sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O Fantasista

Com a emoção ligeiramente arrefecida, o homem se sentou à sombra do mausoléu e, com a coroa de flores entre as pernas, começou a recordar sua infância nas ruas de Temuco e seus primeiros contatos com a bola de meia. E, sem nos darmos conta, lá estávamos nós, junto à tumba do jogador pampiano, conversando animadamente sobre a transcendência que o futebol pode ter na vida de um homem; em sua maneira de ser e no seu modo de enfrentar as adversidades. Todos concordamos que, no terreno exíguo de um campo de futebol, era possível apreciar o melhor e o pior do ser humano. Ali, no campo de jogo, naquele retângulo de terra e grama, fechado ou aberto, no meio da grande cidade ou nos mais perdidos rincões, ao longo de escassos noventa minutos de porfia, podiam-se se ver a nobreza, a coragem, a lealdade e tudo de bom que havia num indivíduo; ao mesmo , contudo, podia aflorar também o que ele possuía de pior: a covardia, a injustiça, a soberba e a malandragem. Todos concordamos, igualmente, quando o Fantasista, com um travo de amargura na voz cavernosa, falou que ninguém tinha condição de dizer o que era o prazer se nunca havia feito um gol olímpico no melhor goleiro do ano; que ninguém tinha condição de saber o que era júbilo mais desenfreado se nunca havia driblado três adversários de uma vez e em seguida marcado o gol da vitória nos acréscimos de uma final de campeonato. Mas, igualmente, nenhum cristão podia dizer que conhecia a derrota e a humilhação mais profunda sem nunca ter ido até o fundo das redes de uma baliza para buscar a bola após fazer um gol contra.

Por fim concluímos em total acordo: ninguém terá experimentado a angústia de se sentir só no universo se não ficou de pé debaixo dos três paus à espera de ser fuzilado por uma cobrança de pênalti no último minuto de jogo.

(O FANTASISTA – Hernán Rivera Latelier)

Este post é dedicado aos grandes vascaínos Pedro de Lima Martins Teixeira, meu pai e Mateus Souto Martins Teixeira, meu filho.
Ao grande flamenguista e amigo Ronald Iskin.
E ao não menos grande botafoguense e amigo Leo Barbara Machado.

(oswaldo martins)

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