sábado, 14 de junho de 2008

ALMANAQUE CAPIVAROL 2008

ESPELHO MEU

Aos domingos, gosto de passear nas Lojas Americanas. São tantas ofertas, tantos produtos, embalagens, prateleiras... E é tudo pra mim, pra mim.
Um dia ainda faço uma loucura e compro aquela manteigueira de inox. Como brilha a manteigueira de inox. Dá até pra ver o meu rosto nela.


FUTURO

Agora estou melhor. É um bom emprego e trabalhar com água é muito agradável. Primeiro eu tampo a pia, depois abro a torneira e deixo encher. Quando a pia está cheia, fecho a torneira, pego o conta-gotas e encho, fazendo a sucção. Daí é só sair da casa, atravessar a ruazinha de terra e já estou na praia. Vou até o mar e esvazio o conta-gotas. Depois volto e vou repetindo a operação até esvaziar a pia. Então é só encher de novo e recomeçar. Tem alguma coisa a ver com as marés, eu ainda não entendi muito bem, mas o importante é que eles estão satisfeitos com o meu trabalho.


DE VOLTA AO SÍTIO

A casa branca, de cômodos espaçosos, restou semi-abandonada. A menina largou a boneca num dos quartos e se masturbava toda noite com o sabugo de milho. Até descobrir que com o primo era muito mais divertido e engravidar dele. A velha empregada anda pelos cantos com muita dificuldade e com medo de tudo, contando as estripulias do menino que pita o dia inteiro um fumo que eu nunca que vi e que faz ele ficar com uns olhos vermelhos e rindo à toa que só pode ser coisa do demo, sabe sinhá? Mas a sinhá não sabe mais nada e apenas ri, olhando para aquela mulher que ela não faz a menor idéia de quem seja.


O MUNDO COM AS PERNAS

Abracei o mundo com as pernas. Apertei para que ficasse imóvel. Como ele ainda se debatia, com a mão direita cortei de leve sua garganta e rapidamente encostei o caco de vidro em seu olho. O mundo parou. Daí minha mão esquerda desvestiu-lhe as calças e, com concentração, cuidado e prazer, currei três vezes o mundo.


O TÁXI

Acordou, espreguiçou-se, levantou, fez a barba no banho, escovou os dentes, passou o perfume, vestiu o jeans com uma camisa de malha qualquer, calçou o tênis, pegou a pasta, botou os papéis na pasta, sentou para tomar café, abriu a pasta, tirou o revólver, matou a mulher, mordeu a torrada, foi ao quarto dos filhos, matou o caçula, foi ao banheiro, bateu na porta, aguardou, matou o mais velho, voltou para a sala, acabou de tomar o café, ligou a secretária eletrônica, pegou as chaves, bateu a porta, desceu pelo primeiro elevador, cumprimentou o porteiro, atravessou a rua, olhou para a esquina e se preocupou.
Não havia táxi no ponto.

4 comentários:

  1. Oswaldo!

    Minha primeira vez aqui. Certamente não será a última. Gostei muito dos textos.

    Grande abraço,

    *CC*

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  2. oswaldo, vim aqui através do cesar. e gostei. do cesar os 3 primeiros minicontos são os melhores. este cara é doido. :)
    bjs aos 2.

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  3. Adorei este " O mundo com as pernas". Sensacional.
    Forte abraço,
    Bianca.

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  4. Adorei seus contos Cesar!
    Você é um maluco belezinha!
    Beijos!
    Valéria

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