Um bom ano, com esta pérola aí abaixo:
Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
VESTIDO PRETO, PELE CLARA
Um vestido preto envolve o conto
e a mulher aguda. Desenho de mulher viva contorna em tempo enlace a braços, ao
pescoço. Enquanto os olhos filmam planos alheios, retoco um tateio, pés e
joelhos, coxa e ilharga. Vestida de preto rua afora do conto de Mário de
Andrade traça-se sobre o seio triste meio e margem de outra via.
Niterói, 2012
CLÁUDIO CORREIA LEITÃO
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Os dez melhores lidos por mim ao longo de 2012
1 – O que deu para fazer em matéria de história de amor – Elvira Vigna – Cia das Letras
2 – O mestre de Gô – Yasunari Kawabata – Estação Liberdade
3 – Galileia – Ronaldo Correia de Brito – Alfaguara
4 – Rapace – André Capilé – TextoTerritório
5 – Matisse – Imaginação/erotismo/Visão Decorativa – Org.
Sônia Salzstein – COSAKNAIF
6 – Adelino Magalhães – Obra Completa – Aguilar Editora
7 – A Ferida de narciso – Evaldo Cabral de Melo – Editora Senac
8 – A ficção e o Poema – Luiz Costa Lima – Cia das Letras
9 – Elias Canetti – Vozes de Marrakesh – COSACNAIF
10 – O senhor Brecht – Gonçalo M. Tavares – Casa da Palavra
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
dísticos imperfeitos
as mulheres ilegítimas
abandonam os livros
com o olhar inacessível
os homens
adornadas de presente
antevistas de violência
no corpo nu
aprestam se aos vadios
os dísticos dos poetas
sem ou quando
à beira da cama
ganem abertas
não só as pernas
mas as armas
(oswaldo martins)
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
tríptico natalino
a castanha era o motivo natalino
por
excelência o trigo da festa da
fresta
que a priminha permitia
na casa avoenga a putaria
franciscana
despia antes as hipocrisias
natalinas
de seus faustos e presentes
que todos ganhavam cúpidos
de olho no dos outros e nas coxas
semidespidas das descuidadas meninas
(oswaldo martins)
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
poema do homem nu
sentado na poça
d’água retida do verão
ele se pergunta se é isso
então
se é assim
que o mundo termina
a moça que passa
e olha sem querer
enxerga na sua nitidez
ele.
(Lúcia Leão)
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
bidê
permite a
tuas pernas o invólucro
das paixões os tapetes os guizos
na água morna roçam-se as coxas
ó desmensurado, concebe nos teus
cômodos nossa acre licenciosidade
do lapa 2
mang mangue
minhas rugas onde dejetos fedem
ardor e sementes trouxeram no meio-fio
amalgamadas colombinas tb caco como ta
tear cancro cumular sevícias e baratas
do lapa
nos
nos nos teus
peitilhos de maracujá
pouca barba levantar-te a saia
navalhada, para quem te queira
o desejo vagabundo de misérias
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
contra-poema para moça sentada na privada nua
ela tirava meleca do nariz
o ouro escorrer
bolinhas atirava
para o fundo da vala
a cabrita
em sua vida privada
compunha quadros
que nenhuma bandeira
ousara
(oswaldo martins)
(oswaldo martins)
poema para moça no banco de praça nua
nas desoras
o vermelho das coxas
convida para um funk
nas estrelas
na luz do poste
o arraial da nudez
balbucia benzim
os olhos soçobram
inebriados de espaço
(oswaldo martins)
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
poema para moça no centro do espaço nua
havia o universo
para navegar um braço
de terra atirado
nas nuances do vácuo
um desrespiro que atinge
o centro do sovaco
(oswaldo martins)
Noite flamenca
Não era muito de
sair à noite, precisava apaziguar as brigas do marido com o filho. O garoto,
como tantos universitários, resistia à vida adulta, criava birras em todo
espaço-tempo e gastava sem critério. Nos últimos meses, o grupo da dança flamenca
estava proporcionando algumas oportunidades de badalação.
Chegara ao curso
de verão pelas mãos das amigas do trabalho, deixou-se levar com certa
facilidade, para si mesma reafirmava o propósito de só fazer esse mês de aula.
O joelho não ia aguentar, não tinha ritmo. Os genes árabes a fizeram gostar da
dança, da música cigana com sua escala ascendente tão próxima de uma herança com
que nunca tinha entrado em contato. Ficou para mais um semestre, e outro.
Irene, a
professora, é uma jovem argentina que preferiu o flamenco. Ver a professora
dançar lança a turma numa certeza de não conseguir. No entanto, rápido se
aprende guiado pelos passos fragmentados em câmara lenta. Nota-se o esforço. Mais
fácil para ela dançar no ritmo certo. Não é problema errar, um pequeno acerto
sempre é valorizado, gerando a confiança de poder mais.
Naquela noite ia
assistir a uma apresentação de Irene com Davi, um bailarino cigano e argentino,
acompanhados por Antônio, um violonista brasileiro especializado em flamenco.
No céu, uma
faixa azul avermelhada ainda resistia enquanto a lua cheia surgia do outro
lado. Era uma casa do início do século XX numa transversal das Laranjeiras. O
pátio externo fora preparado para servir como auditório e bar. Toldo, mesinhas
de madeira de demolição, cadeiras de boteco, luz de velas, tablado numa
extremidade, mais cadeiras e poltronas na outra. As conversas regadas a cervejas artesanais
fluíam. As amigas do trabalho chegaram e foram sentar ao fundo, estava mais
fresco sem o toldo.
O baile começa. As
conversas passam a sussurros. Silêncio e Olés. Músicas cantadas e dançadas.
Aplausos. Danças alegres, sensuais, sapateado rápido que se integra a música
tocada. A dança produz som, o violão
cede o protagonismo, acompanha quase mudo. Logo o corpo se lança a novos movimentos
de braços, mãos, tronco, cabeça. Precisos, os pés marcam o compasso fazendo ritmo junto ao canto. A
energia dos bailarinos transparece em seus olhos, rostos, postura.
Iniciam uma
coreografia de solea, dança das mulheres que perdem seus filhos,
choram e exorcizam a dor com o corpo. Passos de revolta ao mesmo tempo de uma busca
possível de compreensão da tragédia. A narrativa toma os corpos em silêncio. Respiração
suspensa.
A turma da dança, amigos e famílias tornam-se
uma tribo em torno da fogueira, sob o céu de lua cheia. Como sempre se fez.
(Cynthia
Magluta)
domingo, 9 de dezembro de 2012
poema curto em linha reta ou ainda poema salsicha
gosto da língua ácida
tocando notas
em tua xota
mais do xaxado
que do xote
mais o xaxar da xoxota
no tapete das etiquetas
(oswaldo martins)
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
O CASTIGO - Conto de Cesar Cardoso com prefácio de Ronaldo Correia de brito
Eu não devo conversar com a minha colega do lado durante a
aula.
Eu não devo perguntar como foi o fim de semana da minha
colega do lado durante a aula.
Eu não devo morrer de vergonha e confessar que passei a
tarde de sábado deitado na cama pensando na minha colega do lado durante a aula.
Eu não devo escrever meu nome no caderno da minha colega
do lado nem deixar o coração disparar quando ela me olhar com seus olhos
verdes, virar para a frente e tornar a me olhar durante a aula.
Eu não devo abaixar os olhos nem sentir uma quentura se
espalhando pelo rosto nem desejar pousar a cabeça nas coxas da minha colega do
lado nem pegar a borracha na outra mesa só para roçar os dedos bem de leve,
quase sem tocar, nos pêlos lisinhos do braço dela durante a aula.
Eu não devo devolver a borracha, emprestar a caneta de
três cores - azul, vermelha e preta, olha só! -, deixar cair tudo e, enquanto
cato sem jeito, segurar os braços da minha colega do lado e puxá-los mesmo sem
muita força, porque ela nem resistiu e veio para o meu lado com tanto impulso
que nós quase caímos das cadeiras e deu uma vontade de rir danada durante a
aula.
Eu não devo pedir à professora para ir ao banheiro, ouvir
ela dizer que a minha colega do lado já foi e eu sei muito bem que só vai um
aluno de cada vez, não adianta insistir que estou apertado, que ela foi no
banheiro das meninas e eu vou no meu, porque a professora já está berrando que
eu sou metido a engraçadinho mas ela não está achando graça nenhuma e eu devia
era ficar calado durante a aula.
Eu não devo fazer um bilhete para a minha colega do lado
nem ficar com a mão tremendo tanto que mal consigo escrever e não saber mais se
faço ou não faço o bilhete, acabar fazendo assim mesmo, todo tremido, de um
jeito que ninguém vai conseguir ler o que está escrito, muito menos ela, que
até usa óculos, uns óculos que fazem ela ficar mais bonita ainda quando franze
os olhos verdes e tenta ler o que eu escrevi durante a aula.
Eu não devo arrancar o bilhete das mãos dela, me abaixar
na carteira e dizer que não adianta ela fazer cosquinha porque eu não vou dizer
o que está escrito ali, ela não vai saber nunca, não conto, pode desistir, nem
adianta puxar meus braços, apertar minha mão, minhas bochechas, e quer saber o
que eu vou fazer?, vou fechar os olhos e encostar de leve meus lábios e minha
língua nos lábios e na língua da minha
colega do lado durante a aula.
Eu não devo me assustar com o grito da minha colega do
lado nem com a professora berrando de novo comigo que dessa vez eu passei dos
limites, nem dizer que eu não passei limite nenhum, professora, nós estávamos
só conversando e eu não entendo porque a minha colega do lado começa a chorar e
a dizer que eu vivo implicando, perturbando, fazendo bilhetinhos e que ela só
gritou porque eu a beijei à força, à força, professora!, e eu nem devo quase
começar a chorar também e jurar que não beijei ninguém, é mentira, enquanto a
professora vem até aqui, me pega pelo braço e me leva pra fora de sala junto
com o bilhete que eu fiz para a minha colega do lado durante a aula.
Eu não devo
tornar a sentir uma quentura se espalhando pelo rosto, só que dessa vez de
tanta raiva da minha colega do lado, nem chamar o Beto, o Doda e o Codorna e
combinar com eles para me esperarem lá detrás das três mangueiras no final do
recreio, nem pedir desculpas para a minha colega do lado, que não quer
conversa, então eu abaixo a cabeça, me desculpo novamente, ofereço um pedaço do
meu lanche pra ela, que sorri, dá uma mordida no sanduíche de pão com mortadela
e nós saímos conversando lá para os lados das três mangueiras, onde o Beto, o
Doda e o Codorna aparecem e nós agarramos a minha colega do lado, tapamos sua
boca enquanto ela se debate, eu acendo um cigarro, sopro a brasa, encosto bem
pertinho daquele olho verde e falso e ela fica quietinha, enquanto nós
levantamos a sua saia, tiramos a sua calcinha, deitamos ela no chão de terra,
eu abaixo a calça e a cueca, me deito por cima dela, desajeitado, vou tentando
cada vez com mais força, mais força, e conto que sempre sonhei que minha
primeira vez seria com ela e sinto que o meu pau por fim entra naquela carne
macia e gozo dentro da minha colega do lado e digo que ela não deve contar nada
para ninguém durante a aula.
Cesar Cardoso
Apresentação
Ronaldo Correia de Brito
Há alguma vantagem em se narrar na primeira
pessoa? Talvez. Uma delas é que a história parece ter sido escrita por alguém
que não o próprio autor. Quando usamos a terceira pessoa, nos tornamos os
únicos responsáveis pelo estilo, acertos e erros da história narrada.
Cesar Cardoso, de larga experiência, certamente
não pensou nessa questão quando decidiu escrever os vinte e cinco contos de As
primeiras pessoas. Se a escolha aconteceu ao acaso, foi seu primeiro
acerto. Cada conto é uma voz narrativa diferente, tornando o livro uma
polifonia vocal, que o leitor escuta enquanto lê.
Alguns esperam dos livros de contos que possuam
uma atmosfera única, um mesmo diapasão narrativo da primeira à última página.
Não esperem isso de As primeiras pessoas. Cesar Cardoso surpreende a cada história
que narra, ou melhor dizendo, que os personagens narram por ele.
Em “Déjeuner Du Matin”, a voz que se escuta é
delicada, reminiscente, com um assumido sotaque carioca. Bem diferente da voz aliciante,
dissimulada e perversa de “Chororô”. Em “Eles”, a primeira pessoa narradora
esbanja metáforas como ‘pude ver a lua bebendo água na vasilha do cachorro’ ou
‘socava as tristezas com muito alho e noz moscada’. É uma primeira pessoa
feminina, com gosto pelo tom estranho, quase sobrenatural. Bem diferente de
“Ladies First!”, em que a voz assume o deboche e a ironia, faz muitas perguntas
e fala de cinema e televisão.
Ninguém neste livro sentirá o embalo da
atmosfera única. Cesar Cardoso inventa modos narrativos, faz experiências como
em “Bem unidos façamos”, uma sucessão de cartas engraçadas e ricas em citações,
pois se trata de um autor que transita pelas várias formas da arte, mas que
também é capaz de escrever com o ritmo fortemente marcado pela linguagem oral e
pela música popular. Em todos os contos Cesar Cardoso imprime sua marca de
narrador experiente, seguro do que é escrever bem.
O mais curioso nesse livro instigante é ler que
ele foi dedicado aos netos. Com tantos experimentos e ousadias, eu o imaginava
escrito por alguém bem jovem. Salve a juventude desse jovem senhor!
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Décio Pignatari
"Décio era um extraordinário
poeta e pensador.
O maior poeta-inventor da minha
geração, e um dos maiores da literatura de língua portuguesa de todos os tempos.
Radical adversário da “geléia geral”, nunca recebeu prêmio algum por seu
trabalho.
Incomodava universidades e
academias.
Apesar de amplamente reconhecido
como um dos fundadores da poesia concreta, era muito mais do que isso e morre —
Oswald da minha geração — incompreendido e injustiçado como este.
Não me convence o pós-blablablá
de inimigos e pós-amigos de última hora que sempre hostilizaram a poesia de
ponta e agora põem a cabeça de fora. Lembro do que Maiakóvski escreveu sobre
Khliébnikov.
Onde estava essa gente enquanto
ele vivia?
O Brasil das sobras nem imagina o
que perdeu.
O filtro do tempo vai
ensinar."
Augusto de Campos, 2.12.2012
Textos revolucionários do paulista continuam a luzir entre os novos
LUIZ COSTA LIMA
Mesmo quando não é repentina, a
morte é sempre inesperada. Porque acreditamos que a morte é exclusividade dos
outros, temos por certo que os amigos não morrem. Sou por isso surpreendido
neste fim de tarde de um domingo abafado com a notícia da morte de Décio
Pignatari.
Havia quanto tempo que não o via?
Apenas de vez em quando tinha notícias suas, que confirmavam continuar o
irreverente que sempre foi.
Corro à estante à procura do
poema crítico-visual que marcou minha adolescência. Tenho a sorte de encontrar
com rapidez sua coletânea "Poesia pois É Poesia". Não sei se será
possível reproduzi-la. Se o for, tanto melhor.
Na dúvida, desdobro-a à minha
frente. Reproduz-se a nota de um dólar e, em lugar de o centro ser ocupado por
uma figura respeitável da história norte-americana, expõe-se a gravura de
Cristo com sua coroa de espinhos.
No verso da nota, aparece o mais
inesperado: em vez do nome "Cristo", tinha-se o cifrão de nossa
moeda, Cr, seguido pelo cifrão do dólar, com o "S" atravessado por
uma barra e, a seguir, "isto".
O nome próprio tornava-se o
símbolo de nossa dependência, tornada mais explícita e mais ampliada pela
complementação da frase "é a solução". O Cristo atualizado é um
Cristo de cifrões.
Não serei desonesto comigo mesmo
se disser que a solução crítico-poemática foi uma das minhas primeiras e mais
fortes amarras para minhas opções, tanto a política como a profissional.
Como a política? Não é preciso
esforço para esclarecer: é suficiente saber que fui o benjamim dos aposentados
pelo AI-1, de outubro de 1964.
Como a profissional? Aí sim, será
preciso esclarecer: a montagem parodística de Décio foi um dos meios pelos
quais soube que não queria empregar minha vida senão em conhecer e sempre mais
estudar a poesia.
Imediatamente, à montagem referida
aparecia a indicação "stèle pour vivre nº 4", trazendo abaixo
"mallarmé vietcong". Seguiam-se as combinações entre texto e imagem
-não esqueçamos que Décio foi um dos principais propagadores da semiologia
entre nós- que não posso reproduzir.
Delas apenas direi que
constituíam uma semiologia que o tempo acabou por desgastar. Acreditávamos que
o mundo podia ter outra face e que ela seria modelada pela poesia
revolucionária de Mallarmé e pela guerrilha, no caso a asiática.
O tempo se encarregou de mostrar
nosso engano e ainda nos concedeu que sobrevivêssemos. Mas, se o vietcong
desapareceu, os poetas revolucionários continuaram a luzir entre os novos.
Mas como novos então e agora?!
Será ilusório então dizer que ser novo não se confunde com uma etapa biológica?
Ao menos, quando o novo se converte em algo, por exemplo em texto, deixa de ser
uma exclusividade do biológico. Não é precisamente isso que nos faz pensar no
verso do próprio Décio, por mais que fosse parte de um poema intitulado
"Epitáfio"?
"Lento e fundo é o ar de
tuas tardes nos teus poros".
LUIZ COSTA LIMA é crítico
literário e professor emérito da PUC-Rio
Folha de S.Paulo, 4.12.2012
sábado, 1 de dezembro de 2012
antiode para certos barbosas
para
o andré capilé, que me deu o mote para o barbosa goleiro herói
há barbosas e barbosas
uns moram num bairro
longe
roubam bolinhos nas
marmitas
porque sentem fome
e se transformam em
intérpretes
bem humorados dos
cafofos das malocas dos trens das onze
e se chamam rubinatos
uns abelardos
jogam bacalhaus e circo
inventam o trono
popular dos destronados
os cantores mascarados
e os abacaxis
e ai fruita boa
no rebolado das
chacretes
uns logo ali
no dessacralizado
maracanã calam multidões
mas reinventam o caneco
de ouro
e o expresso da vitória
dos crioulos vascaínos
chamam-se moacir estes
barbosas
que reclusos evocam por
si mesmos o estigma
das injustiças
que o populacho
midiático grita
que o penacho dos
capachos vibra no ar
e os minervais, e os
indiciais, e as vestais, e as togais
pessoas
como se a pátria fosse
deles
como se a pária dos
rapaces rapinantes
nada com eles houvesse
na compra de votos reeleitivos
no chicote que estala
nas costas dos mortos-vivos
que trabalham e suam
como antes suavam os
escravos
mas há outros barbosas,
mais venais
como um que se chamou
ruína
e queimou os apêndices
da escravidão para mantê-la
nos homens livres
e pousou de águia
quando era um pombo correio
das assombrações
governamentais que medravam
nas lavouras de café,
nas lavouras com que o lavoura
incitava a
implementação do capitalismo de coronéis
e tome suruba, palavras
difíceis e dosimetrias
como data vênia e jogo
para os jornais minervais
e revista vejas e
tome suruba, posturas
imperiais e aiaiais
das iaiás e dos ioiôs
e tome
suruba
esses ruis vão a haia
vão à praia
vão à baia
vão à laia
dos ruis redivivos
e fecham a cara
e abrem as arcas
as sacas do neo
latifúndio nacional
são doutores que
doutoram
são auditores que
auditoram
são ores que oram
por um deus mais
nefasto
que os deuses dos
basbaques
por um deus mais
infausto
que os deuses de fausto
ou como lembra marx
sobre o ópio do povo
esses que oram pelos
deuses de ouro
rezam contra
a memória dos escravos
rezam contra
como rezaram contra getúlio
como rezaram contra o
luí de gonzaga
e contra a memória dos
governos populares
(Oswaldo Martins)
três poemas amorosos sobre a nudez
poema para moça na praia nua
o mar sentou-se em seu colo
os pelos embebidos
na água oxigenada
eram uma dádiva
do corpo escuro ao sol
como uma concha nua
os deuses de areia
fizeram escorrer água
sobre o dorso escuro
de sua pele luz
(Oswaldo Martins)
poema para a moça no sofá nua
sob a casa nua
no sofá
declara a luz
o ápice da sala
escura
(Oswaldo Martins)
poema para moça dormindo nua
despistam ali cediços movimentos
o movimento e a pausa
depois o recomeço
o tempo aguça-se pele
ao som do cravo
ao somo do Jimi
em linha curva o braço
recobre o rosto
faz levitarem os peitos
(Oswaldo Martins)
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Poema galhofeiro 3 e 4
Poema galhofeiro 3
por fim, o ladyslaw conseguiu levar a irmã ao dentista
por fim, o ladyslaw conseguiu levar a irmã ao dentista
vamos
brincar de cabra-cega?
só
não me iludas como fazias como quando éramos pequenos.
sem
nada ver, sem nada sentir, por causa da anestesia, a irmã do ladyslaw voltou a
sorrir.
embora
parva, a irmã do ladyslaw era de uma beleza estonteante
era
mesmo uma rapariga por aí afora
se
bela por que parva?
se
parva por que bela?
perguntava-se
o ladyslaw.*
ao
menos posso entrar com ela de braço dado no salão
eu
sou bonito e ela é bela
consolava-se
o ladyslaw.
*imitando
Brás Cuba
Poema
galhofeiro 4
ao modo de Dalton Trevisan
o
ladyslaw andava mesmo feliz
se
antes escondia-se da irmã
andava
agora a exibi-la
estaremos
lá no baile de sábado
diziam
os dois ao mesmo tempo
mas
lá pelo meio da semana
surpreendeu-o
um sapinho no canto direito da boca
não
posso não posso não posso ir ao baile
gritava
o ladyslaw para uma irmã espantada e que nada compreendia
elesbão
20/11/12
No Recife
Palestra no Recife
Em 23 de novembro, 2012
Luiz Costa Lima
Entendo que o convite para
participar desta comemoração seria dirigido antes a Paulo Freire do que a mim.
Assim o digo porquanto a revista Estudos universitários, junto com a Rádio da
Universidade, foram fundadas em conexão com o Serviço de extensão cultural,
dirigido por aquele saudoso amigo. Ou, reconhecendo a generosidade dos
responsáveis pelo convite, que ele seria extensivo a José Laurênio de Mello,
aos muitos que colaboravam com a revista, com a Rádio Universitária e com o
SEC. A “indesejada das gentes”, contudo, se antecipou, levou aqueles amigos e
apenas a mim poupou.
No momento em que recebi o
convite, não apenas, agradecido, o aceitei, como acrescentava que não faria uma
evocação dos anos em que Paulo, Laurênio, Orlando da Costa Ferreira, Gastão de
Holanda, Sebastião Uchoa Leite, os outros muitos colaboradores e eu trabalhamos
em um projeto que hoje eu reconheço como era utópico; que não faria tal
evocação se não estivesse seguro que aqueles amigos concordariam ser preferível
dedicar o pouco tempo de que disponho a uma reflexão sobre os dias de agora.
Mas, se uma reflexão pretende ser eficaz, deve deixar claro sobre que incide.
Por isso acrescento: procurarei pensar sobre os rumos do pensamento
sócio-filosófico contemporâneo.
Começo por diferençá-lo do tempo
que aqui se evoca. Nos anos imediatamente anteriores ao golpe de 1964, o mundo
vivia na alternativa de dois sistemas sociais: o capitalismo e o socialismo
marxista. Alguém poderá com razão contestar que a alternativa há algumas
décadas já não existia, pois o stalinismo convertera o projeto socialista em
uma das modalidades do totalitarismo que se espalhava pela Europa. Mas esta não
era a perspectiva que então tínhamos. Em troca, hoje ninguém duvidará que o
mundo vive sob um capitalismo globalizado. É dentro deste que então se dispõem
as duas concepções epistemológicas que irei brevemente assinalar e ainda mais
brevemente analisar. Elas ancoram, respectivamente, nos princípios do sujeito
autocentrado, e da linguagem, i.e., do que nela textualmente se produz.
A primeira coincide com a
abertura dos tempos modernos e encontrou seu lema na frase emblemática de
Descartes: cogito ergo sum. Sobre
ela, legitimou-se o primado da ciência, sendo justificada pela alegação de que
assim o humanismo se realizava.
Embora o primado do sujeito
autocentrado ainda encontre um grande propugnador na figura contemporânea de
Edmund Husserl (1859-1938), a partir das últimas décadas do século XIX, essa
concepção passou a se identificar com o pensamento conservador; como tal,
temeroso das inovações. Prova sumária do que dizemos: na década de 1970, entre
nós, quando uma mente conservadora se manifestava contra as tendências mais
recentes, sem, por isso, querer se mostrar partidária da ditadura sob que
vivíamos, recorria à defesa do humanismo, que estaria sendo traído pelo que se
chamava de “razão analítica”.
A partir do fim da 2ª Grande
Guerra, o mal-estar criado por tal tradicionalismo favoreceu a rápida
propagação da linha contrária. Enfrentando o realce do cogito, levantava-se o
primado da linguagem. Por economia de tempo, limito-me a chamar a atenção para
um enunciado de Michel Foucault: “O ser da linguagem não aparece por si mesmo
senão que no desaparecimento do sujeito”. A frase se encontra em um ensaio
publicado em 1966, intitulado “La Pensée de dehors”, em que o “de fora”
acentuava o que se dava e cumpria fora da interioridade do sujeito.
Ora, assim como a primazia do
cogito servia de respaldo para um pensamento conservador, o primado da
linguagem era o lema de um pensamento que se queria transformador. Por isso,
deve-se associar à concepção do “pensamento de fora” aquele que, no mundo
anglo-saxão, se tornou conhecido como o linguistic turn, difundido a partir do
Metahistory (1973), de Hayden White. Embora as duas concepções fossem
radicalemnte distintas, ambas foram fortalecidas pela propagação da
hermenêutica de fundo heideggeriano, que, formulada desde 1927, se expandiu
pelo Ocidente, sobretudo depois do fim da Grande Guerra.
É verdade que, desde as últimas
décadas do século XX, passou a ser cada vez mais compreendido que a pretensão
transformadora que se fundava no primado da linguagem era contraditada por sua
neutralização do sujeito, entendido como mero mensageiro de projetos e
propostas determinados pelas estruturas sociais. Por isso o chamado
desconstrucionismo, que englobava tanto os seguidores de Heidegger, como os
então chamados pós-estruturalistas, passou a se desgastar, precisamente no
ambiente em que mais havia prosperado: o das grandes universidades norte-americanas.
Na impossibilidade de acompanhar
as mudanças então introduzidas, apenas aludamos muito brevemente ao modo como
nos situamos. Não se trata, penso eu, de retornar ao velho cogito cartesiano,
mas de reelaborá-lo de fio a pavio. Como assim? Desde logo, pela afirmação de
que o ato de cogitar não se confunde com a fundação de um pensamento. E essa
fundação, enquanto individual, muito menos é bastante para adquirir a força de
expansão de um sistema irradiante, como foram os baseados nos princípios do sujeito
autocentrado e da linguagem.
Uma imagem nos ajuda a transmitir
mais rapidamente o que pretendemos dizer. A formulação de um pensamento
enquanto individual constitui um sistema que pode conter uma enorme força
interna de explicação. Mas, enquanto permaneça individual, essa força não é
bastante para abalar um modo de pensar estabelecido. Enquanto permaneça
individual, um pensamento, ainda que poderoso, é comparável a uma chispa que,
ao disparar, atingisse um solo úmido ou encharcado. A chispa precisará encontrar
um chão coberto de folhas secas que, alcançado, provoque uma explosão
transformadora. Isso equivale a dizer o cogito tornou-se a explosão de que
derivaram os tempos modernos menos pela força que o sistema cartesiano por si
mesmo lhe concedia, senão porque encontrava um chão propício, não mais
encharcado pela umidade teológica que até então o impedira. Do mesmo modo,
podemos dizer a ele viria a se contrapor a afirmação da linguagem porque o
sujeito do paradigma contrário era considerado como uno e integral. E porque o
sujeito era considerado uno, tornava-se fácil identificá-lo com a ideia de Ser
e contrapor esta ideia de Ser à ideia de existência (Dasein). É precisamente
isso que fará Heidegger em sua obra de 1927, Ser e tempo, que, extremamente influente
no pós 2ª Grande Guerra, servirá de respaldo a formulações como a lembrada há
pouco de Foucault.
A proposta com que iniciaria a
contraposição aos paradigmas antagônicos consiste em afirmar que a base do
pensamento humano é um sujeito não uno, mas, ao contrário, internamente
divergente, contraditório, fraturado, não no sentido negativo do termo, mas no
positivo de internamente dissonante e desarmônico. A desarmonia do sujeito
humano se manifesta pela discordância que se manifesta, em uma mesma faixa temporal,
em suas atuações nas frentes ética, familiar, professional, política, estética,
religiosa, etc.
Como não haveria tempo para
explicar o que apenas levemente exponho, pergunto-me por fim: que condições de
propagar-se tem a chispa do sujeito internamente desarmônico? A resposta
simples seria: à medida que formulada aqui, em um país ainda intelectualmente
colonizado, sua possibilidade de propagação é nenhuma. Ou, noutra formulação:
pensar que mais do que uns poucos poderiam levá-la a sério seria mais utópico
que o projeto que agora se comemora. Por que assim senão em virtude de que
nosso próprio chão é encharcado, incapaz de expandir as pequenas chispas que o
atinjam. Por que encharcado? Porque para nossas elites políticas a única coisa
que parece interessar ao desenvolvimento do país são as condições
tecno-econômicas. Em troca, o que aqui expomos seria por elas considerado um
tema de “cultura”, termo que, para nossas elites políticas, é apropriado para
algo insignificante como os discursos de batizado, de formatura ou de
casamento. Prova rápida do que se afirma: enquanto, segundo os economistas,
estamos hoje entre as grandes economias do mundo, nosso sistema escolar, aí
incluindo a universidade, se degrada de modo assustador.
Por fim, pensando em termos do
que, nos primeiros anos da década de 1960, preocupava Paulo Freire: enquanto
para ele o combate contra o analfabetismo dominante no país merecia o
sacrifício da prisão, do exílio, do ostracismo, hoje o problema assume outro
ângulo: talvez nenhum sacrifício seja agora suficiente para ir de encontro à
nova face do país. Que nova face? A de um lugar em que à diminuição do
analfabetismo corresponde o aumento de algo de que é pouco polido falar-se: o
aumento dos analfabetos alfabetizados. Para esses, nada mais importa senão o
preço do dólar, a balança de pagamentos, o aumento das exportações, a
valorização das ações na bolsa. Daí, por exemplo, o descaso com que tem sido
tratada a questão da população indígena dos Guarani-Kaiowá, expulsa das terras
em que ela, há séculos, tinha seu modo de vida estabelecido, por força do
agrobusiness mato-grossenses ou a expropriação das terras ribeirinhas de outra
população indígena, para que aí se instale uma hidroelétrica. Deste modo, como
disse em entrevista recente o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, o Brasil
tem perdido a oportunidade de mostrar ao mundo outro modo de lidar com a
diversidade dos povos e suas culturas, de não confundir progresso com a
destruição de povos não poderosos.
Em suma, para o que foi aqui dito
não seja absolutamente inútil, gostaria de solicitar às autoridades presentes
que, na medida de suas forças, alertem aos que nos dirigem que a miséria de
nosso sistema educacional terminará por tornar ilusório o crescimento apenas
tecno-econômico que tanto os preocupa. Mas essa solicitação não continua a
manter a utopia com que me referi ao projeto que Paulo dirigira?
sábado, 24 de novembro de 2012
Friagem
quando eu voltar
do terremoto quero
que meu queixo trema
de frio no teu colo
enquanto isso
Penélope
não canse a ansiedade
e a pressa
do balanço de tuas pernas
cruzadas sob as cadeiras
(Luiz Coelho)
do terremoto quero
que meu queixo trema
de frio no teu colo
enquanto isso
Penélope
não canse a ansiedade
e a pressa
do balanço de tuas pernas
cruzadas sob as cadeiras
(Luiz Coelho)
Pilulinha 24
Em Agulhas Descartáveis, livro de Luiz Coelho, editado
pela Oito e meio, encontram-se algumas boas soluções para a formulação do
poético, outras nem tanto. Parece-me, ao
contrário do que o prefácio diz, um livro irregular e de certa forma imaturo; o
que não significa dizer que seja um livro ruim.
A poesia contemporânea
parece ter pressa, os poetas querem se ver logo publicados, com ironia,
poder-se-ia dizer que se acham todos um Rimbaud; mesmo antes de afiarem a faca
da linguagem, tornarem-na plena, preferem as aspas das tesoura que revelam não
a lâmina afiada da lâmina cabralina, mas a possibilidade de mascar. Ou mesmo,
antes de alucinarem a linguagem nas
experiências das poéticas alheias, preferem a alucinação mais fácil do verso
forçado, porque ligada diretamente à
vida – se posso repetir a ironia – acham-se todos um Whitman. Não sei se seria
o caso de guardarem sua produção, de fazerem cortes, de evitarem algumas
facilidades como a que o poeta comete no verso “por espremidas, meio que mal
exprimidas” . Lembro-me ao ler os versos
acima de comentário feito por – se não me engano – Mário de Andrade, quando
saúda o aparecimento de Vinícius de Moraes, poeta novo – que publica pela
primeira vez perto dos dezoito anos – e critica o verso francamente ruim do “que
passa e fica, que pacifica”.
Embora seja
feita essa ressalva, há poemas de força marcante, como a série de hai-kais e
friagem. Este poema é, a meu ver, uma das sínteses mais curiosa e bela do que a
literatura de viagem vem produzindo ao longo de toda a tradição poética
ocidental – sem que queira abarcar a completude do mundo, como intentaram diversos
poetas. A síntese buscada confronta os grandes esquemas interpretativos do
mundo e delineia um gostosíssimo tom menor nesta viagem à intimidade sugerida.
Friagem possui dois quartetos que são ligados por um
elemento de passagem representado por um dístico, revelador – na linguagem – dos
sentidos que transformam a narratividade numa intimidade lírica. O comentário
extrapola a grandiosidade do épico com que se inicia o poema na narratividade anunciada
do “quando eu voltar” e ao usar
habilmente a cena contígua “enquanto isso” de sabor rotineiro anuncia um
vocativo, Penélope, que transtornará a
receptividade insinuado do narrativo mergulhando o poema nas forças da lírica,
indicada pela presença de um imperativo que joga a cena poética no só no tecido
lírico mas na intimidade que volta anuncia.
Quando a poesia
atinge um grau de expressividade tão elevada, deveria o poeta ater-se a ela e
com ela descobrir os caminhos que sua construção exige e de que a poesia de
nossa época anda carecendo.
(Oswaldo Martins)
terça-feira, 20 de novembro de 2012
poema galhofeiro 2
poema galhofeiro 2*
estava o ladyslaw a dançar com uma mulata muito bem jeitosa
dançavam um tango
eram pernas pra cima pernas pra baixo pernas e coxas entrelaçadas
quadris retorcidos e dobrados
beijos que não foram dados
bofetadas fingidas
no aconchego do bolero
o ladyslaw arriscou
quero tanto conhecer a Bahia
eu também
então você não é baiana?
não
não vá me dizer que você é portuguesa
com esse seu sotaque...
sou do sul
os portugueses que andaram lá por cima
também andaram pelo sul.
elesbão
17/11/12
estava o ladyslaw a dançar com uma mulata muito bem jeitosa
dançavam um tango
eram pernas pra cima pernas pra baixo pernas e coxas entrelaçadas
quadris retorcidos e dobrados
beijos que não foram dados
bofetadas fingidas
no aconchego do bolero
o ladyslaw arriscou
quero tanto conhecer a Bahia
eu também
então você não é baiana?
não
não vá me dizer que você é portuguesa
com esse seu sotaque...
sou do sul
os portugueses que andaram lá por cima
também andaram pelo sul.
elesbão
17/11/12
Poema galhofeiro
poema galhofeiro
o ladyslaw não era um príncipe
mas era tão bem apanhado como se fosse
o ladyslaw não era um príncipe
mas era tão refinado como se fosse
sabia fazer a corte às damas do clube que frequentava
e eram poucas as que não se deixavam levar pela sua lábia
mas o ladyslaw tinha uma irmã
tão bela e tão refinada quanto ele
não tinha a mesma sorte do irmão
por ter um dente cariado de que não cuidava
(tinha medo do alicate do dentista)
cheirava mal
a irmã do ladyslaw tinha uma inveja desnecessária dele
bastava ir ao dentista
mas entre ir ao dentista e aporrinhar o irmão
a irmã do ladyslaw preferia aborrecer o ladyslaw
ciente de que ladyslaw não queria que ela o acompanhasse
(e com razão)
a irmã lhe perguntava: quando há baile?
não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!
elesbão
17/11/12
o ladyslaw não era um príncipe
mas era tão bem apanhado como se fosse
o ladyslaw não era um príncipe
mas era tão refinado como se fosse
sabia fazer a corte às damas do clube que frequentava
e eram poucas as que não se deixavam levar pela sua lábia
mas o ladyslaw tinha uma irmã
tão bela e tão refinada quanto ele
não tinha a mesma sorte do irmão
por ter um dente cariado de que não cuidava
(tinha medo do alicate do dentista)
cheirava mal
a irmã do ladyslaw tinha uma inveja desnecessária dele
bastava ir ao dentista
mas entre ir ao dentista e aporrinhar o irmão
a irmã do ladyslaw preferia aborrecer o ladyslaw
ciente de que ladyslaw não queria que ela o acompanhasse
(e com razão)
a irmã lhe perguntava: quando há baile?
não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!
elesbão
17/11/12
A poesia de Dora Ribeiro
A poética de Dora é uma poética que se destaca no
atual panorama da poesia brasileira. Tem a contenção de um João Cabral, sem que
com ele divida as preocupações do fazer poético, isto é, embora seja
fronteiriça ao grande poeta, sua poesia adquire voz própria desde muito cedo. A contenção se alia a certa voltagem de
emoções que transbordam e voltam à contenção e criam um estilo paradoxal em que
o íntimo transborda para ser aplainado pelo pensamento que se desliga do íntimo
e atinge o universal. Por isso sua poesia diz tanto, permite ao leitor
vislumbrar as raízes de onde partem, mas ao mesmo tempo desligam o leitor
destas raízes, fazendo com que ele, leitor, se abra para o pensamento em
espiral – uma espiral contida – um labirinto que é e não é ao mesmo tempo o
labirinto de Creta – e ali encontre apenas o encontrável da poesia – ou seja –
ela mesma.
A poesia de Dora é um pouco o sonho de ser da poesia.
Uma poesia que dá a ver o mundo como poesia e, intransigente com esse mundo,
constrói artefatos que são a razão mesma da vida transgredida até a poesia. Nela
se acha o leitor e é colhido pelo que há de mais importante no fazer-se potência
deste paradoxo que puxa de uma ponta a outra os entraves que a vida e a poesia
nos propõem. Certa feita Luiz Costa Lima sobre a poesia de Dora a define como
uma poesia para o pensamento.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
O escritor Luiz Costa Lima lança seu primeiro livro de Ficção: Me Chamo Lully – Uma curiosa autobiografia de uma cachorrinha
Lançamento na Livraria Argumento, no Leblon, no dia 5 de dezembro, às 19h
Ilustrações de João Paulo Andrade
Bruno Negri, pseudônimo do escritor Luiz Costa Lima, lança no dia 5 de dezembro, a partir das 19h, na Livraria Argumento, no Leblon, o livro Me Chamo Lully, pela editora Bookmakers. O livro é uma divertida autobiografia de uma cadelinha shitzu, que une a narrativa, ao mesmo tempo fluida e pensante de Luiz Costa Lima, às belas ilustrações do artista João Paulo Andrade.
O resultado é uma obra surpreendente, que narra várias aventuras da cachorrinha, desde sua chegada à casa da família que se tornará sua, passando por suas desventuras amorosas, um rápido sequestro, seu espanto com a gravidez e a alegria de se descobrir cercada por filhotes. Longe de ser apenas mais um “livro bonitinho com uma história de cães", este livro traz uma visão bem-humorada dos humanos e de seus hábitos por meio do constante estranhamento de Lully com as diferenças entre seu "auês", linguagem que uma engenhoca ficcional traduz para a tela do computador, e a linguagem dos humanos.
O autor e a editora convidam todas as pessoas e também seus cães para participarem do lançamento do livro. A própria Lully estará presente “autografando” e participando do coquetel para caninos e não-caninos.
Luiz Costa Lima é um dos maiores críticos literários do país. Possui uma vasta produção acadêmica, com traduções para o inglês e o alemão, bem como quase cinco décadas dedicadas ao magistério, dentro e fora do Brasil. É autor de mais de 20 títulos. Me Chamo Lully é seu primeiro texto de ficção.
O Livro
Este é o começo da surpreendente autobiografia de uma cadelinha shitzu, chamada Me Chamo Lully. Nela, Lully conta como chegou à casa em que se encontra, seu amor desesperado por um cão que a despreza, o sequestro que sofre em Búzios, sua única gravidez de vários filhotes, de que apenas um ficou com ela para ser seu companheiro. Mas, sobretudo, Lully conta sem malícia, mas também sem falsos angelismos, como percebe os humanos que convivem com ela. Na verdade, e talvez seja isso que mais importa no livro que está sendo lançado, trata-se da visão de uma família humana, de tamanho e hábitos medianos, semelhante em seus humores a tantas outras, pelos olhos de uma cadelinha shitzu. Imersos neste universo canino, é na distância entre a percepção de Lully e a visão dos humanos que o livro cria um espaço ficcional ao mesmo tempo mágico e reflexivo.
Autor: Bruno Negri
Editora: Bookmakers
Serviço
Lançamento do livro Me Chamo Lully – Editora Bookmakers
Local: Livraria Argumento – Rua Dias Ferreira, 417 - Leblon, Rio de Janeiro
Tel: (21) 2239-5294
Data: 5 de dezembro de 2012
Horário: a partir das 19h
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