terça-feira, 2 de abril de 2013

Auden



Musée des Beaux Arts

About suffering they were never wrong,
The old Masters: how well they understood
Its human position: how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.

In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water, and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
Had somewhere to get to and sailed calmly on.

W. H. Auden



Musée  des beaux arts

Sobre o sofrimento tiveram sempre razão
Os Velhos Mestres; perceberam lindamente
A sua humana posição; como habitualmente ocorre
Enquanto outros comem ou abrem uma janela ou simplesmente passeiam;
Como, enquanto os idosos aguardam reverente e ardentemente
Pelo milagroso nascimento, tem de haver
Crianças que não queriam especialmente que acontecesse, patinando
Num lago na orla da floresta;
Nunca esqueceram
Que até o atroz martírio deve decorrer
Algures a um canto, um local grosseiro
Onde os cães continuam a sua vida de cão e o cavalo do algoz
Esfrega atrás de uma árvore o inocente traseiro.

No Ícaro de Breughel, por exemplo: como tudo se desvia
Calmamente do desastre; o lavrador por certo teria
Ouvido o splash, o grito desvalido,
Mas para ele não era um fracasso importante; o Sol brilhava
Como devia nas pernas brancas que no mar esverdeado
Se sumiram; e o barco sumptuoso e delgado que terá vislumbrado
Algo de extraordinário, um rapaz do céu caído,
Tinha algures para onde ir e calmamente vogava.

(Trad. Margarida vale de Gato)


Musée des beaux arts

Eles nunca se enganavam sobre o sofrimento,
Os Velhos Mestres: como entendiam
Bem a sua posição humana; como tem lugar
Enquanto alguém está comendo ou abrindo uma janela ou só a passear
Por aí, como quando os mais velhos estão reverente, apaixonadamente
Esperando pelo miraculoso nascimento,
Sempre haverá crianças que não queriam, especialmente,
Que isso acontecesse, a patinar num lago na orla do mato:
Eles nunca esqueciam
Que até o terrível martírio tem de seguir o seu curso exato
De qualquer modo num canto, nalgum terreiro
Imundo onde os cachorros continuam levando sua vida canina e o cavalo
Do torturador raspa contra uma árvore o seu inocente traseiro.

No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo o mais se desvia
Tranquilamente do desastre; o camponês com o arado podia
Muito bem ter ouvido o barulho, o grito desamparado,
Mas para ele não era um fracasso importante; o sol brilhou
Como tinha de brilhar sobre as pernas brancas submergindo
Na água verde; e o navio caro e delicado
Que deve ter visto alguma coisa espantosa, um garoto caindo
Do céu, tinha algum lugar para ir e calmamente continuou.


(Trad. Renato Suttana)

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