Não se pode ser o primeiro em algo (por exemplo, “o primeiro trovador”) sem uma transgressão. Pois “ser o primeiro” significa ter feito ou realizado algo que ninguém antes havia feito ou realizado algo em que antes ninguém havia pensado ou obtido êxito, razão por que a expressão implica uma distinção entre “aquilo que ocorreu anteriormente” e “aquilo que ocorreu pela primeira vez”. Esse tipo de fronteira pode ser definido como o “limite de”; como limite daquilo que era possível até agora, daquilo que era até então considerado possível ou mesmo como o limite de algo que aconteceu antes. É uma fronteira além da qual algo novo e fundamentalmente diferente começa, não apenas um “outro mundo” que é basicamente similar ao mundo descrito pela fronteira. Muitas vezes, o individuo que cruza este “limite de” não está nem mesmo consciente de sua transgressão – então o acontecimento do atravessar-a-fronteira é estabelecido retrospectivamente por contemporâneos ou pela posteridade de alguém. Entretanto, pode-se violar intencionalmente os “limites de”. Essas intenções abrangem (de modo mais ou menos consciente) o desejo de reformar, de relativizar ou mesmo de abolir o limite que está para ser violado. Noutras palavras, essas intenções implicam um componente de agressividade (em termos mais modernos: crítica) para com o status quo.
(Gumbrecht, Hans Ulrich. As transgressões do primeiro trovador. In: Modernização dos Sentidos. Editora 34. São Paulo. São Paulo. 35. 1998)
(Gumbrecht, Hans Ulrich. As transgressões do primeiro trovador. In: Modernização dos Sentidos. Editora 34. São Paulo. São Paulo. 35. 1998)
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