsch


O austro-portenho Eugênio Hirsch tinha um sentido de Brasil muito agudo. Sua fala – se traía suas origens – denunciava também uma compreensão do país bem mais intensa do que a de muitos que aqui nasceram. Tanto que, para os que com ele privaram, sua voz, que nos interpretava como bem poucos, dando-nos uma dimensão maior, se transforma numa voz mítica, macunaimaica.

(oswaldo martins)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Prolegômenos para mim mesmo

Eugênio ensinou-me que a arte renascentista é – como ele dizia – uma verdadeira putaria. Fruia a voz um pouco roufenha, o sotaque misturado do austro-portenho-brasileiro., com prazer. Pediu-me um papel desenhou e desenhou. Depois desfez os desenhos. Não é que era! Parte por parte. Eugênio, mestre como poucos.

Sempre ouvi dizer pelo meu pai que um dos locais em que trabalhara no início da vida de médico, perto de Congonhas do Campo, era – segundo um colega seu de quem me esqueci o nome – uma putaria franciscana. Só vim a descobrir porque franciscana muito mais tarde. Os fradezinhos não eram fáceis.

De uma feita, levei Eugênio a Barbacena, para visitar a casa paterna e as cidades históricas de Minas. O Cristo caralhudo com que presenteou meu pai remata as duas historietas e informa – en passant – que, em arte ou na vida, nada do que nos parece ser na verdade é.

(Oswaldo Martins)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Cristo de Eugênio

Fui outro dia a Barbacena visitar meu pai e não sei por que razão lembrei-me de Eugênio Hirsch. Talvez por ele me fazer vestir um casaco contra o frio. Sempre que Eugênio aparecia lá em casa – fizesse frio ou sol – pedia que eu vestisse um casaco contra uma possível gripe, com seu sotaque austro-portenho.

Talvez porque me pegaram as lembranças da viagem que fizemos a casa de meus pais, quando Eugênio levou de presente para meu pai o único Cristo realmente verdadeiro que conheci em minha vida. Um Cristo no madeiro, itifálico preso a sua cruz. Esse Cristo pânico olhava Madalena?

(oswaldo martins)

sábado, 19 de junho de 2010

eugênio, bandeira e o lapa

Mostrei ao Eugênio, certo dia, meu primeiro livro – ainda inédito – o lapa. Com seu jeito, disse que o livro deveria ser publicado em um projeto radical e ter uma distribuição também radical. Imaginou para ele banca de jornal Fez para mim uma boneca em que inseria umas fotos da prostituição no bairro carioca. Queria porque queria uma foto do Manuel Bandeira com algumas prostitutas.

__ Ah, sim, Oswaldo, ele era um sacana, que vivia junto às mulatas. – disse –me ele, sério, com seu sotaque inconfundível de austro-portenho-brasileiro. Daí que reconstruí meu Bandeira, como um dos poetas mais viris da nossa língua. Leiam, leiam o Unidade de Bandeira dentro dessa perspectiva!

Saudade do Eugênio, mestre da arte e da vida.

(oswaldo martins)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Zoológico de Eugênio











O erotismo criativo de Eugênio








Eugênio e Tarô Cigano

Certa vez fui com Eugênio a Pallas Editora. Havia combinado com uma amiga, que era ligada à editora, de apresentá-lo, para que pudesse fazer alguns trabalhos. No dia marcado, peguei minha velha Brasília e nos dirigimos à editora. Eugênio, é óbvio, era por demais conhecido para que não causasse um certo frisson com sua presença. Estava não só a Cristina, mas todo o estafe da casa. Editores, conselheiros, autores e amigos.

Ao entrar na sala de reunião, foi recebido pelo grupo como merecia. Fiquei de longe observando o desenrolar das conversas. De modo surpreendente, um senhor muito claro, olhos azuis expressivos, europeu, decerto, virou-se para o Eugênio, um autêntico austríaco-portenho, dizendo que já o conhecia há muito tempo, desde a batalha lusitana em Alcácer-Quibir e que lutaram juntos, na ocasião, contra inimigo comum. Ao que Eugênio, como lhe era costumeiro, repete seu fabuloso “si, si” e arremata:

__ Tu eras o judeu negro; eu, o outro. E se abraçaram efusivamente.

Após a conversa, ficou de fazer as ilustrações de um baralho cigano, cujos dizeres foram escritos por Naldo de Oliveira. O resultado, como podem verificar na edição que ainda circula, foram ciganas mulatas, bem como o Eugênio imaginava a vida.

(oswaldo martins)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Eugênio Hirsch

Ontem, dia 15, fui ao lançamento do livro do Luiz Costa Lima. Encontrei amigos que não via há um bom tempo. Com um deles, o Cláudio Leitão, passei pelo Mama Rosa, para um papo. Entre as lembranças e algumas apreciações do mundo, lembramos o Eugênio, amigo mais que cem por cento. Talvez o único a quem obedecia quando falava-me para colocar um capote, por causa do frio. Punha-o e curtia o calor que o casaco causava.

Eugênio foi conviva de minha família nos seus últimos anos de vida. Walnice, os meninos, assim como eu, gostávamos da presença dele, ouvíamos com prazer renovado as histórias que brotavam ininterruptas das histórias do Eugênio. Vivemos algumas e pudemos desfrutar do inusitado que elas continham.

De uma feita, Walnice, a quem Eugênio chamava Walquiria, havia combinado de ir a uma exposição com ele. Marcaram hora para que passasse aqui em casa. Por um desses acasos curiosos, que ilustram as várias possibilidades da vida, perto da hora marcada, Wal subiu à casa da vizinha para uma conversa rápida. Neste meio tempo, bateu na porta de casa o Eugênio e, à moça que trabalhava para nós, perguntou pela Walquiria. Como a pessoa que o atendeu lhe dissesse que ali não morava Walquiria alguma, Eugênio voltou para casa. Walnice/Walquiria ficou esperando por ele e a exposição, ora, essa ficou para outro dia.

(oswaldo martins)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Eugênio Hirsch

Eugênio Hirsch

Abro ao acaso a edição em que li pela primeira vez o Henry Miller. Sexus. Sobre um fundo branco, o retrato do autor cercado por mulheres de seios, pernas e bundas de fora. As letras que escrevem o nome de Miller, o título e subtítulos, dispersos, como se construíssem sobre o caos. Com prazer e saudade, releio o nome do autor da capa. Eugênio.

Eugênio Hirsch.

Tenho o prazer de ter na capa de um de meus livros – o minimalhas do alheio (por favor, revisor, com minúsculas) – o desenho de uma mulata, que me presenteou. No alto, à esquerda, as palavras que o descrevem e o nomeiam “Aurora de zapato alto e xibiu de fora”. Tão Eugênio, o desenho me permite diariamente o deleite de sua lembrança, de sua amizade e carinho.

Eugênio, nascido na Áustria, emigrado para a Argentina, veio um dia para o Brasil e daqui não mais saiu; fascinado, sobretudo pelas nossas belas mulatas. Dizia ele que as mulatas eram sua fascinação mais antiga, desde que, criança, em seu país natal, e pela primeira vez, viu seu corpo nu, cheio de encantos e magia. Ao desembarcar na Praça Mauá, dirigiu-se para um dos cabarés que ali davam acolhida aos estrangeiros. Casou-se com primeira que viu.

Quando o conheci, morava no mesmo prédio em que eu moro. Posso precisar a data, pois sua vinda para a Pires de Almeida 76 se deu quando meu segundo filho nasceu, em 1988. Convivi com Eugênio de 89 até sua morte em 2001. Foram 12 anos.

Eugênio andou pelo mundo. Fez trabalhos na Espanha, Inglaterra, EUA e alhures. No Brasil foi diretor de arte da Civilização Brasileira e da José Olympio, inovando a concepção da capa dos livros. Muitas são as histórias que contava, muitos os trabalhos que fazia. Lembro-me de dois especialmente interessantes feitos para a revista Playboy americana, que me mostrou. O das Bundas famosas e o do Jardim zoológico, que consistiam em transformar o corpo feminino em imagens reconhecidas da política internacional e em animais. Algo como se a bunda nomeasse o bunda retratado. Assim, o bunda Hitler, o bunda Stalin, o bunda Roosevelt, o bunda Churchil. Hilário.

Eugênio tinha o dom de um anarquismo profícuo e destruidor. Como quem brinca, teceu comportamentos, tomou decisões inusitadas. Dele, além da falta e do anarquismo comportamental, que admiro em qualquer pessoa, ficaram alguns desenhos e colagens. Dentre os trabalhos com que me presenteou está o projeto feito para o Pif-paf, intitulado Doze maneiras de entrar e sair da chavasca da dona. Uma festa para o espírito.