Se eu fosse você 2, o filme de Daniel Filho,
apresenta rendimento para a idéia de intercâmbio de corpos por almas, coisa que tem história em caracteres e tipos do drama ibérico e agilidade de recorte gil-vicentino. O que uma alma de homem carrega para o corpo da atriz Glória Pires faz dela o craque de futebol que falta ao corpo simétrico na hora da pelada, no caso o do ator Tony Ramos. Os diálogos a sós do casal invertido lembra as situações semânticas da conversa entre as personagens Todo Mundo e Ninguém, do quase pós-medieval Gil Vicente. Quase porque ele escapa para a Renascença, mas seus estereótipos de Mal e Bem migraram para estereótipos grotescos de Macho e Fêmea, renascidos em gestos performáticos dos papéis genéricos de mulheres e homens ou outros que os corpos de Pires e Ramos aventam em trejeitos e gestos. No andar, na voz, na posição de dormir etc. A agilidade das falas confunde os papéis corporais trocados e por isso diverte. Mas mãe e pai são desempenhos à parte, uma vez que a gravidez só se pode dar no corpo de fêmea. Essa verdade salva o casamento da filha hesitante na hora de subir ao altar do sacrifício do amor dos seus pais, o casamento. Mãe e filha reencontram-se na comunhão de seus corpos grávidos. A canção “Pra Você” de Sílvio César – “ah, se eu fosse você, / eu voltava pra mim” – reencontra aí sua imagem real depois de cinqüenta anos. O romantismo retornado da estória, suas canções e locações, devolvem ao Rio de Janeiro uma nesga de auto-estima perdida dos anos dos arranjos dissonantes de bossa nova, depois de se haver dito que amor é bossa nova e que sexo é carnaval, sem contudo buscarmos os efeitos do contrário de tais atribuições. A pretexto de tentativa de voltar aos corpos originais, os protagonistas em processo de divórcio resolvem fazer sexo, engravidam e seguem invertidos. Então o amor grávido faz cair pela segunda vez o raio do buquê da noiva no mesmo lugar, as mãos reatadas dos corpos verdadeiros dos pais da noiva também grávida. O que importa é o casamento (?) – volta-nos como interrogação a memória suscitada da fala afirmativa perversa de um drama rodrigueano conhecido.
apresenta rendimento para a idéia de intercâmbio de corpos por almas, coisa que tem história em caracteres e tipos do drama ibérico e agilidade de recorte gil-vicentino. O que uma alma de homem carrega para o corpo da atriz Glória Pires faz dela o craque de futebol que falta ao corpo simétrico na hora da pelada, no caso o do ator Tony Ramos. Os diálogos a sós do casal invertido lembra as situações semânticas da conversa entre as personagens Todo Mundo e Ninguém, do quase pós-medieval Gil Vicente. Quase porque ele escapa para a Renascença, mas seus estereótipos de Mal e Bem migraram para estereótipos grotescos de Macho e Fêmea, renascidos em gestos performáticos dos papéis genéricos de mulheres e homens ou outros que os corpos de Pires e Ramos aventam em trejeitos e gestos. No andar, na voz, na posição de dormir etc. A agilidade das falas confunde os papéis corporais trocados e por isso diverte. Mas mãe e pai são desempenhos à parte, uma vez que a gravidez só se pode dar no corpo de fêmea. Essa verdade salva o casamento da filha hesitante na hora de subir ao altar do sacrifício do amor dos seus pais, o casamento. Mãe e filha reencontram-se na comunhão de seus corpos grávidos. A canção “Pra Você” de Sílvio César – “ah, se eu fosse você, / eu voltava pra mim” – reencontra aí sua imagem real depois de cinqüenta anos. O romantismo retornado da estória, suas canções e locações, devolvem ao Rio de Janeiro uma nesga de auto-estima perdida dos anos dos arranjos dissonantes de bossa nova, depois de se haver dito que amor é bossa nova e que sexo é carnaval, sem contudo buscarmos os efeitos do contrário de tais atribuições. A pretexto de tentativa de voltar aos corpos originais, os protagonistas em processo de divórcio resolvem fazer sexo, engravidam e seguem invertidos. Então o amor grávido faz cair pela segunda vez o raio do buquê da noiva no mesmo lugar, as mãos reatadas dos corpos verdadeiros dos pais da noiva também grávida. O que importa é o casamento (?) – volta-nos como interrogação a memória suscitada da fala afirmativa perversa de um drama rodrigueano conhecido.
CLÁUDIO CORREIA LEITÃO
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