Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
terça-feira, 29 de abril de 2008
sábado, 26 de abril de 2008
De A geração que esbanjou seus poetas
O futuro também não nos pertence. Daqui a algumas dezenas de anos, seremos chamados, sem qualquer piedade, de gente do milênio passado. Tínhamos apenas cantos apaixonados sobre o futuro e, de repente, esses cantos, frutos da dinâmica do presente, transformaram-se em fatos da história literária. Quando os cantores são assassinados e as canções, arrastadas ao museu e presas ao passado, a geração atual torna-se ainda mais desolada, mais abandonada e mais perdida, mais deserdada, no sentido verdadeiro da palavra.
(Roman Jakobson – in A geração que esbanjou seus poetas. Cosac&Naif. 2006. Tradução: Sonia Regina Martins Gonçalves)
(Roman Jakobson – in A geração que esbanjou seus poetas. Cosac&Naif. 2006. Tradução: Sonia Regina Martins Gonçalves)
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Adônis
O doce Adônis morreu, Afrodite: que fazer?
__ Flagelai, moças, os vossos seios,
rasgai, amigas, as vossas vestes
Safo de Lesbos
terça-feira, 22 de abril de 2008
À ESPERA DOS BÁRBAROS (1)
O livro de Coetzee é uma bela alegoria sobre o poder. Enxuto e pungente, o narrador contrapõe, às certezas de um cotidiano bisonho, o acontecimento. O magistrado de um lugar distante do Império (não há uma localçização precisa para este império) se vê questionado sobre a noção prévia de justiça e, ao mesmo tempo verifica que a "justiça", praticada segundo os códigos de conduta estabilizados sob as ordens do império, pode ser tão mais cruel quando substituída por uma ordem aleatória e pessoal.
Leitura obrigatória para quem gosta de boa literatura.
(oswaldo martins)
domingo, 20 de abril de 2008
Rua dos Gusmões
Enviou-nos o Cesar Cardoso essa nova pérola do Adoniran
Rua dos Gusmões
O meu violão ficou
Como refém nas mãos do meu amor
E agora como é que eu vou fazer
para poder resgatar?
Sem ela eu não posso ficar
Sem meu violão, como é que eu vou fazer?
A malvada quer
Que eu troque o samba pelo iê-iê-iê
Essa mulher sabe que por ela
Sou capaz de tudoSou capaz até
De atravessar a rua dos Gusmões
Lendo Ali Babá e os Quarenta Ladrões
Mas trocar meu samba
Pelo iê-iê-iênão pode ser
(Adoniran Barbosa)
Rua dos Gusmões
O meu violão ficou
Como refém nas mãos do meu amor
E agora como é que eu vou fazer
para poder resgatar?
Sem ela eu não posso ficar
Sem meu violão, como é que eu vou fazer?
A malvada quer
Que eu troque o samba pelo iê-iê-iê
Essa mulher sabe que por ela
Sou capaz de tudoSou capaz até
De atravessar a rua dos Gusmões
Lendo Ali Babá e os Quarenta Ladrões
Mas trocar meu samba
Pelo iê-iê-iênão pode ser
(Adoniran Barbosa)
sábado, 19 de abril de 2008
pompéia
3
nesta voz a sombra de outras vozes
onde pompéia em torso outrora nu
uma mulher descalça
pela língua areenta olhou
salgaram-lhe a carne
despiram-lhe o manto
entretanto o desafio de olhar
persiste nos vazios
que o fogo acicata
(oswaldo martins)
nesta voz a sombra de outras vozes
onde pompéia em torso outrora nu
uma mulher descalça
pela língua areenta olhou
salgaram-lhe a carne
despiram-lhe o manto
entretanto o desafio de olhar
persiste nos vazios
que o fogo acicata
(oswaldo martins)
Caymmi
Caymmi. Sempre a vontade enorme de pensar nas suas composições, sempre a vontade de escrever sobre ele. Noto uma expressão a ponto do osso, intestina, construída sobre a contenção despojada do mínimo. Belo Caymmi.
(oswaldo martins)
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Poema de Cabral e Imagem de Graciliano
GRACILIANO RAMOS:
Falo somente com o que falo:
Com as mesmas vinte palavras
Girando ao redor do sol
Que as limpa do que não é faca:
De toda uma crosta viscosa,
Resto de janta abaianada,
Que fica na lâmina e cega
Seu gosto de cicatriz clara.
Falo somente do que falo:
Do seco e de suas paisagens,
Nordestes, debaixo de um sol
Ali do mais quente vinagre:
Que reduz tudo ao espinhaço,
Creta o simplesmente folhagem,
Folha prolixa, folharada,
Onde possa esconder a fraude.
Falo somente por quem falo:
Por quem existe nesses climas
Condicionados pelo sol,
Pelo gavião e outras rapinas:
E onde estão os solos inertes
De tantas condições caatinga
Em que só sabe cultivar
O que é sinônimo de míngua.
Falo somente para quem falo:
Quem padece sono de morto
E precisa um despertador
Acre, como o sol sobre o olho:
Que é quando o sol é estridente,
A contra-pêlo, imperioso,
E bate nas pálpebras como
Se bate numa porta a socos.
(MELO NETO, João Cabral de. Serial. Obras completas vol. I.)
Falo somente com o que falo:
Com as mesmas vinte palavras
Girando ao redor do sol
Que as limpa do que não é faca:
De toda uma crosta viscosa,
Resto de janta abaianada,
Que fica na lâmina e cega
Seu gosto de cicatriz clara.
Falo somente do que falo:
Do seco e de suas paisagens,
Nordestes, debaixo de um sol
Ali do mais quente vinagre:
Que reduz tudo ao espinhaço,
Creta o simplesmente folhagem,
Folha prolixa, folharada,
Onde possa esconder a fraude.
Falo somente por quem falo:
Por quem existe nesses climas
Condicionados pelo sol,
Pelo gavião e outras rapinas:
E onde estão os solos inertes
De tantas condições caatinga
Em que só sabe cultivar
O que é sinônimo de míngua.
Falo somente para quem falo:
Quem padece sono de morto
E precisa um despertador
Acre, como o sol sobre o olho:
Que é quando o sol é estridente,
A contra-pêlo, imperioso,
E bate nas pálpebras como
Se bate numa porta a socos.
(MELO NETO, João Cabral de. Serial. Obras completas vol. I.)
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Paul Celan
STEHEN, IM SCHATTEN
des Wundenmals in der Luft.
Für-niemand-und-nichts-Stehn.
Unerkannt,
für dicha
alien.
Mit allem, was darin Raum hat,
auch ohne
Sprache.
ESTAR, NA SOMBRA
do estigma do ar.
Para-ninguém-e-nada-estar.
Irreconhecido,
para ti
somente.
Com tudo o que lá dentro cabe,
Mesmo que sem
Fala.
(Paul Celan – tradução de Cláudia Cavalcanti)
des Wundenmals in der Luft.
Für-niemand-und-nichts-Stehn.
Unerkannt,
für dicha
alien.
Mit allem, was darin Raum hat,
auch ohne
Sprache.
ESTAR, NA SOMBRA
do estigma do ar.
Para-ninguém-e-nada-estar.
Irreconhecido,
para ti
somente.
Com tudo o que lá dentro cabe,
Mesmo que sem
Fala.
(Paul Celan – tradução de Cláudia Cavalcanti)
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