segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sobre Dalton Trevisan

Acabo de ler novo livro de Dalton Trevisan. Continhos galantes. Como já vem sendo comum, o autor curitibano enfrenta os desafios da linguagem com economia. São curtos e mordazes. Não dão ao leitor muitas chances de se compadecerem das personagens. Secos, lembram as misérias da vida. Parecem ser realistas. Entretanto, a linguagem mínima, com que os constrói, busca afirmar-se num ponto além da vida cotidiana. Esclareça-se: um ponto além que desconstrói, não apenas a vida bem-posta dos cotidianos, mas a própria concepção de linguagem com que se está acostumado.

Irônico, o autor parece querer fazer com que o leitor se depare com uma formulação que desafia as máscaras românticas do amor, dando a esses rostos desmascarados o caráter definitivo da solidão em que os homens estão mergulhados. Neste sentido, a percepção cética da aceitação tem caráter duplo. Embora se saiba que o jogo da linguagem foi feito para comunicar, percebe-se que essa comunicação prescinde da linguagem, pois já está inscrita nas condutas sociais que seus personagens encarnam. A linguagem apenas sublinha um desacordo que ao cabo se revela ineficaz, já que se baseia no fingimento do que se afirma. Deve-se ler o Vampiro, pois, com os sinais trocados.

(Oswaldo Martins)

4 comentários:

  1. agradeço a oportunidade de saber de sua existência e conhecer algo de seu trabalho e de seu caráter...que pena que não sou do Rio nem tenho filhos nessa idade escolar...adoraria que tivessem um professor poeta! Viva a poesia! Viva o poeta! ana

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  2. osvaldo...desculpe chamá-lo assim...li hoje sobre sua história!!! é estarrecedor! quanto obscurantismo! que bom que existem pessoas que acreditam na arte...na poesia...vá em frente...deixe de lado quem não tem idéia de si...que dirá do outro! Digno de pontificar num ensaio sobre a cegueira...abçs...siga com a poesia! ana

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  3. Osvaldo, sou mais um que vem prestar-lhe solidariedade. Minha mulher é professora de matemática. E ela dá aulas lá na EP. Talvez a conheça, talvez já tenha ouvido falar, não sei (digo isso já que ela não costuma dar aulas regulares; apenas apoio. E é bem feliz por isso...). Mas adora, ama mesmo, o que faz. Como, decerto, você. Bons profissionais (idéia que encerra os quesitos concentração e determinação) vão em frente, se dão bem. // Um abraço, Frederico. (fgarschagen@gmail.com)

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  4. Oswaldo, devemos ler as notícias sobre sua obscura demissão também com sinais trocados? O que é mais importante neste caso, ver ou procurar não enxergar para não contaminar-mos? Fui seu aluno na UNIVERCIDADE (sic)e conheço tanto a qualidade de sua obra quanto a seriedade de seu trabalho. Não torço para que o colégio reveja a posição tomada, mas que você não volte, pois tal instituição não merece um profissional com sua visão.

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