terça-feira, 12 de maio de 2009

PEQUENO INDICIONÁRIO DE INUTILIDADES

Abracadáver
[Do gr. abraxádaverion, pelo lat. tard. aperirecadavere]
S. m.
1. Palavra cabalística à qual se atribuía a propriedade de fazer renascer os mortos. Devia ser escrita em 11 linhas sobre o corpo sem vida de um homem ou de um animal de estimação, sempre com uma letra a menos em cada uma das linhas, de modo a formar um triângulo.
2. Expressão que teria sido pronunciada por Jesus ao se deparar com o corpo sem vida de Lázaro e que teria trazido este de volta à vida.

Lacre de bico
R.u.c.
Ave da família dos lacreídeos, de coloração branca, com o ventre avermelhado. Originária do Gólgota, durante a crucificação era a ave pousada no ombro do Bom Ladrão. Mas ele a enxotou e ninguém chegou a reparar no Lacre de Bico. Por ter um lacre no bico, não se alimenta de nada e é a única ave canora que não canta. Seus silêncio e jejum foram atribuídos a castigos dos deuses. Há quem diga ainda que os lacres de bico são reencarnações de almas humanas impuras que não falam para não se distraírem de sua única tarefa: arrepender-se dos males feitos na vida humana. “Os deuses não se preocupam com os pássaros. E nós sabemos muito bem porque não cantamos” – pensariam os lacres de bico, mas seguem com os bicos lacrados.

Mata-olho[do lat. oculum morte]
S. m.
1. Planta aquática dos mares orientais. Ela se entretece, formando vastos gramados em pleno mar, onde apenas os pássaros muito novos pousam procurando uma breve pausa e encontrando o descanso eterno. O veneno contido nas flores azuladas do mata-olho cega qualquer ser vivo em questão de minutos. Inexplicavelmente, o poeta Luiz Vaz de Camões perdeu a visão de apenas um dos olhos ao se apoiar durante três dias num mata-olho, após o naufrágio da nau que o trazia de volta do exílio em Goa. Nesse mesmo mata-olho repousaram os manuscritos d’Os Lusíadas. Camões perdeu todos os seus bens e metade da visão, mas salvou a obra que o imortalizaria.
2. Ver Fecholhos.

Pingo-de-Viola
S.T.
1.Lágrima do choro causado pelo toque da viola de cocho do pantanal.
2. Planta com a qual os violeiros fazem um pacto com o demônio para tocar bem. Dizem que é a planta que nasce nas margens do rio Hades, que banha o inferno.

Remedeio[Do nórdico Remdeskr]
Ad. G.
1. Ou remedunho, ou ainda remeducho: animal a que se atribui curas somente pela proximidade, mas que ao ser domesticado para uso constante vira uma cópia de si próprio, sem suas propriedades curativas.
2. Roedor de dentes pequenos e cabeça alongada em focinho e duas asas que se destacam pela bela e multicolorida plumagem em meio ao pelame marrom. Essas asas, no entanto, são inúteis ao remedeio, pois não o fazem voar e o atrapalham na fuga pela vegetação rasteira das montanhas onde habita, tornando-o presa fácil seja das aves de rapina que o caçam para se alimentar, seja do próprio ser humano em busca de cura para seus males.

Sefirdazin[do árab. Zhefeirzhedaz]
Idioma resultante da mistura do português com o idish, falado por judeus fugidos da Inquisição portuguesa, no século XVI, e que vieram a se estabelecer como comerciantes em São Luiz do Maranhão. Até o século XIX ainda havia registros do uso do sefirdazin, basicamente por uma única família oriunda do grupo de imigrantes. Atualmente o que restou da língua é um pequeno caderno, com poemas manuscritos, que se encontra na Biblioteca Municipal de São Luiz.

Sub-bailéu
[Do malaio sobbe-bailai]
S. m.
Dança popular de origem polinésia, onde os dançarinos são suspensos por cordas e movimentados para cima e para baixo através de roldanas. É encontrada também em Brunei e no sul da Península Malaia, com o nome de baléu-de-bazar e baléu-de-baba.

Vou-me-embora
Flor que nasce na beira do rio Consoada, que banha a cidade de Pasárgada, capital da Pérsia Imaginária. Descoberta pela espeleóloga Joana Primeva, conhecida como a louca de Espanha, já que ninguém no mundo da Botânica acreditava ser real sua descoberta. Segundo Joana, a vou-me-embora tem a aparência de uma lagarta listada e a beleza das flores quase sem perfume, brota onde se acumula a água da fonte escondida e deve ser adubada com pouca cinza fria. Floresce à luz da primeira estrela piscando no lusco-fusco e possui um único fruto sem cuidado que ainda verde apodreceu.
(Cesar Cardoso)

2 comentários:

  1. Cesar,
    belo o texto, grande a idéia!

    Um abraço,
    Oswaldo

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  2. sr. cesar, o senhor não perguntou mas informo mesmo assim que possuo um exemplar magnífico da vou-me-embora em minha propriedade no campo. a vou-me-embora é tudo isso que o senhor disse, vejo que está bem informado. só acrescento que a referida planta não pode ser vista por todos. ela tem o dom de escolher os olhos que devem repousar sobre suas folhas. aqui em casa só eu a vejo. ela manda lembranças.
    um abraço

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