Sem que se pretenda explicar a totalidade dos valores que orientam a formação do cânone literário nacional, a “contradição” há pouco notada de Veríssimo nos insinua uma trilha: por mais diversos que parecessem ser os critérios dos adversários, Romero e Veríssimo, ambos concordavam no serviço que a literatura deveria prestar à moral; serviço obrigatório, como aquele que Bilac ajudaria a introduzir, porque a literatura deveria ser um instrumento para a correta modelagem do cidadão. O que vale dizer, tanto para o rumo interno como para a construção nacional. Por efeito desse segundo aspecto, o apreço da moral se conjugava ao louvor da natureza, cuja presença, observada e então descrita, asseguraria a nota tropical que nos diferenciaria. à moral e à natureza se confiavam a formação do que, numa terminologia ainda não disponível por aqueles críticos, seriam o superego e o id comuns ao brasileiro culto. Mas, antes de que aquelas normas pudessem ser internalizadas, era preciso tornar a poesia interessante ao leitor. Tanto pela escassez quantitativa e qualitativa deste receptor – fatos que Romero e Veríssimo bem perceberam – como pelos modelos de poesia retórico-sentimental que aqui circulavam – os modelos de Hugo e Byron – importava que o poeta fosse bem falante e lacrimoso, derramado em palavras e emoções. Tal seria a base esboçada sobre a qual se edificaria o cânone exaltador de Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Varela e Casimiro, assim então confundidos e internamente não diferenciados.
(Costa Lima, Luiz. Pensando nos trópicos. Bernardo Guimarães e o cânone. 242. 1991)
(Costa Lima, Luiz. Pensando nos trópicos. Bernardo Guimarães e o cânone. 242. 1991)
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