Direção e dramaturgia original: Luiz Felipe Reis
Atuação: Renato Livera
O primeiro livro que li do Roberto
Bolaño foi Noturno no Chile, livro denso e difícil que traz um monólogo
indivisível. Depois, á medida em que foram sendo publicados no Brasil, passei a
construir uma percepção mais intensa do autor. Nos últimos tempos tenho lido
sua poesia.
Quando, um amigo, Ronald Iskin, me
falou da peça que estava em cartaz no Teatro Poeira, resolvi assisti-la.
Imaginei pelo título e pela descrição da peça que reencontraria o escritor. A
peça me surpreendeu positivamente. A atuação, a montagem cênica simples e o
texto muito bem urdido do monólogo – a sobriedade que bem unia texto e atuação
me trouxeram diversas e grandes emoções.
Foi interessante notar que uma das reflexões
que a peça traz é construída por uma costura muito bem-feita da apreciação que
Bolaño faz da poesia (ou da antipoesia) de Nicanor Parra. Na véspera de eu ir assisti-la,
reli os poemas de Parra, poeta com o qual trabalharia no curso de leitura on-line
que ministro. Desta forma o texto de Parra estava ainda reverberando em meus
pensamentos.
Ao ser tocado pela emoção da peça (e
do texto de Bolaño) muitas vezes mergulhei no meu próprio universo literário.
Algumas das impressões já me eram conhecidas outras, não. A construção temática
se apresenta contida desde o início e vai nesta contenção atingindo graus de
emoção que se mostram tanto mais fortes quanto maior o silenciar do grito, que
explode neste paradoxo entre o contido e o explosivo.
O paradoxo mistura entre o contido e
o explosivo me parece ser uma das buscas de Bolaño, como afirmei acima. O que
me deixou de alguma forma perplexo foi exatamente esse paradoxo ser entremeado
pela presença de uma subjetividade expressa, coisa que prefiro evitar quando
escrevo. Ao falar de si, Bolaño fala do mundo com maior ou menor expressividade?
Fiquei me interrogando sobre essa rasura, que leva à mistura paradoxal do autor
e que a peça atualiza, com brilhantismo.
Oswaldo Martins
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