A poética de Dora é uma poética que se destaca no
atual panorama da poesia brasileira. Tem a contenção de um João Cabral, sem que
com ele divida as preocupações do fazer poético, isto é, embora seja
fronteiriça ao grande poeta, sua poesia adquire voz própria desde muito cedo. A contenção se alia a certa voltagem de
emoções que transbordam e voltam à contenção e criam um estilo paradoxal em que
o íntimo transborda para ser aplainado pelo pensamento que se desliga do íntimo
e atinge o universal. Por isso sua poesia diz tanto, permite ao leitor
vislumbrar as raízes de onde partem, mas ao mesmo tempo desligam o leitor
destas raízes, fazendo com que ele, leitor, se abra para o pensamento em
espiral – uma espiral contida – um labirinto que é e não é ao mesmo tempo o
labirinto de Creta – e ali encontre apenas o encontrável da poesia – ou seja –
ela mesma.
A poesia de Dora é um pouco o sonho de ser da poesia.
Uma poesia que dá a ver o mundo como poesia e, intransigente com esse mundo,
constrói artefatos que são a razão mesma da vida transgredida até a poesia. Nela
se acha o leitor e é colhido pelo que há de mais importante no fazer-se potência
deste paradoxo que puxa de uma ponta a outra os entraves que a vida e a poesia
nos propõem. Certa feita Luiz Costa Lima sobre a poesia de Dora a define como
uma poesia para o pensamento.
Nossa, que domínio maravilhoso você exibe neste texto curto em que o pensamento se insinua mas me coloca em contato com algo para além dele e disso tudo. A sua poesia.
ResponderExcluirGosto muito do A poesia de Dora é um pouco o sonho de ser da poesia. Toda poesia é um pouco isso, não? Creio que Dora encarna bem esse desejo.
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