Outro dia a Folha saiu-se com uma enquete: Rosa ou Machado. Efemérides que não nos levam longe. Mas um pouco por conta disso, achei-me às voltas com este texto. Não pretendo desenvolvê-lo ou desdobrá-lo. Vai aí o que queria dizer.
Mário Faustino falava dos poetas perigosos. Há níveis de perigo que os artistas podem oferecer. E digo níveis pensando na gradação ou mesmo hierarquização que se deve estabelecer entre os poetas, principalmente se forem da mesma grandeza. É claro que o barômetro é o leitor (e eu, aqui, biruta).
Há poetas que podem formar perigosos novos leitores da literatura e do mundo. Outros perigosamente podem deixar o leitor perdido entre os píncaros da expressão e os baixios da imutabilidade em sua dimensão humana. Pharmakon, esses, são para almas já formadas, capzes de dosar-lhes a leitura, e extrair-lhes o o exato centesimal hahemanniano. Daqueles, uma faca só lâmina; desses, uma lâmina de dois gumes.
De um desses comemoramos o centenário de nascimento. Vêm-me inquietando as leituras deslumbradas que meus alunos de literatura andam fazendo de Rosa. Ficam meio abestados com as pirotecnias de expressão e ponto. Suspendem a resposta sem sequer tangência do difícil humano daqueles textos. Viram estátua de sal quando deparam que o bruxulear da chama dá-se mesmo no geométrico cristal da palavra e a linguagem-convite-a-travessia vira canto de sereia. Perigoso perigo o desse poeta. Falta à introdução da obra Rosiana uma advertência como aquela que Lispector apõe a G.H., gostando que fosse lida apenas pelos espíritos formados. Nesse ponto, o vaqueiro das gerais escreve-se mais ingênuo. Ou não.
Acontece que a aura modernista asa da palavra tartamudeia o submundo. Fico pensando nas minhas questões com a periferia, com os meus pobres, ditos marginais, a terceira classe do terceiro mundo sem terceira via, que ingressa nas letras, nas ciências humanas e vai penando nos magistérios públicos de 300 contos por mês. E então me vem que o perigo a palo seco daquele é melhor: minha pobreza é tal que muita coisa não trago. A literatura severina, em pequenas partidas cada dia é um caminho para se chegar às goiabas da jaqueira e às jacas da goiabeira. Trocando em miúdos, para infeccionar a miséria, uns são antibióticos do SUS, outros homeopatia de unicista.
E ainda há o J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história, ou seja, entre Guimarães Rosa ou Machado de Assis, antes Graciliano e João.
Mário Faustino falava dos poetas perigosos. Há níveis de perigo que os artistas podem oferecer. E digo níveis pensando na gradação ou mesmo hierarquização que se deve estabelecer entre os poetas, principalmente se forem da mesma grandeza. É claro que o barômetro é o leitor (e eu, aqui, biruta).
Há poetas que podem formar perigosos novos leitores da literatura e do mundo. Outros perigosamente podem deixar o leitor perdido entre os píncaros da expressão e os baixios da imutabilidade em sua dimensão humana. Pharmakon, esses, são para almas já formadas, capzes de dosar-lhes a leitura, e extrair-lhes o o exato centesimal hahemanniano. Daqueles, uma faca só lâmina; desses, uma lâmina de dois gumes.
De um desses comemoramos o centenário de nascimento. Vêm-me inquietando as leituras deslumbradas que meus alunos de literatura andam fazendo de Rosa. Ficam meio abestados com as pirotecnias de expressão e ponto. Suspendem a resposta sem sequer tangência do difícil humano daqueles textos. Viram estátua de sal quando deparam que o bruxulear da chama dá-se mesmo no geométrico cristal da palavra e a linguagem-convite-a-travessia vira canto de sereia. Perigoso perigo o desse poeta. Falta à introdução da obra Rosiana uma advertência como aquela que Lispector apõe a G.H., gostando que fosse lida apenas pelos espíritos formados. Nesse ponto, o vaqueiro das gerais escreve-se mais ingênuo. Ou não.
Acontece que a aura modernista asa da palavra tartamudeia o submundo. Fico pensando nas minhas questões com a periferia, com os meus pobres, ditos marginais, a terceira classe do terceiro mundo sem terceira via, que ingressa nas letras, nas ciências humanas e vai penando nos magistérios públicos de 300 contos por mês. E então me vem que o perigo a palo seco daquele é melhor: minha pobreza é tal que muita coisa não trago. A literatura severina, em pequenas partidas cada dia é um caminho para se chegar às goiabas da jaqueira e às jacas da goiabeira. Trocando em miúdos, para infeccionar a miséria, uns são antibióticos do SUS, outros homeopatia de unicista.
E ainda há o J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história, ou seja, entre Guimarães Rosa ou Machado de Assis, antes Graciliano e João.