A leitura de Mayombe, romance de Pepetela,
publicado pela Editora Leya, em 2013, é um livro que se lê agradavelmente.
Entretanto, não é um obra que permita grandes ilações estéticas, como toda literatura
de fundo realista. As experiências narradas ao longo do livro possuem desfechos
mais ou menos pré-sabidos. É como se estivéssemos lendo o vigésimo livro de
Jorge Amado e suas intermináveis personagens femininas.
Ondina, a
personagem emblemática da revolução, o MPLA, o heroísmo dos guerrilheiros, tudo
convoca o leitor a observar de maneira direta o que a literatura dos anos 30/40
fez no Brasil, e que certa literatura, que se quer um misto de memória e
realismo tenta fazer hoje no momento em que as feridas do golpe militar dos
anos 60 voltam a ser abertas. As experiências da tortura, o desmanche das
estruturas mentais, o rasgo aberto nos corpos da sociedade ainda não tiveram
seu interprete nem se aperceberam totalmente da força destruidora que dominou e
domina os alicerces da cultura. Apenas raros escritores perceberam de fato a
deriva que aponta para um tipo muito específico de luta pelas liberdades e que
incluem – em combate – as vozes diferenciadas que forma o tecido social.
Não é grande
literatura; o livro de Pepetela permite que
certo leitor se compraza consigo mesmo e com o gigantismo do heroísmo evocado
pelas reminiscências do narrador. Em tempos obscuros, nos quais se busca o
experimentalismo a toda prova, Mayombe, com seu
nacionalismo, com as questões que coloca, tendo como centro das discussões o
dirigismo, acaba funcionando como uma válvula de escape para aqueles que
escrevem e pensam – ainda – num nacionalismo tão difuso e folclórico, que
implica numa percepção rasteira da história e das tradições de seus países.
O pior,
entretanto, não é o livro de Pepetela, mas a crença difundida aqui e ali, nas
escolas e nas mídias formadoras de leitura, de que este é o caminho mais
profícuo – e também o mais fácil – para
se formarem leitores.
(oswaldo
martins)
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