segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Pai do Tempo

Talvez só uma foto em que estou no seu colo.
Fotos com muitos: avô, tio, mãe, tia. E nunca mais fotos.
Mais tarde me vejo dando banho nele, esfregando as suas costas com sabonete e bucha.

Em algum momento tinha acontecido uma virada no olhar. Na infância meu pai elogiara um menino que vira apenas uma vez, e vaticinou que ele seria um grande homem - quanta inveja pelo elogio que eu nunca tinha recebido. A guinada veio quando comprei uma bela casa e ele se admirou enfim da façanha, passou a me ouvir.

No leito de morte, quando voltou a si, me olhou e me reconheceu falando o meu nome. Ali tive ainda esperança de que poderia se recuperar do estado grave em que se encontrava, mas enfim.

Agora sigo sem essa conversa. Invento irmãos, mesmo que na dureza do caminho. E trago comigo: aquele lugar.

(Luiz Fernando Medeiros de Carvalho)

Um comentário:

  1. Luiz,
    tudo bem? Este teu texto é muito bonito, forte e emocionado. Fico feliz em pertencer à essa invenção de irmãos.

    Abraço,
    Oswaldo

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