terça-feira, 20 de novembro de 2012

A poesia de Dora Ribeiro


A poética de Dora é uma poética que se destaca no atual panorama da poesia brasileira. Tem a contenção de um João Cabral, sem que com ele divida as preocupações do fazer poético, isto é, embora seja fronteiriça ao grande poeta, sua poesia adquire voz própria desde muito cedo.  A contenção se alia a certa voltagem de emoções que transbordam e voltam à contenção e criam um estilo paradoxal em que o íntimo transborda para ser aplainado pelo pensamento que se desliga do íntimo e atinge o universal. Por isso sua poesia diz tanto, permite ao leitor vislumbrar as raízes de onde partem, mas ao mesmo tempo desligam o leitor destas raízes, fazendo com que ele, leitor, se abra para o pensamento em espiral – uma espiral contida – um labirinto que é e não é ao mesmo tempo o labirinto de Creta – e ali encontre apenas o encontrável da poesia – ou seja – ela mesma.

A poesia de Dora é um pouco o sonho de ser da poesia. Uma poesia que dá a ver o mundo como poesia e, intransigente com esse mundo, constrói artefatos que são a razão mesma da vida transgredida até a poesia. Nela se acha o leitor e é colhido pelo que há de mais importante no fazer-se potência deste paradoxo que puxa de uma ponta a outra os entraves que a vida e a poesia nos propõem. Certa feita Luiz Costa Lima sobre a poesia de Dora a define como uma poesia para o pensamento.

2 comentários:

  1. Nossa, que domínio maravilhoso você exibe neste texto curto em que o pensamento se insinua mas me coloca em contato com algo para além dele e disso tudo. A sua poesia.

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  2. Gosto muito do A poesia de Dora é um pouco o sonho de ser da poesia. Toda poesia é um pouco isso, não? Creio que Dora encarna bem esse desejo.

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