segunda-feira, 29 de abril de 2013

Paulo Vanzolini


Paulo Vanzolini é um compositor sui generis no cancioneiro brasileiro. Não só pela presença em um ambiente musical estranho para a maioria das pessoas eruditas deste nosso triste país, que confunde erudição com uma postura centrada nos aspectos mais preconceituosos da sociedade, como pela qualidade intrínseca de sua composição. Há sambas seus que, deste sempre, estão entre os mais interessantes e executados da vasta produção musical do país e há sambas seus que passam despercebidos, mas que são de maestria inigualável.

Há pouco tempo, brincando com uma amiga, montei uma expressão retirada de uma música sua, Juízo Final, que diz que a mulher, ingrata, está “trabalhando de salsicha”. São pequenas incursões no universo de Vanzolini, que uso para me vingar do que desagrada e incomoda. Os versos do compositor são uma fonte inesgotável para a imaginação de toda uma produção centrada nas observações do cotidiano.

Talvez a observação do cotidiano, paulista e universal, seja a pedra de toque que coloque o compositor na melhor tradição do samba.

(oswaldo martins)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

abl - o poema


1

à noite na surdina
toques de tambor

à noite na surdina
toques de horror

à noite em surdina
homens de honor

à noite em surdina

2

acadêmicos flor
à noite

na surdina
dos devotos votos

saracoteiam os cardos
do senhor

3

o senhor à noite
em surdina

quebra o lastro
da flor

cumpre do fado
o favor

4

à noite em surdina
sob os enforcados

do maranhão
cabulam os votos

do senhor maior

5

enfim, em surdina
à noite

pedem embaixadas
aos pares frouxos

dos frágeis doutores
de olho coxo

(oswaldo martins)

terça-feira, 23 de abril de 2013

alguma natureza



tudo isso que fazemos se refere ao mar
mesmo que só de passagem
congelado ou
degelado
o mar

nas palavras em que cabemos
o mar espera
nas que desfazemos
ele se arruma

o mar é tudo que queremos
por dentro e por fora
o mar
motivo de rendas, bordados de ondas
fases de cumprimento e descumprimento
da vida que nos leva
o mar

seria por que sou do rio
ou por que me agrada o passado
de marinheiros e poetas lunáticos que sem sucesso
evitaram as sereias
ou por que amigos me dizem que sou do gênero
da água

seria por que me faltam as montanhas agora
para delimitar minha selva
mas algo me diz que tudo que faço é por causa dele
oriente e desorientação banal nos dias em que não sinto
que estamos ele e eu a nos estranhar

(Lúcia Leão)

É preciso lembrar Mario Pedrosa ou por que Maduro deve manter o chavismo


Washington encontrou no desfecho político  da crise brasileira a porta para a solução de um de seus problemas estratégicos imediatos: a revogação do compromisso de não-intervenção por parte dos Estados Unidos em qualquer país latino-americano; era aquele compromisso até então a pedra angular de todo o sistema interamericano. A queda de Goulart e a subida ao poder do grupo militar chefiado pelo marechal Castelo Branco, em abril de 1964, no Brasil, legalizou, de antemão, o desembarque, em junho do ano seguinte, dos conhecidos fuzileiros navais norte-americanos na República Dominicana. Quando o marechal Castelo Branco , sem esperar muito, envia quase no encalço dos fuzileiros norte-americanos soldados brasileiros para desembarcarem na pequena ilha, a casa Branca deve ter mandado retocar o retrato já esmaecido do velho Teddy Roosevelt, com seu afinal sábio e glorioso big stick ao lado. O Brasil restaurado mostrava como um país realmente democrático não tem dificuldades em sancionar, com a sua solidariedade prática, a retomada das intervenções armadas norte-americanas no cansado mar das Caraíbas. O gesto do marechal marcou um tournant decisivo na política imperialista americana, no nosso Continente.

(Mario Pedrosa – A Opção Brasileira) 

corpos


1

herméticos de si mesmos
os corpos

fake do funk face
imagens falseadas

do umbigo

2

se cabem os deuses
os deuses de pacotilha

empacotam o pacote
do paquete

3

um cão perdido
bebe sangue

no lixo

4

um professor antigo de ética
dizia em todas aulas

ai ética e a moral
a moral e ai ética

era portuga salazarista
o filho da puta

alguns repetem o professor
e se perdem nas possibilidades

dos faceiros anjos azuis

5

o balaio mole
não bole

foi trocado

pela marcha militar
das modelos

(oswaldo martins)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Tal


o que querem as mulheres
perguntou o jovem imberbe
o que querem as mulheres
perguntou o mestre

o jovem imberbe
deu uma bofetada
na cara do mestre


disse uma diarista potuguesa
que andava a tirar o pó do mosteiro
ó caolho, eles ainda não sabem
o que querem as mulheres

Elesbão

sábado, 20 de abril de 2013

acordeão




abandono
tudo que é leque
se move
no ar que se deixa
retocar

uma fatia de sombra
que se estreita
a soma do que afastamos
pra cá
e pra lá


Lúcia Leão

Caros Amigos


          Todos vocês receberam a mensagem final para o passeio de barco atribuída ao nosso "Grande Timoneiro Ubiratan Braga". Outras mensagens, dirigidas a um grupo menor, fazem referência a mim como Comodoro, Comandante, etc. Eu entendo isso como uma brincadeira ( para não usar um termo chulo mais apropriado) comigo. Mas nada posso fazer, reagir a essas adjetivações seria pior. Contudo, tal posicionamento, atribuindo a mim um papel de comando em relação ao passeio de barco, não corresponde aos fatos e em especial não faz justiça ao grupo entitulado " Comitê de Organização do Passeio de Barco", constuituído pelos casais a seguir, em ordem alfabética das cônjuges: Cibele/Cesar ; Cláudia/Ubiratan ;Juliana/Nilson; Lucia/Ricardo; Luiza/Acácio; e Rose/Horácio.

        Para chegarmos aqui foi um árduo caminhar. Nossa primeira reunião a respeito foi em 02/02/2013, em minha casa, quando decidimos colocar em prática o antigo sonho do passeio de barco, optamos por  um percurso dentro da Baía de Guanabara e outros pormenores. Para disfarçar o real motivo do encontro - o passeio - dissemos que seria uma degustação de rum, bebida que tem tudo a ver com o mar. Nosso segundo encontro foi às portas do Bar Urca, em frente ao mar, para manter viva a chama do passeio, em que pesem as condições adversas de uma reunião ao relento. Houve ainda uma terceira reunião, na verdade uma inspeção ao barco, finda à qual, sempre atentos  a tudo que se relacionasse ao passeio, fomos comer uma moqueca na Taberna da Glória, em frente à Marina.  É verdade que nem todos puderam ir a todas as reuniões. Afinal as pessoas tem que comprar parafusos, consertar ar condicionado e computador e nada melhor do que fazer isso aos sábados, dia das reuniões e da criação, segundo Vinicius.  Mas o quorum foi sempre suficiente a decisões por ampla maioria. Além desse trabalho coletivo teve ainda a competente divulgação a cargo do casal Rose/Horácio, na redação e encaminhamento de e-mail.

        Por tudo isso, pelo trabalho em equipe realizado, é que rejeito as adjetivações acima, pois esse passeio não tem um comandante em terra. Certamente terá no barco, personificado no responsável pela escuna, e tem acima de tudo  antigas e grandes amizades, não só das pessoas do Comitê mas de inúmeros outros amigos que estarão presentes, consolidadas em eventos periódicos como esse, agora abrilhantados pelo nossos convidados.

       Dessa forma, achei importante esse registro.


          Ubiratan Braga

Os dons da poesia


Borges recebe em casa os até então desconhecidos Campos e a mulher, Lygia: visita nunca teria se realizado não fossem os dois siderados por algo tão trabalhoso como inocente, a poesia

Luiz Costa Lima

O leitor talvez não se tenha dado conta que, até a morte de Jorge Luis Borges, em 1986, foi contemporâneo do maior escritor que a América Latina já produziu. Nada há de estranho: afinal o pão nosso de cada dia antes se tornam as ações da bolsa que a poesia. Chega a ser mais provável que, em função da inconsequência midiática e de pequenas invejas letradas de que não nos livramos, o mesmo leitor permaneça sem saber que é contemporâneo do maior poeta brasileiro vivo, Augusto de Campos.
Até por isso, é mais singular e extraordinária a oportunidade que se lhe oferece de ultrapassar os dois desconhecimentos: a publicação do "Quase Borges" (Terracota Editora, 100 págs., R$ 39,00). Como declara seu subtítulo, o pequeno livro consta de 20 transpoemas e uma entrevista. (Acrescentem-se as fotos do encontro.)
Em fevereiro de 1984, em Buenos Aires, Campos, na companhia de sua mulher e de um de seus filhos, era recebido no modesto apartamento do grande argentino. Durante sua conversa, os dois poetas se comportavam como meninos curiosos que "competissem" amigavelmente, recordando passagens memoráveis do jogo que mais admirassem, no caso, o "jogo da linguagem" por excelência, a poesia. Passagens do "Finnegans Wake", do Arnaut Daniel, citado em provençal por Dante, de Keats, de Cummings, de Pound, de Pessoa, surgem ao lado da recorrência à etimologia de palavras e da recordação de cenas da vida de Borges e de outros autores; tudo com a naturalidade de quem falasse sobre os acontecimentos agradáveis do dia. Pareceriam dois amigos que se reencontravam? Mas não, nunca haviam se visto e a visita fora possível apenas pela ousadia de um e a disponibilidade do visitado. Nunca teria se realizado não fossem siderados por algo tão trabalhoso como inocente: a poesia.
Isso não impedira que, desde então até o momento em que o livro aparece, tivessem dirigido sua paixão para rumos diversos: desde que perdera a vista por completo, Borges se dedicara a versos de formato regular, cujo isossilabismo e métrica rigorosa ajudava sua memorização, ao passo que Campos, sem prejuízo de continuar a traduzir seu paideuma expansivo - desde Arnaut Daniel até Marina Tzvietáieva -, tem-se empenhado na poesia realizada por novas mídias. Por acaso, uma "concordia discors" - concórdia discordante? Absolutamente, não. A figura não seria adequada porque o perfil clássico assumido por Borges e a eventual opção eletrônica de Campos são decisões que manifestam o mesmo empenho pelo que os cativa.
Se há discordância é aquela que os comunga contra o performativismo profissional contemporâneo. Que poderia haver de mais oposto que a decisão de um estrangeiro telefonar de seu hotel para o residente local e de esse aceitar sem entraves ser visitado? (Teste-se repeti-lo com alguma "estrela" e logo se reconhecerá a diferença.)
A seleção de textos do último Borges abre com a mais excelente das escolhas: o "Poema dos Dons". O leitor brasileiro - por extensão, de língua portuguesa - tem a vantagem única de reencontrar a mesma qualidade nas duas línguas e o mesmo rigor em sua construção. Por certo, as duas línguas são parecidas, nem por isso seria menor a dificuldade de manter a qualidade reconhecida desde a publicação do "primeiro" original em "El Hacedor" (1960). E a figura atrás rejeitada aqui insiste em ser retomada: O "Poema dos Dons" se elabora por uma "concordia discors". Ela é formada pelo entrecruzamento de um modo expressivo e a tonalidade irônica. Modo expressivo: uma disposição não demasiado reverente. Tonalidade irônica: não demasiado cortante. Suas propriedades são precisamente essas porque se dirigem nada menos que ao Criador: "Ninguém rebaixe a lágrima ou censura/ Esta declaração da maestria/ De Deus, que com magnífica ironia/ Me deu mil livros e uma noite escura".
Introduzindo o qualificativo "escura", quando o verso castelhano apenas apresentava "y la noche", Campos reforça tanto a alusão à cegueira como aumenta seu potencial irônico, por fazer de imediato recordar "la noche oscura" do poeta místico San Juan de la Cruz. Na impossibilidade de seguir cada solução de cada verso, passo ao terceiro quarteto: "De fome e sede (narra a história grega)/ Morre um rei entre fontes e jardins./ Eu erro sem cessar pelos confins/ Dessa alta e funda biblioteca cega".
Ao destacá-lo, não pretendo diminuir a estrofe anterior, senão aproveitar que a terceira, pelo "enjambement" de seu começo, continua o final da estrofe 2: "De insensatos parágrafos que cedem"… Algo de semelhante faço com a quinta, que contém outro formato: semelhante a uma coda em música, ela recapitula os dois dons, tratando dos tesouros entregues ao humano e conclui com a sombria ironia do ultimo verso: "Enciclopédias, atlas, o Oriente/ E o Ocidente, eras, dinastias,/ Símbolos, cosmos e cosmogonias/ Brindam os muros, mas inutilmente".
O poema contudo está apenas na metade. As cinco estrofes seguintes assumem outro rumo. Ressalta-se um vulto entre as sombras. A nota sombria da quinta estrofe envolve o próprio autor, que se faz presa da ironia que reservara ao Criador. Mas nos enganamos se pensamos em a ironia passar de um a outro criador. A referência agora remete a um "outro", contudo mortal, que "já recebeu noutros cinzentos/ Ocasos os mil livros e esta treva".
O outro é seu antecessor na direção da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, Paul Groussac. Pois o duplo dom de todo o poema tem por objeto a biblioteca. Poema de um cego que não desaba em desespero, cuja perda não o traz a um autocentramento compensatório, o tesouro referido não é o das cores e formas do mundo, senão daquela parte que mais lhe importa, o interior da biblioteca, que, ao ser percorrida, permite que o morto Groussac e o que ainda escreve sintam o "vago horror sagrado" que um e outro, Groussac e Borges, eu e você, somos variantes do mesmo "uno e indivisível dilema". Dilema? Sim, de "este querido/ Mundo que se deforma e que se apaga/ Em uma pálida poeira vaga/ Que se parece ao sonho e ao olvido".
Ainda venhamos ao poema seguinte, "Xadrez". Se os protagonistas do anterior eram dois - o morto e o cego, os que de igual erraram entre as "lentas galerias" -, em "Xadrez" os rivais deixam de ser nomeados para que se identifiquem com o espaço: o Oriente de onde partira o jogo e o anfiteatro da terra a que se espalhara. Na parte II do poema, o anfiteatro, por sua vez, converte-se em cosmogonia. São as peças -"Tênue rei, bispo em viés, encarniçada/ Rainha, torre à frente e peão alerta" - que de fato jogam ou quem será o jogador? Quem o prisioneiro ou o carcereiro? Nem as peças nem este ou aquele continente. Por acaso algum deus? Sim, desde que identificado com aquele cujo ardil consta em ser feito "de pó e tempo e sonho e agonias" - o deus aceito mesmo pelos ateus.
Se disse que "Quase Borges" consta de 20 poemas, como uma pretensa resenha pôde se contentar em breve referência a apenas 2? Sei que adotei um recurso contestável. Mas qual seria a alternativa se não posso me estender por páginas sem conta? Concentrando-me em dois dos "transpoemas" pretendi dar uma ideia da forma de linguagem agora marginalizada pelo blablablá dos que não suportam um instante de convívio consigo. Fora desse recurso, a solução satisfatória exigiria a existência de um terceiro dom: o que reunisse o infinito do conceitual com o infinito do sensível. Ou seja, que tornasse possível condensar a suprema poesia em uma equação matemática.

Luiz Costa Lima é crítico literário e escritor, autor de "Lira e Antilira", "Mímesis e Modernidade", "A Ficção e o Poema", entre outros

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Cavaquinho, novamente


A gagueira do violão de Nelson Cavaquinho, no Rei Vagabundo, me encanta toda vez que escuto a música; me ensinam poesia e o corte do verso os versos do Sempre Mangueira. Em que pese a sonoridade ão/ão dos 2º e 4º versos, o que dizem é tão preciso, tão perfeitos na percepção do fazer poético que poderia dizer, parodiando Manuel Bandeira, que, em relação ao verso de Chão de Estrelas – Tu pisavas nos astros distráida – dizia serem o mais bem acabado decassílabo da língua portuguesa, é a lição de construção poética mais intensa a que poderia chegar nosso cancioneiro.

Senão, vejam.

Os dois primeiros versos “Os versos de Mangueira são modesto / Mas há sempre força de expressão” trazem um pensamento antitético que localizam o fazer poético na amplitude de dois contrários que se adequam. A modéstia e a força. Houvesse a poesia brasileira seguido os conselhos do encanecido menestrel, não estaria presa aos vazios do nada dizer – que assombra boa parte dos leitores. Os versos seguintes “Nossos barracos são castelos / Em nossa imaginação” são sublimes por realizarem no plano do factual o que se propunha teoricamente.

Tomada a imaginação como índice da força de expressão, e os castelos como correlatos da modéstia, Nelson Cavaquinho realiza, para além da simples expressão corriqueira do redizer o já visto da linguagem cotidiana, uma suspensão no modo de se compreender o mundo e a formulação do próprio trabalho com a linguagem. As inversões se tornam tão renhidas e absolutas que o leitor/ouvinte deve saber que está frente a um caso único de sensibilidade poética. A daqueles que têm no saber da vida o sabor da linguagem e com elas fazem maravilhas.

(oswaldo martins)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

indicaçôes medicamentosas


indicados pela cardiologista:

losartana 50mg, duas vezes ao dia;
amiodarona 100mg, uma vez;
somalgim 100mg;
sinvastatina 10mg.

indicado pelo gastroontorologista( ou gastoenterologista?):

ziprol 20mg, em jejum e em dias alternados.

pelo ortopedista:

Nutrical D, duas vezes ao dia
e Mobiliy, uma vez.

pela reumatologista:

alendronato de sódio 70 mg, uma vez por semana, em jejum e ficar 40 min. em pé ou sentado, não deitar.
pelo dono da taberna: uma garrafa de vinho tinto 750ml por dia.
pela puta da esquina: um boquete por noite- tem promoção: leva três, paga dois.
pelo curandeiro dos búzios: elixir do pajé.
pelo cura da paróquia: três terços ao dia, após as principais refeições.

pelo papa-defunto: quanto está a medir? quanto está a pesar?

elesbão ribeiro

17/04/13

The Tempest


para o William

depois da tempestade
sempre sobra desgraça.

elesbão ribeiro
16/04/13

domingo, 14 de abril de 2013

Kaváfis


MONOTONÍA

A un día monótono otro
monótono, invariable sigue: Pasarán
las mismas cosas, volverán a pasar -
los mismos instantes nos hallan y nos dejan.

Un mes pasa y trae otro mes.
Lo que viene uno fácilmente lo adivina:
son aquellas mismas cosas fastidiosas de ayer.
Y llega el mañana ya a no parecer mañana.


MONOTONIA

Segue a un giorno monotono un nuovo
giorno, monotono, immutabile.
Accadranno le stesse cose, accadranno di nuovo.
Tutti i momenti uguali vengono, se ne vanno.

Un mese passa e un altro mese accompagna.
Ciò che viene si immagina senza calcoli strani:
è l'ieri, con la nota noia stagna.
E il domani non sembra più domani.


MONOTONIA

A um dia monótono outro
monótono, idêntico, segue. Ocorrerão
as mesmas coisas; essas novamente ocorrerão –
os instantes, semelhantes, encontram-nos e deixam-nos.

Um mês passa e traz outro mês.
Essas coisas que chegam facilmente se presumem:
são aquelas de ontem, as enfadonhas.
E o amanhã acaba por já não parecer um amanhã. 

domingo, 7 de abril de 2013

Sarau TextoTerritório/Biblioteca parque de Manguinhos



Maura Santiago



Marli Bispo


Monique Nix lendo sua Dialética


Ivete


Beth


Môzi


José Pereira


Alexandre Faria atento à leitura


Alexandre Faria


Nosso poeta convidado, Fernando Miranda, lendo poemas de seu livro Transdialogia


a teoria do jardim de Dora Ribeiro



Monique Nix



Oswaldo Martins

sábado, 6 de abril de 2013

corrimão

mãos idosas embaçam
o lustro
de corpos jovens deslizantes.

elesbão ribeiro
04/04/2013

coistas


muro sem lamentações
muro para pular a cerca

e ir além da cultura
e ir além de si

ser o um outro
outro do outro

rascante
como uma pedra

que não sei quem
atirava ao lago

por não saber
fazer outra coisa

(oswaldo martins)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Viomundo


Globo cala jornalista

Por Eliakim Araújo

Vou usar este espaço hoje, para solidarizar-me com Luiz Carlos Azenha, um correto e honesto jornalista,  que edita um dos mais respeitados blogs da mídia alternativa brasileira, o Viomundo.

Azenha, que deixou a Globo em 2006, “enojado” com a parcialidade da emissora na cobertura da campanha eleitoral daquele ano, vinha incomodando os poderosos da antiga emissora, porque sabia demais.

Foi testemunha ocular e auditiva de um sem número de manobras praticadas no submundo do jornalismo global, cujo feitor era (e continua sendo) Ali Kamel, o homem encarregado pela família Marinho de reescrever a história recente do Brasil a partir da ótica do Jardim Botânico, numa operação destinada a limpar o passado comprometido da emissora com a ditadura militar.

Azenha - que não recebe um tostão dos anunciantes que fazem a fortuna da grande mídia - foi penalizado pela Justiça que o condenou a pagar R$ 30 mil ao subserviente Ali Kamel.  Na última sexta-feira, Azenha anunciou o fechamento de seu blog, por falta de condições financeiras de brigar contra o poder da Globo.

Azenha jogou a toalha, mas estou certo de que seu exemplo de determinação e coragem vai germinar e fortalecer a luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil.  Leia aqui a nota em que Azenha explica as razões que o levam a desistir do Viomundo.

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa

por Luiz Carlos Azenha

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão— entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.

Dica salsicha de saúde


1 - O homem é o reverso o vinho, quanto mais se guarda, mais avinagra, por isso aproveite o vinho cedo.
2 - Dar porrada em quem merece desopila o fígado.
3 - Chamar de Zezinho os Sarneys, os Yosefs, os Arimateias etc, faz desanuviar o futuro.
4 - Ir ao museu, para rir das coisas velhas e mais ainda das modernas, faz bem para o ritmo ciclotímico do coração.
5 - Não respeitar o sagrado cura até doenças incuráveis, como o conservadorismo.
6 - Brincar de fazer borbulhas na água é bom para intestino constipado.
7 - Ficar de saco cheio é igual estar no cemitério - sempre é bom, para evitar o desfecho, esvaziá-lo.

(oswaldo martins)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

touché


Eu não digo nada

                                                                        Isso de construir o nada na arte, meu amigo, é muito bonito como ideia, o jogo de palavras, o ângulo, os cortes, as associações, mas sejamos sinceros, isso não vale nada, nada disso vai ficar, não obstante os elegios da turminha, das revistas e dos jornalecos, é chato pra cacete, então, se não tem nada a dizer, faça sempre o seguinte poema, eu não digo nada

(as visitas que hoje estamos – antonio geraldo figueiredo ferreira)

as visitas que hoje estamos


fora de hora

                                                                     o menino pediu comida, o sonso do meu marido deu um litro de leite em caixinha, depois viu que o moleque, lá na esquina, jogou fora, eu falei pra ele, você é tonto, mesmo, esses coitados nem sabem o que é isso, leite de caixinha, sem contar que era integral, não estão acostumados com gordura, era capaz de fazer mal, dar caganeira.

(as visitas que hoje estamos – antonio geraldo figueiredo ferreira)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Pieter Brueghel


William Carlos Williams


LANDSCAPE WITH THE FALL OF ICARUS

According to Brueghel
when Icarus fell
it was spring

a farmer was ploughing
his field
the whole pageantry

of the year was
awake tingling
near

the edge of the sea
concerned
with itself

sweating in the sun
that melted
the wings' wax

unsignificantly
off the coast
there was

a splash quite unnoticed
this was
Icarus drowning

WILLIAM CARLOS WILLIAMS


PAISAGEM COM QUEDA DE ÍCARO


Segundo Brueghel

quando Ícaro caiu

era primavera


um lavrador arava

sua plantação

e toda a pompa


da estação

despertava e tilintava

bem perto


a beira-mar

tomava conta

de si


suando no sol

que derretia

a cera das asas


um detalhe banal

perto da costa

um esguicho


passou despercebido

este era Ícaro

se afogando


(Tradução: Rodrigo Garcia Lopes)

Auden



Musée des Beaux Arts

About suffering they were never wrong,
The old Masters: how well they understood
Its human position: how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.

In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water, and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
Had somewhere to get to and sailed calmly on.

W. H. Auden



Musée  des beaux arts

Sobre o sofrimento tiveram sempre razão
Os Velhos Mestres; perceberam lindamente
A sua humana posição; como habitualmente ocorre
Enquanto outros comem ou abrem uma janela ou simplesmente passeiam;
Como, enquanto os idosos aguardam reverente e ardentemente
Pelo milagroso nascimento, tem de haver
Crianças que não queriam especialmente que acontecesse, patinando
Num lago na orla da floresta;
Nunca esqueceram
Que até o atroz martírio deve decorrer
Algures a um canto, um local grosseiro
Onde os cães continuam a sua vida de cão e o cavalo do algoz
Esfrega atrás de uma árvore o inocente traseiro.

No Ícaro de Breughel, por exemplo: como tudo se desvia
Calmamente do desastre; o lavrador por certo teria
Ouvido o splash, o grito desvalido,
Mas para ele não era um fracasso importante; o Sol brilhava
Como devia nas pernas brancas que no mar esverdeado
Se sumiram; e o barco sumptuoso e delgado que terá vislumbrado
Algo de extraordinário, um rapaz do céu caído,
Tinha algures para onde ir e calmamente vogava.

(Trad. Margarida vale de Gato)


Musée des beaux arts

Eles nunca se enganavam sobre o sofrimento,
Os Velhos Mestres: como entendiam
Bem a sua posição humana; como tem lugar
Enquanto alguém está comendo ou abrindo uma janela ou só a passear
Por aí, como quando os mais velhos estão reverente, apaixonadamente
Esperando pelo miraculoso nascimento,
Sempre haverá crianças que não queriam, especialmente,
Que isso acontecesse, a patinar num lago na orla do mato:
Eles nunca esqueciam
Que até o terrível martírio tem de seguir o seu curso exato
De qualquer modo num canto, nalgum terreiro
Imundo onde os cachorros continuam levando sua vida canina e o cavalo
Do torturador raspa contra uma árvore o seu inocente traseiro.

No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo o mais se desvia
Tranquilamente do desastre; o camponês com o arado podia
Muito bem ter ouvido o barulho, o grito desamparado,
Mas para ele não era um fracasso importante; o sol brilhou
Como tinha de brilhar sobre as pernas brancas submergindo
Na água verde; e o navio caro e delicado
Que deve ter visto alguma coisa espantosa, um garoto caindo
Do céu, tinha algum lugar para ir e calmamente continuou.


(Trad. Renato Suttana)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Dora em espanhol

Confiram no link abaixo os poemas de Dora Ribeiro em espanhol

http://www.espacioluke.com/


Rio


o que eu não daria por um gole
da cachoeira das almas
por deixar meu corpo ir

a floresta da tijuca abriga
centenas de espécies
de mim

o cheiro do café nos meus genes
tardes na cozinha
fazendas que nunca vi

as mãos que plantaram
a floresta tropical usaram
o nome do tupi-guarani

em que língua devo esconder
o que ficou para trás
em que língua devo saber?

(Lúcia Leão)