segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pilulinha 34

A leitura de Mayombe, romance de Pepetela, publicado pela Editora Leya, em 2013, é um livro que se lê agradavelmente. Entretanto, não é um obra que permita grandes ilações estéticas, como toda literatura de fundo realista. As experiências narradas ao longo do livro possuem desfechos mais ou menos pré-sabidos. É como se estivéssemos lendo o vigésimo livro de Jorge Amado e suas intermináveis personagens femininas.

Ondina, a personagem emblemática da revolução, o MPLA, o heroísmo dos guerrilheiros, tudo convoca o leitor a observar de maneira direta o que a literatura dos anos 30/40 fez no Brasil, e que certa literatura, que se quer um misto de memória e realismo tenta fazer hoje no momento em que as feridas do golpe militar dos anos 60 voltam a ser abertas. As experiências da tortura, o desmanche das estruturas mentais, o rasgo aberto nos corpos da sociedade ainda não tiveram seu interprete nem se aperceberam totalmente da força destruidora que dominou e domina os alicerces da cultura. Apenas raros escritores perceberam de fato a deriva que aponta para um tipo muito específico de luta pelas liberdades e que incluem – em combate – as vozes diferenciadas que forma o tecido social.

Não é grande literatura; o livro de Pepetela permite que certo leitor se compraza consigo mesmo e com o gigantismo do heroísmo evocado pelas reminiscências do narrador. Em tempos obscuros, nos quais se busca o experimentalismo a toda prova, Mayombe, com seu nacionalismo, com as questões que coloca, tendo como centro das discussões o dirigismo, acaba funcionando como uma válvula de escape para aqueles que escrevem e pensam – ainda – num nacionalismo tão difuso e folclórico, que implica numa percepção rasteira da história e das tradições de seus países.

O pior, entretanto, não é o livro de Pepetela, mas a crença difundida aqui e ali, nas escolas e nas mídias formadoras de leitura, de que este é o caminho mais profícuo – e também o mais fácil –  para se formarem leitores.


(oswaldo martins)

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